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G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social

O PODER VERMELHO DA CASA AMARELA – O MITO DO COMANDO VERMELHO EM MANGUINHOS E NO RIO DE JANEIRO

Fábio Souza Corrêa Lima 1, 2
Tânia Maria Dias Fernandes  3
Renato Gama-Rosa Costa 3
(1. Departamento de História - Universidade Federal Fluminense / UFF; 2. DPH / DEPES - Fundação Instituto Oswaldo Cruz / Fiocruz; 3. Orientador(a) - FIOCRUZ)
INTRODUÇÃO:

O presente trabalho, intitulado O poder Vermelho da casa Amarela – O mito do Comando Vermelho em Manguinhos e no Rio de Janeiro, concentra-se, inicialmente, no esforço de levantar a história e a memória dos moradores da comunidade Varginha, ou, como é reconhecida pelo Município do Rio de Janeiro, Parque Carlos Chagas.

Ao aprofundarmos nossos estudos, nos deparamos com histórias de uma pequenina casa de onde teria se originado todo o circuito de violência e o tráfico de drogas que assola toda a sociedade brasileira. A eclosão da mais conhecida facção criminosa do país, depois de grande influência dos militantes de esquerda presos em Ilha Grande, teria acontecido ainda nos anos oitenta, na casa Amarela, no centro de Varginha, em Manguinhos, coração do Rio de Janeiro. Ao desenvolvermos nosso projeto, levantando fontes bibliográficas, constatamos que a memória dos moradores de Varginha, tanto quando de todos os cariocas e fluminenses, tinha sido induzida a acreditar em um mito de origem, onde líderes de facções tornaram-se verdadeiros entes sagrados. A defesa da comunidade e as lendas entorno das ações desses entes, ainda hoje ecoam pelas favelas alheias a presença do Estado.

A relevância deste projeto reside na compreensão de discussões que se desviam dos principais problemas sociais do país, como a miséria e a má distribuição de renda, levando a população a acreditar que o simples aumento da repressão policial levaria à diminuição dos índices de violência.
METODOLOGIA:

Empregamos neste trabalho os métodos de história oral e a análise estrutural. O primeiro, por se prestar a diversas abordagens, caracterizando-se como multidisciplinar, funcionou como um perfeito método para aferirmos dentro da memória popular todo o conteúdo que buscávamos sobre a temática de violência e de controle social. Justamente por trabalharmos com esses temas, alguns entrevistados condicionaram seus depoimentos à identificação parcial de seus nomes. Mesmo assim, apesar da não publicação de nomes em nossos trabalhos, todo o conteúdo dessas entrevistas está disponível no acervo da Casa Oswaldo Cruz, no projeto Manguinhos: História do Lugar e das Pessoas, coordenado pela Drª Tania Fernandes e pelo Dr. Renato Costa.

Quanto a utilização do método estrutural, buscamos utilizar teorias que nos aproximassem de uma análise mais eficiente de um mito. Encontramos no trabalho do lingüista suíço Saussure a teoria de que os mitos poderiam ser organizados em um breve sistema. Segundo Saussure, as narrativas orais se caracterizam pelo deslocamento de um lado para outro, esquerda para a direita, formando um eixo diacrônico, o que possibilita o estabelecimento de paralelos, de onde podemos realizar o estudo de evoluções, conjunturas e mudanças nas classes sociais intrínsecas à essa história. Por outro lado, o eixo sincrônico, que caracteriza a estrutura de um mito como quase parado no tempo, alheio às conjunturas, sustentou perfeitamente as relações sociais do Estado/Indivíduo.
RESULTADOS:
Como principal resultado do desenvolvimento deste projeto, o trabalho de monografia produzido para conclusão do curso de história na UFF com o título homônimo a este resumo, terminado com cento e sessenta páginas, atingiu o grau máximo. Realizamos um total de vinte cinco entrevistas com moradores de Manguinhos e especialistas na região, através das quais conseguimos nos aproximar das experiências dessas pessoas. De forma contrária, a utilização isolada de fontes tradicionais como bibiográficas, teses, periódicos e imagens, jamais nos fariam conhecer as micro-histórias que contam a memória da casa Amarela. Optamos então pela conformação de um mito apoiado na memória e nas histórias populares sobre a origem e desenvolvimento do Comando Vermelho. Construímos assim, um quadro que relatasse as diferentes relações de poder existentes em Estado/Indivíduo e o Indivíduo/Indivíduo, e trabalhamos segundo suas percepções em apenas duas classes sociais, a que segue o Padrão de Ordem Social e a que é relegada ao Padrão Marginal. Com esse conteúdo, nos apresentamos na Jornada Iniciação Científica da Casa Oswaldo Cruz (2005), nas Reuniões Anuais de Iniciação Científica (2004 e 2005) e no VI Encontro Regional de História Oral em Juiz de Fora.
CONCLUSÕES:

Em nossa monografia, concluída a etapa de levantamento da história e memória de Varginha e das origens do Comando Vermelho, pudemos nos aprofundar na análise da estrutura do mito, baseados na idéia de controle social. Dedicamos assim, todo o quarto capítulo, com os seus sub-capítulos O porquê de enfrentar o medo? e A ilusão gerada pelo Comando Vermelho, a entender como um mito é usado para a manipulação de uma sociedade inteira. É importante ressaltar que nos concentramos na representatividade de um fenômeno social encomendado, onde o efeito de sua existência e ações, alimentam a eficiência do sistema que se inicia com o fomento do medo generalizado e termina com a “única resposta possível”: repressão policial.

Concluímos que o mito de origem e desenvolvimento do Comando Vermelho, da “ameaça vermelha” no presente ou no passado, serve aqui como uma indução ao ideal, à ilusão. Serve como escape para uma situação conflituosa real onde as elites conhecem as suas causas, mas não podem desvelar tal imbróglio, sob a pena de perda de seu modus vivendi. Segundo Marilena Chauí, qualquer ideologia pode ser quebrada, basta que ela seja descoberta, ou seja, a descoberta de que existe um engodo lustrado e exposto à toda população como “única via”, acarretaria invariavelmente em uma Crise de Hegemonia, gerando, conseqüentemente, uma mudança na estrutura social, na Ordem social. Enquanto isso o Estado continua alienando a população à ideologia e justificando a repressão com o medo.
Instituição de fomento: Casa Oswaldo Cruz - COC/Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Controle Social; Violência; Comando Vermelho.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006