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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva

TRABALHO NA ADOLESCÊNCIA: DISTÚRBIOS DE SONO EM ESTUDANTES DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO MÉDIO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

Josiane Steluti 1
Roberta Nagai 1
Liliane Reis Teixeira 1
Lilian Cardoso Zinn-Souza 1
Frida Marina Fischer 1
(1. Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública/USP)
INTRODUÇÃO:

O sono, ao contrário do que se considerava antigamente, é um fenômeno ativo do ciclo biológico necessário à sobrevivência. Na adolescência, observa-se alterações nos padrões de sono; estudos revelam que os adolescentes geralmente exibem fases atrasadas, padrões irregulares, além de distúrbios de sono. Esse comportamento do sono pode ocorrer em resposta as demandas psicossociais e as mudanças biológicas nos ritmos do ciclo vigília-sono. Esses conhecimentos são importantes devido aos efeitos adversos que esse comportamento traz ao processo de desenvolvimento, nas relações psicossociais e na habilidade neurocognitiva.

Segundo "Word´s Youth 2006 Data Sheet" do Population Reference Bureau - PRB, no Brasil em 2005, 47% das adolescentes e 63% dos adolescentes foram considerados economicamente ativos. Assim, preocupado com essa fase da vida, onde o aumento dos compromissos com as atividades sociais, escolares e de trabalho é expressivo; o presente estudo descreve a prevalência de estudantes, adolescentes trabalhadores e não trabalhadores, que relataram distúrbios de sono e avalia os fatores associados aos distúrbios em estudantes trabalhadores do período noturno do ensino médio de uma escola pública no município de São Paulo.

METODOLOGIA:

O estudo transversal conduzido com 491 estudantes (73,9% trabalhadores e 26,1% não trabalhadores), alunos do ensino médio de uma escola pública no município de São Paulo, com idade de 14-21 anos, que freqüentavam a escola no período das 19:00 às 22:30 horas durante o ano letivo de 2003. Foram preenchidos questionários de caracterização das condições de vida, trabalho e saúde; além de questões sobre a avaliação de distúrbios de sono validado por BRAZ et al. 1987, com o objetivo de serem utilizadas em estudos epidemiológicos que avaliam queixas de sono nas seguintes categorias: insônia, sonolência excessiva e "parassonias".

O software SPSS10.0 foi utilizado para as análises estatísticas. Os dados obtidos nos questionários foram submetidos a uma análise descritiva. Testes foram realizados para avaliar as variáveis associadas aos distúrbios de sono e incluíram apenas os adolescentes trabalhadores devido ao pequeno número de casos de distúrbios de sono entre não trabalhadores. Inicialmente foram conduzidas análises utilizando o teste de associação do c 2 de Pearson e, em seguida, foram selecionadas as variáveis que apresentaram p< 0.20 para serem testadas no modelo de regressão logística múltipla. Nível de significância de 5% foi considerado em todas as análises.

RESULTADOS:

Avaliando as queixas em relação ao sono, nenhum estudante apresentou insônia, apenas 1 sonolência excessiva, enquanto 68 relataram distúrbios de sono na categoria parassonias (sonambulismo, ranger os dentes, dores de cabeça, apnéia, cãibra noturna, terror noturno, sonilóquio e outros), sendo 55 dos casos estudantes trabalhadores, prevalência de 15,4%. O teste de c 2 de Pearson mostrou que algumas variáveis sócio-demográficas, de saúde, de trabalho e relativas aos hábitos e costumes de sono estavam associadas ao fato de ter distúrbios de sono em adolescentes trabalhadores. As principais variáveis que mostraram significativas (p<0,05) no teste foram: idade, sexo, hábito de fumar e beber, fumar antes de dormir, o uso de substâncias psicoativas (cafeína, fumo, drogas, bebidas alcóolicas e medicamentos), local onde dormem, mudança de casa ou quarto nos últimos 3 meses, nota e presença de problema de saúde recentemente, cansaço nos olhos, corpo e mente, moleza, dificuldade de concentração e machucar no trabalho.

No modelo de regressão logística múltipla, foram encontrados como fatores associados a distúrbios de sono entre adolescentes trabalhadores: ser do sexo feminino (OR=3,8; IC [1,85:7,76]), fumar antes de dormir (OR=4,2; IC[1,80:9,74]), sentir moleza no corpo (OR=4,0; IC[1,74:9,27]) e ter se machucado no trabalho (OR=3,6; IC[1,72:7,48]). A idade e o consumo de bebidas alcoólicas foram utilizadas como ajuste no modelo da regressão.

CONCLUSÕES:

Os distúrbios de sono mostraram-se mais freqüentes nos estudantes trabalhadores. Algumas variáveis demográficas, de estilo de vida, condições de saúde e trabalho, apresentaram-se associadas aos distúrbios de sono na categoria parassonias. Embora não seja possível estabelecer a causa e efeito devido ser este um estudo transversal, esses achados são motivos de preocupação. Outras pesquisas mostraram a combinação do trabalho e o estudo associados à redução do sono noturno; e alimentação e uso de drogas afetando profundamente os padrões de sono dos adolescentes.

De qualquer modo, baseados nos resultados desse e de outros estudos, mais esforços são necessários para conhecer a relação adolescência, sono e trabalho. A inserção dos adolescentes no mercado de trabalho requer atenção das autoridades do País, na elaboração de políticas governamentais para proteção da saúde dos adolescentes.

Instituição de fomento: CNPq 470917/2003-2, CAPES, PIBIC
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: distúrbios de sono; adolescentes; trabalho.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006