DIATOMÁCEAS EPILÍTICAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARDO, RS, BRASIL: BASE TAXONÔMICA PARA A AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA EM AMBIENTES LÓTICOS DA REGIÃO SUL DO BRASIL.

A poluição das águas doces superficiais é um dos grandes problemas ambientais do mundo. Neste sentido, os enfoques dos estudos concernentes à avaliação da qualidade da água podem ser divididos basicamente em duas categorias. A primeira utiliza os métodos físicos e químicos, enquanto que a segunda considera os métodos biológicos de avaliação.

No primeiro enfoque, os métodos físicos e químicos permitem apenas um conhecimento instantâneo, e, portanto limitado das condições da água no momento em que são feitas as medições. Com referência ao segundo enfoque, os métodos biológicos utilizados para o monitoramento da qualidade da água apresentam a vantagem de oferecer informações de efeitos ambientais prolongados, isto é, são capazes de refletir estados não mais existentes no momento da verificação, porém, originados a partir de um processo de maturação da comunidade.

Desta forma, os métodos de análises físicos e químicos complementam os métodos biológicos e, em conjunto, constituem a base para uma correta avaliação da qualidade das águas correntes.

Neste contexto, este trabalho teve por objetivo contribuir ao conhecimento da flora diatomológica da região sul do Brasil, através da elaboração de uma guia taxonômico base, destacando-se o potencial uso destes organismos como bioindicadores da qualidade dos ambientes lóticos, fornecendo dados sobre a ecologia das espécies e servindo como subsídio a programas de monitoramento ambiental.

Para a elaboração do guia ilustrado foram analisadas 232 amostras coletadas durante os anos de 2002 a 2005, em 44 estações de amostragens distribuídas em distintos segmentos da bacia hidrográfica, desde os trechos superiores localizados no planalto rio-grandense, até a foz do Rio Pardo no município de Rio Pardo. Com relação à análise das amostras, foram selecionadas as lâminas permanentes e alíquotas oxidadas do material depositado no Herbário DIAT-UNISC. Para a obtenção das fotografias, foi utilizado um microscópio óptico Leica^® DMBR com aumento de 1000 vezes com contraste diferencial, equipado com aparelho para captação de imagens de alta resolução Leica^® DC⁵⁰⁰.

As amostras já oxidadas também foram montadas em stubs, cobertas com ouro (40nm) para identificações e observações em microscópio eletrônico de varredura (MEV), com câmera Leica^® Stereoscan 430i acoplada e operada a 20kV.

A grande variedade de ambientes lóticos estudados (incluindo áreas de nascentes até arroios urbanos fortemente poluídos) permitiu a identificação de 398 táxons a níveis genéricos, específicos e infra-especificos, includindo novas citações de ocorrência para o estado do RS, ilustradas com microscopia óptica e eletrônica. Eolimna minima (Grunow) Lange-Bertalot, Achnanthidium minutissimum (Kützing) Czarnecki, Geissleria aikenensis (Patrick) Torgan & Oliveira, Nitzschia palea (Kützing) Smith, Achnanthes exigua Grunow e Gomphonema parvulum (Kützing) Kützing, aparecem como as espécies mais frequentes nas amostras.

As espécies Adlafia drouetiana (Patrick) Metzeltin & Lange-Bertalot, Gomphonema pumilum var. rigidum Reichardt & Lange-Bertalot, Navicula maidanae Metzeltin & Lange-Bertalot, Nupela praecipua Reichardt e Simonsenia delognei Lange-Bertalot, apresentam preferencias por ambientes naturais não impactados. Em ambientes fortemente poluídos observou-se a elevada abundância relativa dos táxons Eolimna subminuscula (Manguin) Moser et al., Fallacia monoculata (Hustedt) Mann, Mayamaea atomus var. permitis (Hustedt) Lange-Bertalot, Nitzschia palea (Kützing) Smith e espécies do grupo Sellaphora pupula (Kützing) Mereschkowksy sensu lato.

A formulação deste guia serve como base para estudos de monitoramento ambiental da bacia hidrográfica do Rio Pardo, destacando-se o pioneirismo deste gênero de trabalho para a região sul do Brasil.

Embora já tenham sido testados e comprovados a eficiência do uso da comunidade de diatomáceas epilíticas na indicação de condições ambientais em cursos d’água sul brasileiros, principalmente no que diz respeito à poluição orgânica e eutrofização dos corpos d’água, este guia vem de encontro ao constante aperfeiçoamento dos sistemas de bioindicadores elaborados pelo Laboratório de Limnologia da Universidade de Santa Cruz do Sul.

A expansão da base taxonômica e a formação de recursos humanos constituem pontos-chave para toda e qualquer área, principalmente a área de recursos aquáticos. São imprescindíveis um amplo apoio e incentivo à pesquisa neste campo, bem como sistemas de acompanhamento e mensuração da incorporação dos resultados em benefício da população.

Desta maneira, o desenvolvimento desta pesquisa vem a preencher uma lacuna do conhecimento da flora a nível regional e estadual, contribuindo significativamente ao conhecimento da biodiversidade local.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) & Centre de Recherche Public - Gabriel Lippmann (Luxemburgo)

Trabalho de Iniciação Científica