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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada

CHATROOMS: ESPAÇO DE TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA?

Renan Bernardes Poletto 1
Maria de Fátima Silva Amarante 1
(1. Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Faculdade de Letras)
INTRODUÇÃO:

O advento de processos de ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras mediados por computador, com utilização da Internet, pode propiciar a configuração de uma nova ordem do discurso pedagógico, uma vez que, nesta modalidade de ensino/ aprendizagem, a mediação do conhecimento por meio da utilização de ferramentas assíncronas (homepage, e-mails, fórum de discussões) e síncronas (chat-rooms) configura o desafio da utilização de novas técnicas de transposição didática e de leitura interpretativa apresentadas pela hipertextualização.  Configura-se, então, a relevância de pesquisar e refletir acerca dos efeitos da utilização de tais ferramentas na constituição dos discursos e dos sujeitos educacionais que pelo e no discurso se constituem. Em nosso trabalho (um entre seis trabalhos de Iniciação Científica que integram o projeto de pesquisa Transposição didática e leitura interpretativa no ciberespaço: uma nova ordem do discurso pedagógico?”, do Grupo de Pesquisa “Discurso, Comunicação e Ensino”, da PUC-Campinas), focalizamos a sala de aula virtual (chat room) para examinar a questão da autoria, a partir da hipótese de que, neste ambiente de ensino/aprendizagem, a argumentação com recurso à modalização autonímica, freqüente na sala de aula tradicional, não encontra lugar, pois o discurso que aí aflora é constituído por noções de anonimato e de bem público, propiciando condições para o reposicionamento dos sujeitos-leitores como sujeitos-autores.

METODOLOGIA:

Trata-se de pesquisa de cunho qualitativo-interpretativista, orientada pela perspectiva teórico-metodológica da Análise do Discurso de Linha Francesa. É focalizado o discurso produzido por, em média, 15 alunos e 1 professor, durante 10 sessões de bate-papo (chat) que ocorreram entre os anos de 2002 e 2005, em um curso de ensino de leitura em inglês como língua estrangeira de caráter semi-presencial (75% de atividades a distância mediadas por computador e 25% de atividades presenciais), na área de Tecnologia da Informação, em uma universidade particular do estado de São Paulo. Primeiramente, foi empreendida análise de bibliografia nas áreas de Ensino a Distância (com recurso a Castels e Lévy, dentre outros autores) e Estudos do Discurso (examinando-se obras de autores tais como Foucault, Pêcheux e Authier-Revuz, dentre outros), com produção de resenhas críticas que serviram a embasar as análises empreendidas. Em uma segunda etapa, foram analisadas as condições de produção do discurso, examinando-se o contexto sócio-histórico-ideológico e o perfil dos interlocutores, com aplicação de entrevistas semi-estruturadas e questionários aos sujeitos-participantes. Finalmente, tratou-se de analisar a materialidade lingüística, com foco na questão da autoria, verificando-se o recurso a formas de heterogeneidade mostrada (modalizações autonímicas), nas transcrições das sessões de bate-papo, que foram gravadas por meio das plataformas WEB-CT e TELEDUC.   

RESULTADOS:

Os resultados revelam que, dentre o feixe de condições de produção do discurso pedagógico que ocorre em sessões de bate-papo, encontram-se noções próprias à ideologia neoliberal, especialmente a noção de formação para o mercado de trabalho e de favorecimento de camadas populares tradicionalmente excluídas. De outra parte, também é constituído por noções de autonomia e aprendizagem colaborativa, presentes nas metanarrativas educacionais, e pelas noções de anonimato e de bem público que permeiam a cultura da Internet, favorecendo uma abordagem de leitura enquanto interpretação, ou seja, produção de sentidos, que posiciona o leitor como autor. No que se refere ao perfil dos interlocutores, cabe informar que, novatos nesta modalidade de ensino/aprendizagem, têm seu discurso constituído, em diferentes medidas, por suas  experiências anteriores em sala de aula tradicional mas também por suas recentes experiências na utilização da ferramenta de bate-papo para comunicação pessoal via Internet. Tais condições de produção constituem a materialidade lingüística do discurso analisado, que conta com baixíssima freqüência de modalizações autonímicas, revelando o posicionamento dos leitores como autores.

CONCLUSÕES:

Os resultados das análises apontam, até o momento, que, no discurso de transposição didática da sala de aula digital (chat rooms), predominam as noções de anonimato e de bem público. A autoria do discurso-fonte é desconsiderada, colocando-se o aluno-leitor como autor do texto ou posicionando o próprio texto como autor, por meio da personificação. Conclui-se que este discurso, já que constituído pelo afrouxamento da noção de propriedade intelectual propiciado pelo advento da Internet, pela natureza informal das interações digitais (que determina a utilização de um estilo conversacional-natural) e por uma nova distribuição espacial, temporal e relacional dos sujeitos e dos objetos do conhecimento, é espaço de proliferação da autoria do sujeito-leitor.

Instituição de fomento: FAPIC/Reitoria/PUC-Campinas
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: ensino a distância; discurso; autoria.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006