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D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 4. Enfermagem Obstétrica

A PARTICIPAÇÃO DO ACOMPANHANTE NO PROCESSO DE PARTURIÇÃO : A VISÃO DA PARTURIENTE

Luciane Amorim da Silva 1
Ana Marcia Spanó Nakano 2
(1. Graduanda da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - EERP/USP; 2. Livre Docente do Departamento Materno-Infantil e Saúde Pública da EERP/USP)
INTRODUÇÃO:

Este trabalho faz parte de um projeto maior sobre assistência humanizada no nascimento e parto. O desenvolvimento tecnológico alcançado na prática obstétrica teve uma inegável contribuição na melhoria da assistência à mulher no ciclo gravídico puerperal. Entretanto, o uso indiscriminado de tecnologia transformou o parto num evento que envolve riscos e imprevisibilidade, medicalizado e freqüentemente cirúrgico. A mulher perde a condição de agente ativo no processo.

O deslocamento do parto do ambiente doméstico para o hospital apresenta-se como garantia de segurança e redução de riscos o que por sua vez, afasta a família de participar do evento, caracterizando o contexto da parturição em frio e impessoal.

A institucionalização do parto subestima a capacidade da mulher em dar conta da situação ficando alheia a todo o processo que se desenvolve no seu próprio corpo. A pouca autonomia e a escassa participação da parturiente e da família, bem como a exposição a procedimentos invasivos a sua privacidade e a desconsideração dos hábitos, costumes e valores, podem causar desequilíbrio emocional, podendo inclusive proporcionar o desenvolvimento de intercorrências desfavoráveis para um parto saudável .

Como Graduanda, realizei estágio  em uma Maternidade que atende a clientela SUS (Sistema Único de Saúde) e que é adepta a filosofia da assistência humanizada no nascimento e parto. Observação não sistematizada tem nos conduzido a refletir sobre a efetividade destas ações, particularmente a relacionada a participação do acompanhante no parto, de modo que a mulher possa sentir-se mais segura e apoiada.

Em um estudo desenvolvido nesta mesma Maternidade sobre as ações educativas nos cursos de gestantes verificou-se que, a participação masculina é limitada por situações de horário de trabalho, impossibilitando-o de freqüentar os cursos, além de que, por critério, a escolha do acompanhante ideal e desejado deva ser da mulher. Entre as mulheres estudadas, há um desejo declarado de terem seus companheiros acompanhando-as no momento do parto. Nas observações realizadas durante a coleta de dados, os acompanhantes independente de ser ou não marido ou ter outro tipo de vínculo com a parturiente, estes eram recebidos pelos profissionais de saúde com uma certa indiferença, passavam desapercebidos e em raras situações os profissionais dirigiam-se aos acompanhantes para comunicar-se com eles.

Tais situações mostram-se dissonantes com o que se concebe por uma assistência humanizada, requerendo ajustes. Nesse sentido, acreditamos ser necessário, primeiramente, dar voz aos sujeitos envolvidos no processo de parturição.

Particularmente, neste estudo temos por objetivo: Compreender o significado da participação do acompanhante no processo de parturição, sob o olhar da parturiente.

Acreditamos que os resultados deste estudo trarão subsídios na elaboração de estratégias que viabilizem a efetiva prática do princípio de humanização, a começar pelas relações humanas.

 

METODOLOGIA:

 O presente estudo tem como proposta metodológica a abordagem qualitativa. Este foi desenvolvido em uma instituição filantrópica de Ribeirão Preto(Maternidade do complexo aeroporto- MATER ). A instituição é destinada exclusivamente ao atendimento da clientela S.U.S. Os sujeitos do estudo incluem as parturientes submetidas ao parto vaginal que tiveram um acompanhante ao seu lado. As informações foram coletadas através de entrevista semi estruturada e submetidas à análise de conteúdo do tipo temática.

RESULTADOS:

No presente estudo foram entrevistadas 27 mulheres que atendiam aos critérios pré-estabelecidos.Através dos resultados podemos depreender duas categorias: O significado da participação do acompanhante e Atuação do acompanhante. Os resultados mostraram que a escolha do acompanhante caracteriza-se por ser uma pessoa próxima, a participação feminina foi a predominante, por encerrar nos corpos femininos a sabedoria e experiência do já vivido, a participação masculina é marcada pela obrigatoriedade do pai estar presente neste momento. O acompanhante tem sua atuação limitada por falta de conhecimento, preparo e espaço para participar efetivamente. A parturiente reconhece a importância e o valor de ter alguém ao seu lado neste momento. O apoio emocional, que se traduz na fala de estar ao lado constitui-se no valor essencial da participação do acompanhante.

 

CONCLUSÕES:

Na visão da parturiente compreendemos que esta reconhece a importância e o valor de ter alguém ao seu lado neste momento e percebe a diferença na sua forma de pensar e agir frente a situações vivenciadas no processo de parturição.  A participação do acompanhante no processo de parturição é uma prática recomendada pelos adeptos a assistência humanizada, entretanto para implanta-la é preciso que o profissional desenvolva competências  para contemplar a integralidade que envolve o processo de nascimento e parto, o que envolve ter conhecimento, aptidões e atitudes apropriadas, sob bases multidiciplinares, além de assumir a postura de educador compartilhando saberes  e sendo sensível, valorizando a opinião e  os   valores de parturientes e acompanhantes.

 

 

Instituição de fomento: CNPq-Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: saúde da mulher ; parto ; humanização do parto.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006