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G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura

RITOS DA MORTE NO PANTANAL MATO-GROSSENSE

Gilian Evaristo França Silva 1
Sueli Pereira Castro 1
(1. Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT)
INTRODUÇÃO:

A reflexão tratada aqui tem como foco privilegiado um determinado território, o Pantanal Brasileiro. Este se encontra compreendido entre os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, numa área de 140.000 Km². Essa imensa planície ainda estende-se pelos territórios boliviano e paraguaio, sendo lá denominada como “Chaco”. Mais precisamente, o lócus da pesquisa situa-se no Pantanal de Barão de Melgaço, no estado de Mato Grosso. É o território da comunidade de São Pedro, no distrito de Joselândia, no entorno da Reserva Nacional de Patrimônio Natural – RPPN do Serviço Social do Comércio – SESC Pantanal. Oportunizamos uma análise sobre as práticas culturais fúnebres dos católicos dessa comunidade rural, pois refletir sobre a morte, em uma determinada sociedade e/ou especificidade cultural, é entender a própria vida.

METODOLOGIA:

Com um trabalho de natureza etnográfica e segundo as orientações dadas pela História Oral, a pesquisa vale-se de uma descrição mais minuciosa, atenta da realidade dos que vivem na região. A partir de uma descrição “densa”, procura-se também entender as representações culturais das práticas estudadas. Esta metodologia privilegia as categorias sociais das quais se valem esses grupos sociais, para definirem seus códigos de valores e idéias, sua cosmologia e seus sistemas classificatórios, possibilitando o desvelamento do universo pesquisado, conduzindo a pensar sobre o tecido social dessa população.

RESULTADOS:
A morte não é apenas um fenômeno biológico, mas, sobretudo, social, nos revelando as relações que comporta. Contudo, sabemos que com relação ao fenômeno da morte, podemos falar só da experiência com os “outros”, somos expectadores, não descrevemos nossa própria morte. São Pedro é uma comunidade pantaneira presente em um ambiente rural e sazonal, sofrendo o fluxo do subir e descer das águas em sua espacialidade. Visitamos os cemitérios da localidade, acompanhando o dia de Finados, conversando com os moradores da região sobre os rituais fúnebres católicos praticados pelos mesmos, E essa vivência nos mostrou aspectos importantes da sua organização social, presente em muitas regiões rurais do Brasil, como o uso comum da terra, o trabalho coletivo e a predominância do catolicismo. O cemitério situado no centro da comunidade é mais utilizado, trazendo em sua materialidade o ativar da memória acerca dos lá enterrados. Em vários momentos no decorrer do ano ocorre a sua limpeza, onde todos da localidade participam, retirando o “mato” que se formou em seu interior e nas suas proximidades. Esse vínculo solidário, o muxirum, está presente também no cotidiano desses moradores, na lida com o gado, na colheita dos produtos da roça, nos festejos religiosos, entre outros; é o trabalho coletivo. Porém, não ocorre o mesmo em eventos organizados por pessoas não nascidas na região, consideradas “de fora”, a exemplo de uma corrida de cavalos, a Parêa do Cavalo Pantaneiro, definindo identidade/pertencimento. Essas tensões estão postas significativamente também com relação a outras unidades religiosas não-católicas na comunidade. São “os crentes”, que segundo os relatos orais, possuem um funeral diferente ao dos católicos da região, sendo feito “no escuro”, sem velas e cruzes. Por causa desses fatores, segundo o que contam os moradores, “almas penadas” assombram a localidade, pedindo aos viventes os elementos do catolicismo ausentes nos momento de suas mortes, para assim, descansarem em paz. Essa mesma situação ocorre mediante a crítica feita pelos “crentes” aos altares familiares dos católicos, que se constituem de imagens de santos, a Bíblia e outros pertences pessoais e/ou familiares.
CONCLUSÕES:

Desta forma, vivenciando esses ritos da morte, ampliamos o leque de possibilidades para se estudar as relações sociais e os modos de vida desses homens e mulheres no Pantanal Mato-grossense, pois as práticas culturais fúnebres, com suas representações sociais, fazem parte das diferenciadas sociedades humanas, correspondendo a princípios e valores que orientam a vida das pessoas. Os rituais fúnebres servem de apoio para que as pessoas enfrentem, aceitem a ausência do “outro”, fazendo com que seu ente falecido fique na memória de seus familiares e/ou pessoas queridas, com que o morto “morra” dentro das pessoas, ou seja, signifique.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Pantanal Mato-grossense; práticas fúnebres; representações sociais.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006