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G. Ciências Humanas - 5. História - 4. História e Filosofia da Ciência

MAPEANDO OS ECLIPSES DO SOL (1850 – 1900).

Ana Lúcia Pinto do Nascimento  1
Christina Helena Barboza  2
(1. Departamento de História - Universidade Federal do Rio de Janeiro / UFRJ; 2. Orientadora - Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) / MCT)
INTRODUÇÃO:

Este projeto se insere na área de História e Filosofia da Ciência e possui como objeto de análise as expedições astronômicas realizadas no Império do Brasil durante a segunda metade do século XIX. Estas expedições foram organizadas com o fim de observar eclipses totais do sol, já que desde pelo menos 1842 este era considerado o momento oportuno para o aprofundamento de estudos sobre determinados aspectos relativos ao sol. Através destes fenômenos, os astrônomos oitocentistas esperavam “penetrar nos mistérios da constituição física do sol”. A necessidade de estar presente no local de melhor observação do eclipse fazia com que expedições de diferentes nacionalidades convergissem para a mesma região, o que poderia promover uma interação entre cientistas brasileiros e estrangeiros. Deste modo, as expedições para a observação de eclipses totais do sol permitem investigar tanto aspectos teóricos subjacentes à prática da astronomia na segunda metade do século XIX quanto os aspectos ideológicos das relações que se estabeleciam entre cientistas de nacionalidades diversas na suposta “comunidade científica internacional”.

METODOLOGIA:
A pesquisa desenvolvida tomou para estudo de caso a expedição patrocinada pelo governo imperial brasileiro para observar o eclipse total do sol, ocorrido em 7 de setembro de 1858. Sob a organização do Imperial Observatório do Rio de Janeiro, a comissão responsável por esta expedição foi composta pelo diretor da instituição e outros sábios brasileiros, e contou ainda com a participação do astrônomo francês Emmanuel Liais, do Observatório de Paris. Os relatos e os resultados dos estudos realizados durante a expedição constituíram as principais fontes primárias desta pesquisa, tais como: o relatório da comissão brasileira designada para a expedição, publicado anos mais tarde na Revista do Observatório; as memórias de Liais a propósito deste eclipse, publicadas no periódico Comptes Rendus da Academia de Paris; e alguns capítulos do livro de viagens deste astrônomo, intitulado L’Espace Celeste et la Nature Tropicale – Description physique de l’Univers d’après des observations personnelles dans les deux hémisphères. Durante a pesquisa, o trabalho se concentrou na análise e comparação das informações apresentadas no relatório brasileiro e nas memórias de Liais, nas quais ele apresenta sob seu ponto de vista as atividades e os estudos realizados na expedição.
RESULTADOS:
De acordo com a análise e comparação das fontes, pode-se perceber que o conhecimento científico dos brasileiros equiparava-se aos do sábio francês, mostrando que eles se encontravam atentos e informados sobre as questões importantes para o desenvolvimento da astronomia em meados do século XIX. Segundo o próprio relatório brasileiro “a importância scientifica da observação d’este interessante phenomeno não podia deixar de manifestar-se no Brazil”. O reconhecimento desta importância científica se torna ainda mais relevante ao constatar-se o apoio dado pelo Estado brasileiro a uma expedição cujo objetivo não era estritamente utilitário. No que diz respeito às relações entre os integrantes da expedição chamaram a atenção a divisão dos trabalhos e o contraste entre os instrumentos científicos utilizados. Enquanto os brasileiros se concentraram na extremidade oeste da Estação Central de observação do eclipse, encarregando-se cada um de um determinado instrumento, Liais observou na extremidade leste munido de vários instrumentos, inclusive daqueles destinados para a fotografia. Isto indica que não houve uma efetiva interação na realização dos trabalhos astronômicos.  Por outro lado, as observações realizadas durante esta expedição deram uma contribuição para as discussões em torno da questão da natureza da coroa solar cujo valor foi reconhecido internacionalmente. Além do mais, ela foi pioneira na utilização da fotografia durante a observação de um eclipse solar.
CONCLUSÕES:
A primeira conclusão diz respeito à necessidade de prosseguirem as pesquisas tendo como tema as expedições astronômicas, que embora muito rico e interessante ainda é pouco explorado pela historiografia, em contraste com o interesse despertado pelas expedições naturalistas, com as quais compartilharam o contexto geopolítico e ideológico do século XIX. Vale destacar, contudo, que os dois tipos de expedições se diferenciavam em relação a muitos aspectos, como por exemplo, os locais de trabalho. Assim, se as naturalistas podem ser consideradas como expedições desbravadoras da natureza e dos territórios, as astronômicas priorizavam a comodidade na escolha do local, buscando facilidades de infra-estrutura e uma visão mais limpa do céu. Uma outra conclusão diz respeito à existência no Brasil de uma prática científica em astronomia não apenas de caráter pragmático, preocupada com a aplicação de uma ciência produzida alhures em projetos nacionais, mas também de caráter teórico, em que se procurava inserir a ciência produzida no país em temáticas e discussões contemporâneas, travadas na Europa.
Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Expedições Científicas ; Eclipses Solares; Império Brasileiro.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006