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G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil
AS RELAÇÕES SOCIAIS E O CARÁTER SIMBÓLICO DOS CLUBES DE CAÇA E TIRO EM BLUMENAU NA DÉCADA DE 50
Cristina Ferreira 1
Anne Caroline Peixer Abreu 1
(1. Departamento História e Geografia da Universidade Regional de Blumenau - FURB)
INTRODUÇÃO:

O foco principal da pesquisa é o estudo dos Clubes de Caça e Tiro em Blumenau, considerados atualmente como representantes legítimos da cultura alemã no Vale do Itajaí e cuja função social inicialmente era aglutinar a população rural e urbana em torno das festividades de lazer, discussões políticas, afazeres culturais e práticas desportivas. O recorte temporal refere-se à década de 50, num processo histórico que inicia com a festa do centenário de Blumenau e se constrói sob o signo da chamada era da “modernidade”, que alterou sensivelmente os costumes e práticas tradicionais precedentes, especialmente em Blumenau e região, onde este momento se caracteriza também como o pós Segunda Guerra Mundial. O objetivo geral é problematizar a maneira como essas associações passam a se apresentar e reestruturar suas atividades a partir de então. A análise está centrada na configuração dos espaços associativos, na medida em que pouco se conhece sobre suas dinâmicas internas, as relações cotidianas dentro dos clubes, as estratégias de sobrevivência perante um período de reestruturação de valores, hábitos e práticas. Deve-se mencionar que esta pesquisa está integrada com o projeto “Associativismo Civil em Blumenau: mudanças e tendências”, desenvolvido pelo Núcleo de Estudos, Pesquisas e Extensão em Movimentos Sociais – NEPEMOS/FURB.

METODOLOGIA:

O método utilizado foi a pesquisa histórica, através da análise documental cartorária, contida no banco de dados do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Extensão em Movimentos Sociais - NEPEMOS, cuja fonte principal são os estatutos das Sociedades Recreativas e Desportivas. Fez-se também uma revisão bibliográfica, partindo para a confrontação com os dados pesquisados no acervo do Arquivo Histórico de Blumenau. Em seguida, procedeu-se a análise documental de jornais regionais e atas dos Clubes para identificar aspectos ligados ao seu funcionamento, não contemplados pelo estatuto. Outro recurso utilizado foi o da história oral, sendo através deste que pôde-se fornecer vivacidade e novos subsídios para a continuidade da pesquisa, já que trata-se de trabalhar com a memória humana, trazendo à tona a vivência do espaço associativo. Com esta multiplicidade de fontes trabalhadas realizou-se uma análise comparativa entre os dados, enriquecendo a interpretação dos mesmos para a realização da pesquisa qualitativa.

RESULTADOS:
De todos os Clubes de Caça e Tiro registrados em Blumenau na década de 50, num total de 36, somente 17 referem-se à prática do Tiro ao Alvo. Dentre estes, 04 apresentam uma data de fundação no estatuto, que não condiz com a real data de criação dessas associações, todas no final do século XIX, tratava-se apenas de uma reformulação estatutária. Oficialmente e perante a opinião pública os Clubes de Caça e Tiro passam a referir-se ao tiro ao alvo como uma prática desportiva, sendo estimulada a realização de torneios interclubes municipais, estaduais e nacionais. Os associados assumem a categoria de atiradores que passam a se valorizar enquanto esportistas que precisam estar preparados fisicamente para competir. Da segunda metade dos anos 50 em diante as associações iniciam um processo de abertura em relação ao seu funcionamento interno, aumentando a divulgação das assembléias e bailes a serem realizados. A partir de então, surgem diferentes contornos para os hábitos cotidianos e valores locais e as associações passam a ser regidas por um ritmo diferente, sem se desfazer de “velhas” práticas, porém apresentando novos objetivos e dinâmicas de funcionamento, baseando-se na idéia de “progresso” e modernidade.
CONCLUSÕES:
Além da integração comunitária, as Sociedades de Tiro ao Alvo sustentavam um caráter étnico, funcionando como um elo de preservação da cultura e tradição germânica. Algumas Associações, ainda que tivessem como principal atividade a prática do Tiro ao Alvo, optaram por não explicitá-la oficialmente, devido à adaptação aos novos discursos do período e às leis nacionais vigentes. O fato dos membros dessas Associações ocultarem detalhes importantes do seu funcionamento interno indica uma ruptura cultural após o fechamento das mesmas durante a Segunda Guerra Mundial, levando esses espaços associativos a retomar suas atividades de forma lenta e retraída. A partir de então, os Clubes de Caça e Tiro passam a se afirmar como Associações com fins desportivos e recreativos, secundarizando a prática do Tiro ao Alvo diante de fontes oficiais, na tentativa de encapsular sua finalidade cultural de origem étnica. O interior destas sociedades era marcado pela ritualística e pelo caráter simbólico, elementos que aparentemente proporcionavam tanto para a instituição quanto para seus integrantes, um caráter de solidez, pois num certo sentido revelavam capacidade administrativa, sustentadas por meio da história e/ou da tradição, por sua vez, cultuadas através de uma simbologia e de um calendário de celebrações festivas.
Instituição de fomento: Pipe/Art. 170/FURB
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Cultura; Clubes de Caça e Tiro; Modernidade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006