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D. Ciências da Saúde - 8. Fisioterapia e Terapia Ocupacional - 1. Fisioterapia e Terapia Ocupacional
AVALIAÇÃO POSTURAL ESTÁTICA QUANTIFICADA EM PORTADORES DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA USUÁRIOS DA LINGUAGEM BRASILEIRA DE SINAIS (LIBRAS)
Marina Campos Zuardi 1
Larissa Christina Rossit Silveira 1
Thaís Cristina Chaves 2
Débora Bevilaqua Grossi 3
Antonio Waldo Zuardi 4
Anamaria Siriani de Oliveira 3
(1. Graduandas em fisioterapia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP; 2. Fisioterapeuta mestre em ortopedia do Departamento de Biomecânica da FMRP - USP; 3. Fisioterapeutas doutoras membras do Departamento de Biomecânica da FMRP - USP; 4. Médico doutor membro do Departamento de Neurologia e Psiquiatria da FMRP - USP)
INTRODUÇÃO:
A deficiência auditiva é uma das limitações mais importantes da oportunidade de desenvolvimento de um indivíduo. Sendo a audição um sentido essencial para aquisição da linguagem, o surdo congênito está fisicamente impossibilitado de aprender o principal veículo de comunicação humana – a palavra. Desta forma, estes indivíduos utilizam outro método de comunicação, a linguagem de sinais. O uso da linguagem de sinais traz para o sistema músculo-esquelético, dos indivíduos que dela se utilizam, um papel além daqueles desempenhados em indivíduos que se comunicam por meio da fala. Um recurso que vem sendo utilizado para a realização de avaliação postural é a fotogrametria computadorizada, também denominada biofotogrametria que, quando associada a um programa matemático, o qual transforma pontos de imagem em eixos cartesianos, torna possível quantificar desvios e assimetrias com exatidão a partir de uma imagem capturada e pontos anatômicos pré-estabelecidos. Desta forma, a hipótese deste estudo foi a de que seriam encontradas diferenças significativas entre as posturas estáticas de deficientes auditivos (DAs) usuários da Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS) e indivíduos com audição normal. Objetivo: O objetivo do presente estudo foi comparar, de forma quantitativa, as características posturais estáticas de portadores de deficiência auditiva, que utilizam a LIBRAS, com as de voluntários sem desvios posturais evidentes e audição normal.
METODOLOGIA:
Participaram do estudo 24 voluntários divididos igualmente em dois grupos: experimental e controle. Os voluntários do grupo experimental deveriam ser portadores congênitos de deficiência auditiva, apresentando um déficit auditivo bilateral e utilizar a LIBRAS como forma principal de comunicação, sendo esta adquirida antes da linguagem oral.Os voluntários do grupo controle deveriam ter audição normal, não apresentar alterações posturais evidentes e serem pareados por sexo, dominância manual, idade, altura e peso com o grupo experimental.A faixa etária foi entre 11 e 19 anos. A fim de servir como referencial para as medidas angulares, marcadores auto-adesivos foram fixados, bilateralmente, em 20 pontos anatômicos, sempre pelo mesmo examinador. Foram registradas quatro fotos de cada voluntário, uma em close da face e três de corpo inteiro: plano frontal vista anterior, plano frontal vista posterior e plano sagital. O voluntário permaneceu em posição ortostática, em trajes de banho, com os pés descalços, posicionados a frente de um fundo azul escuro não reflexivo. As fotos feitas no plano sagital foram tiradas sempre do lado esquerdo. Posteriormente os ângulos propostos foram traçados nas fotos digitais, a partir dos pontos anatômicos demarcados e analisados através de um programa específico de computador. A análise das fotos também foi realizada por apenas um examinador. Em seguida, os valores angulares encontrados foram comparados entre os dois grupos.
RESULTADOS:
Os 23 ângulos foram analisados através do teste t de Student e encontrou-se diferença estatística apenas nos ângulos: comissura labial, Triângulo de Tales esquerdo e angulação do joelho esquerdo. O valor encontrado para o ângulo da comissura labial, nos permite constatar que há uma maior inclinação da cabeça no grupo dos DAs usuários da LIBRAS em relação ao grupo controle. A angulação do triângulo de Tales esquerdo e a do joelho esquerdo, observadas no grupo experimental foi menor que no grupo controle, demonstrando assim, uma assimetria no grupo de voluntários Das. O presente estudo realizou também a confiabilidade intra-examinador das medidas. Esta se constituiu em reavaliar as fotos de 6 voluntários, com intervalo de cinco meses entre a primeira avaliação e a última. Os dados foram então comparados através do intraclass correlation coefficient (ICC). Os resultados da confiabilidade não foram significantes para: o ângulo acrômio-clavicular (ICC= 0.42), triângulo de Tales direito (ICC= 0.43) e o ângulo esterno-clavicular (ICC= 0.56). Para os demais 20 ângulos analisados, os valores de ICC variaram de 0.62 até 1.0, obtendo assim, diferença estatística (p< 0.05).
CONCLUSÕES:
Através da análise dos resultados pode-se observar que dos ângulos avaliados, o triângulo de Tales esquerdo, a angulação do joelho esquerdo e a comissura labial foram menor ou maior quando comparado ao grupo controle. Esses dados revelam alterações em todos os segmentos corporais: cabeça, tronco e membros inferiores, no plano frontal. Acreditamos que a maior inclinação da cabeça dos indivíduos DAs esteja correlacionada a uma diferença entre o déficit auditivo de um ouvido para o outro em um mesmo indivíduo. No entanto, não há relatos a esse respeito na literatura. Possíveis explicações para uma menor angulação do triângulo de Tales esquerdo são: a) uma rotação de tronco; b) uma inclinação do tronco; c) e a freqüência da utilização da LIBRAS. Já a assimetria demonstrada na angulação do joelho esquerdo pode ser influenciada por uma rotação da tíbia, pelo tipo da pelve, por inclinação e/ou rotação de tronco. Apesar de não podermos afirmar qual desses fatores determinou o valor de angulação do joelho esquerdo, estudos prévios mostram que alterações no tronco influenciam no alinhamento dos membros inferiores. Nestas condições experimentais, foi possível constatar que a hipótese inicial de que os DAs usuários da linguagem de sinais teriam alguma alteração postural, em relação ao grupo controle, foi confirmada.
Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: avaliação postural; deficiência auditiva; métodos fotográficos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006