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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística

PELAS TRILHAS DE MINAS: AS BANDEIRAS E A LÍNGUA DAS GERAIS - A REGIÃO DO SERRO - DADOS DE DORES DE GUANHÃES PARA COMPARAÇÃO

 

Gilvan Mateus Soares 1
Evelyne Dogliani 1, 2
(1. Faculdade de Letras/FALE-UFMG; 2. Orientadora)
INTRODUÇÃO:
A comunicação apresenta os resultados parciais da segunda etapa do projeto de pesquisa “Pelas trilhas de Minas: as bandeiras e a língua das Gerais - a região do Serro - dados de Dores de Guanhães para comparação”. Uma das hipóteses que orientam o projeto é a de que o português falado em Minas Gerais deve algumas de suas características ao movimento das bandeiras. Supõe-se que fenômenos de retenção sejam identificáveis em cidades situadas na rota das bandeiras, o que determinou a escolha da cidade do Serro. A partir dos primeiros resultados, obtidos por análise guiada pelo modelo variacionista, identificou-se a necessidade de uma outra etapa, também tributária desse modelo, que assinala a dimensão geográfica como um dos fatores de análise. O desenvolvimento da pesquisa requer, então, a comparação dos fenômenos detectados na região do Serro à produção lingüística de outras cidades da rota das bandeiras, bem como à de outros centros não relacionados ao movimento bandeirante. Para tanto, realizou-se uma primeira coleta de dados em Dores de Guanhães. Parte desses dados já foi transcrita e submetida a uma análise qualitativa, para efeito de comparação com os dados do Serro já quantificados. Essa análise contempla fenômenos fonológicos, sintáticos e, a título de exemplificação, aspectos do léxico.

 

METODOLOGIA:

1) Leitura, fichamento e discussão de textos para iniciação à pesquisa sociolingüística.

2) Realização de entrevistas, gravadas com o consentimento prévio de cada informante, nos moldes labovianos, isto é, por meio de um questionário que orienta, na medida do possível, a entrevista a ser realizada, buscando a produção do vernáculo.

3) Seleção de informantes de diferentes faixas etárias, grupos sócio-econômicos e níveis de escolaridade, naturais de Dores de Guanhães ou residentes na localidade desde a infância (5 anos), sem período de ausência do município maior do que um ano.

4) Transcrição das entrevistas orientada pela ortografia convencional.

5) Análise dos dados.

 

RESULTADOS:

A partir da transcrição das entrevistas, foram levantados os seguintes fenômenos:

a) lexicais: 1-vocabulário: alguns vocábulos encontrados parecem ser característicos da região de Dores, por exemplo: mijolo: sentido de “farinha” e o de “instrumento para se fazer farinha”; meeira: significando “proximidade”, “arredores”; 2-formas arcaizantes: preguntado e luitava;

 b) fonológicos: 1-alçamentos do /e/ (remidiado, jinipapo, jijum) e do /o/ (missunáru, pruibiu) e abaixamento do /i/ (premero, deferença) e do /u/ (adole) em relação ao comportamento de Belo Horizonte; 2- o fonema /t/ palataliza-se diante de /u/ e diante de /a/ em alguns itens (como em muitchu, oitchu, muitcha) e despalataliza-se diante de /i/, como em porrete e tive, fenômeno que se estende ao /d/, como em pode e dia, pronúncias essas em contexto não-esperado, de acordo com a fala comum na região; 4-variação da nasal palatal e da lateral palatal;

 c) sintáticos: relação entre estrutura morfológica (forma sintética x forma analítica x forma pronominal) e função sintática do experienciador (na função de sujeito -ExpS- x na função de objeto -ExpO) dos verbos psicológicos.

 

CONCLUSÕES:

Com os resultados obtidos, podemos dizer que:

1) a consideração dos itens lexicais e dos processos fonológicos e sintáticos visou ao objetivo mediato de se conhecer um pouco da língua veiculada pelos dorenses, na qual pudemos observar fenômenos recorrentes em diferentes áreas dialetais;

2) os processos de variação da nasal palatal e da lateral palatal caracterizam, de modo geral, a fala dorense. Essa variação, contudo, parece condicionada por fatores não-estruturais (escolaridade) e estruturais (léxico);

3) os dados da fala dorense, embora parciais, confirmam o uso preferencial das estruturas dos verbos psicológicos, conforme trabalhos anteriores. Isto é: esses verbos privilegiam as estruturas ExpS (experienciador na função de sujeito) e favorecem a construção analítica para ExpS e a construção sintética para ExpO (experienciador na função de objeto).

Observa-se, então, que vários dos fenômenos descritos são semelhantes àqueles já observados na região do Serro. Se esses fenômenos forem comuns às outras cidades situadas na rota das bandeiras, será possível a construção de algumas inferências acerca das características da língua utilizada pelos bandeirantes.
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Variação; Fonologia; Sintaxe.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006