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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva

HUMANIZAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE: UMA PERSPECTIVA DIALÉTICA E INTERDISCIPLINAR – CASO REDE DE SAÚDE SÃO GERARDO

Ana Carla de Carvalho Magalhães 1
Tiago Moraes Guimarães  2
José Jackson Coelho Sampaio 3
(1. Graduanda em Serviço Social, Centro de Estudos Sociais Aplicados/UECE; 2. Graduando em Medicina, Centro de Ciências da Saúde/UECE; 3. Doutor em Saúde Pública, Centro de Ciências da Saúde/UECE)
INTRODUÇÃO:

O avanço tecnológico trouxe, para as ciências médicas, avanços e possibilidades de cura inimagináveis anteriormente, porém aumentou o grau de especialização dos cuidados, a mediação técnica, a massificação e a mercantilização dos procedimentos. As distâncias entre competência técnica e relacional e entre eficiência do processo e conseqüências afetivas, políticas e éticas resultam num abismo que leva o profissional de saúde a se afastar do humanismo. Esta pesquisa foca a integralidade na atenção, a promoção e a humanização da atenção. Pressupõe uma ruptura epistemológica e uma busca pelo resgate do valor em si da vida humana, com alteridade, respeito crítico e responsabilidade social. O desenvolvimento da Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão em Saúde-PNH, do Ministério da Saúde, implica em franco fortalecimento dessas novas ações. A implantação ampla da PNH considera a participação ativa e responsável do maior número de atores envolvidos, direta ou indiretamente, de forma a que eles sejam respeitados, ouvidos e valorizados. A pesquisa tem como objetivo identificar o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre a natureza ético-política das relações envolvidas nos atos de atenção à saúde, no meio hospitalar, identificar os elementos de auto-estima e satisfação dos trabalhadores e os procedimentos de recepção e acolhimento.

METODOLOGIA:

Estudo de um caso hospitalar, a Casa Saúde São Gerardo (CSSG), particular, psiquiátrico, articulado com a defesa das políticas públicas de saúde mental, das diretrizes dos movimentos dos usuários e trabalhadores de saúde mental, do controle social e do SUS. O estudo foi qualitativo, analítico-crítico, com contextualização micro-histórica da organização hospitalar, como preconizam Minayo e Sampaio. Para a organização e análise de depoimentos e a interpretação dos textos decorrentes da organização dos depoimentos e decorrentes de entrevistas semi-estruturadas foram realizados os procedimentos da análise de discurso, conforme propostos por Brandão e Orlandi. A contextualização micro-histórica baseou-se em pesquisas monográficas cedidas pela própria instituição e em entrevistas realizadas com funcionários antigos, atuais administradores e familiares dos fundadores. As entrevistas foram realizadas com os administradores e os trabalhadores, cada um em sua respectiva área dentro do hospital. As entrevistas, semi-estruturadas, basearam-se num check-list formulado em cinco dimensões: técnica, psicossocial, política, ética e cultural.

RESULTADOS:

A CSSG foi fundada em 1932, por dois psiquiatras. Uma congregação religiosa era onipresente nas competências do hospital, desde a assistencial à gerencial, até 1995. A publicação da Portaria 224, do Ministério da Saúde, obrigou a grandes mudanças, incluindo trabalho técnico e gestão profissional. O advento do Movimento Brasileiro de Reforma Psiquiátrica foi decisivo para a estruturação da Rede, superando o modelo hospitalar-asilar  para o terapêutico-aberto. A mesma equipe de trabalhadores, profissionalmente selecionados, atendem clientes particulares, planos de saúde e o SUS, em hospitalização integral e parcial, ambulatório, residência e oficinas terapêuticas. Os entrevistados expressam satisfação, pois a instituição oferece estímulo à capacitação, à avaliação continuada e à gestão participativa. Os elementos obstrutores internos são carências na infra-estrutura física, na ambiência e no acolhimento, comprometendo a qualidade global, embora o estímulo à competência técnica seja um favorecedor. Os temas da humanização são periodicamente debatidos em sessões clínicas mensais, porém de modo teórico. Percebem-se resistências em relação à extinção dos hospitais psiquiátricos, pois a demanda reprimida em Fortaleza é muito grande e o sistema hierarquizado de serviços, adstritos a territórios e populações, com Centros de Atenção Psicossocial, é muito incipiente, e as emergências e hospitais gerais, por outro lado, continuam recusando, preconceituosamente, o cliente psiquiátrico.

CONCLUSÕES:
Percebe-se que há mais de 10 anos o sistema hospitalar estudado vem passando por reformas sucessivas, em grande esforço de desmistificar o caráter de hospital psiquiátrico nos moldes antigos, trabalhando com o paradigma da Humanização. A despeito do aperfeiçoamento interno, de processos, relações e produtos, os trabalhadores demonstram dificuldade em conceituar criticamente o próprio processo histórico geral, porém aprovam os resultados internos, identificam problemas infraestruturais, de ambiência, de acolhimento, e, sobretudo, denunciam o perverso sistema de saúde da cidade, deshumanizador, não hierarquizado, sem atenção primária resolutiva, pleno de preconceitos contra o cliente psiquiátrico. A implantação de Grupos de Trabalho de Humanização–GTH e de grupos focais por setor constituem ferramentas estratégicas para o aprofundamento do processo de elevação da consciência, do sentimento de auto-estima dos trabalhadores, do sentimento de satisfação pelos trabalhadores e administradores e de incremento da qualidade do trabalho terapêutico, com projetos personalizados e equipe de referência
Instituição de fomento: Ministério da Saúde/PNUD
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Humanização em Saúde; Humanização e Saúde Mental; Humanização na Assistência Hospitalar Psiquiátrica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006