A intoxicação por Crotalaria retusa (Fabaceae), também conhecida como guiso de cascavel, chocalho de cobra, etc.; tem sido descrita em várias espécies animais em todo mundo. Essa espécie contém alcalóides pirrolizidínicos (AP) que são principalmente hepatotóxicos. No Brasil têm sido descritos casos crônicos de intoxicação em eqüinos e bovinos e casos agudos em ovinos da Paraíba. Recentemente foram observados no semi-árido paraibano, casos crônicos da intoxicação em ovinos, apresentando alterações clínicas nervosas compatíveis com encefalopatia hepática. Os animais apresentavam principalmente fígado com acentuação do padrão lobular, fibrose periportal difusa moderada e proliferação de células epiteliais de ductos biliares, megalocitose, bilestase e microcavitações no encéfalo. Este trabalho teve como objetivo reproduzir a forma crônica da intoxicação em ovinos por C. retusa, determinando seus aspectos bioquímicos, clínicos e patológicos.

Foram adquiridos 10 ovinos machos, os quais foram everminados, vacinados e submetidos a um período de adaptação. A C. retusa foi coletada, seca a sombra, separada as sementes e triturada em maquina forrageira. Inicialmente, três animais (1, 2 e 3) receberam a dose de 1g/kg de peso de sementes, misturada no concentrado, durante 20 e 70 dias consecutivos. Um outro animal (4) recebeu a dose de 2g/kg de peso durante setenta dias, da mesma forma que os demais. Posteriormente, administraram-se sementes de C. retusa por via oral aos animais 5, 6 e 7, em dose única de 4g/kg de peso, e aos animais 8, 9 e 10 em dose única de 5g/kg de peso, sendo as sementes trituradas e acrescidas de água. Em todos os animais foram realizadas coletas sangüíneas para realização de hemograma e dosagens bioquímicas de AST e GGT e proteínas séricas, além de biópsias hepáticas. Os animais eutanasiados in extremis foram necropsiados, coletados fragmentos, os quais foram processados e corados pelas colorações de Hematoxilina e Eosina (HE) e Tricrômico de Masson, para auxiliar na determinação do grau de fibrose. Sementes de Crotalaria retusa foram coletadas e enviadas aos Drs. Kip E. Panter e Dale R. Gardner do Poisonous Plant Research Laboratory em Logan, Utah, USA, para dosagem de monocrotalina. Todos os ovinos foram pesados semanalmente em jejum para adequação das dosagens ou verificação de perda de peso.

Os ovinos 1, 2, 3, e 4 que receberam as doses de 1 e 2g/kg de peso da semente triturada e misturada ao concentrado, não apresentaram alterações clínicas. Os animais que ingeriram as doses de 4 e 5g/kg de sementes em dose única apresentaram necrose de hepatócitos, fibrose periportal difusa, discreta a moderada, hepatomegalocitose e proliferação de células epiteliais de ductos biliares, caracterizando uma tendência de cronicidade das lesões, sendo que os ovinos 5 e 8 apresentaram apenas a forma aguda da doença. No encéfalo foi observado microcavitações, induzidas pelo quadro de hiperamonemia. O animal 7 desenvolveu secundariamente intoxicação crônica por cobre e o animal 10 apresentou maior grau de fibrose hepática e degeneração gordurosa. Os animais 5, 6, 7, 8, 9 e 10 apresentaram níveis de AST, GGT e proteínas séricas significativamente elevados, além de diminuição significativa do peso corpóreo. As biópsias hepáticas realizadas possibilitaram a visualização da progressão das lesões.

A intoxicação crônica por C. retusa em ovinos ocorre após ingestão de doses únicas de sementes, com o aparecimento de lesões agudas no fígado as quais evoluem para lesões crônicas. É necessário, no entanto, estudos mais aprofundados com doses menores, uma vez que foram encontradas lesões agudas nos animais deste experimento. A administração diária durante 20 e 70 dias, de sementes de C. retusa nas doses correspondentes a 25% a 50% da dose única mínima que causa doença aguda ou crônica não é tóxica.