IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura
CULTURA ASSOCIATIVA E FUTEBOL NO ASSOCIATIVISMO CIVIL DESPORTIVO EM BLUMENAU (1950-1970)
Cristina Ferreira 1
Allan Henrique Gomes 1
(1. Universidade Regional de Blumenau - FURB)
INTRODUÇÃO:
A partir de 1950, ano em que o Brasil perde a Copa do Mundo para o Uruguai no Maracanã, os rumos do futebol brasileiro se alteram substancialmente. Parte do fenômeno ocorre imediatamente em Blumenau, pois após esta data, a cidade assiste proliferar os clubes amadores de futebol localizados na periferia. O objetivo principal deste trabalho é compreender a Cultura Associativa empreendida pelos trabalhadores nos clubes de futebol de Blumenau, focando a análise acerca do associativismo civil no próprio ser humano que o integra, e não apenas na instituição propriamente dita e sua organização. Sob esta perspectiva, a concepção de cultura empregada aponta para um caráter polissêmico e diverso e, neste caso, tem inspiração na abordagem thompsoniana, que ressalta a ação decisiva da cultura como força mobilizadora da transformação histórica. A problemática em questão refere-se à análise da Cultura Associativa como um conjunto de propostas e práticas culturais dos trabalhadores, para desvendar conflitos e valores compartilhados em suas vidas no âmbito do associativismo desportivo. Deve-se ressaltar que esta pesquisa é parte integrante do projeto “Associativismo Civil em Blumenau: mudanças e tendências”, desenvolvido pelo Núcleo de Estudos, Pesquisas e Extensão em Movimentos Sociais – NEPEMOS/FURB.
METODOLOGIA:

Inicialmente procedeu-se à pesquisa documental dos Estatutos dos Clubes de Futebol de Blumenau (1951-1970), disponíveis no banco de dados dos Registros Civis do NEPEMOS. A partir do estudo sistemático dos Estatutos, ampliou-se a pesquisa documental para o arquivo histórico, sobretudo os jornais de fábrica e outros periódicos que possibilitaram o reconhecimento e a contextualização no que diz respeito à sociabilidade e a vida dos trabalhadores de Blumenau nos anos 50 e 60. Com o mapeamento dos clubes e dos possíveis integrantes, iniciaram-se os contatos na busca de depoimentos que pudessem dar vivacidade e agregar informações minuciosas sobre as relações, procedimentos e os contextos do futebol amador a partir da metade do século passado. Assim, através da história oral, foram entrevistados pelo menos oito integrantes dos clubes de futebol no período estudado. As fontes orais e narrativas de trabalhadores e membros dos clubes de futebol estudados foram decisivas para a concretização e análise dos dados documentais da presente pesquisa, pois as memórias evocadas pelos autênticos sujeitos da cultura associativa, devolvem aos mesmos sua história de vida através de suas próprias lembranças. Além do mais, a memória contribui para o pesquisador na medida em que revela aspectos do cotidiano, raramente mencionados em fontes escritas, favorecendo a analogia entre as fontes e enriquecendo o processo analítico.

RESULTADOS:

O trabalhador blumenauense nos anos 50 e 60 conhece o futebol pelo menos em três esferas, (1) o futebol profissional da Primeira Divisão da Liga Blumenaunse, (2) o futebol como uma atividade possível nas sociedades recreativas vinculadas as indústrias [têxteis] da cidade, e (3) o futebol dos clubes amadores nos bairros. A presença da indústria têxtil como grande interessada na organização do futebol, não foi uma realidade exclusiva em Blumenau. Não é sem motivos que no Brasil as fábricas objetivaram o futebol para os trabalhadores. Desde o seu surgimento o futebol carregou os interesses de integrar e promover uma prática recreativa saudável, atlética e socialmente. Entretanto, ao mesmo tempo em que o futebol foi promovido pelas elites, a sua magia escapou ao controle dos seus promotores e, tanto sua prática quanto sua organização, passaram às mãos dos trabalhadores. Entre as principais atividades dos clubes de bairro estavam os torneios de futebol aos domingos, organizados pelos próprios clubes. Os trabalhadores entrevistados afirmaram que havia o costume de relembrar dos lances e acontecimentos do jogo de domingo ainda na segunda e terça-feira seguintes. Da quarta-feira em diante, logo começavam os preparativos para a próxima partida no final de semana. Os torneios de domingo eram significativamente diferentes dos campeonatos e certames organizados pela Liga Blumenauense de Futebol, pois geravam um caráter mais divertido e descontraído, favorecendo a liberação das posturas dos jogadores e familiares envolvidos nos jogos.

CONCLUSÕES:
Os rituais e costumes criados e agregados pelos trabalhadores através dos clubes de futebol, refletem os modos e a percepção que estes grupos/trabalhadores têm do mundo e da vida. Deste modo, é possível reconhecer que o futebol encaminhou importantes assuntos na vida do trabalhador, com destaque para os casamentos. Não se pode negar que os modos de ser e viver dos trabalhadores, neste caso o lazer dos operários, por um lado está condicionado ao modelo ideológico incentivado pelas elites industriais para os trabalhadores da época; mas, por outro lado, mesmo sofrendo a interferência do projeto local capitalista, os trabalhadores buscaram rotas alternativas para suas práticas culturais. Práticas que se tornaram rituais capazes de expressar não somente a recreação e a organização desportiva, mas muito mais que isso, as relações e os vínculos criados no interior dos clubes, os desejos e os encontros pessoais e comunitários e os modos de apreender o mundo, com seus valores mais extensos, tais como a família, os amigos e o lazer como uma forma de sobrepor às faltas da vida. Diante da construção dos clubes de futebol nos bairros, da dimensão comunitária das sociedades e da participação dos trabalhadores de forma dinâmica e cultural nos clubes, pode-se dizer que os melhores sentidos da vida são preservados: diversão, sociabilidade, idéia de pertencimento ao grupo, vínculos identitários e laços de solidariedade capazes de vencer o tempo e superar as crises do futebol amador.
Instituição de fomento: Pipe/Art.170/FURB
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Cultura Associativa; Trabalhadores; Clubes de futebol.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006