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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística

DISCURSO E EFEITO DE RARIDADE EM FOUCAULT

Shirley Cristina Guedes dos Santos 1
Maria da Conceição Fonseca-Silva  1
(1. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/ UESB)
INTRODUÇÃO:

Neste trabalho, de cunho epistemológico, fazemos um recorte e trabalhamos com a questão que diz respeito à raridade do discurso. Para a problematização e discussão desse tema, mobilizamos pressupostos teóricos estabelecidos por Michel Foucault.

Segundo Foucault (1969), a análise descontínua da história concentra-se na análise do “campo em que se manifestam, se cruzam, se emaranham e se especificam as questões do ser humano, da consciência, da origem e do sujeito” (FOUCAULT, 2005, p. 18). Essa análise volta-se para as especificidades, permitindo a descrição do campo discursivo e a análise dos discursos e dos enunciados que a compõem.

Na tentativa de determinar segundo qual princípio os enunciados aparecem de forma singular, remetem uns aos outros, podem organizar-se em uma mesma figura e carregar significações que podem ser comuns a toda uma época, a análise dos enunciados e das formações discursivas pretende estabelecer uma lei de raridade, cujo objetivo é determinar no enunciado o sistema singular que permitiu seu aparecimento e que relações estabeleceram na sua constituição. Desta forma, o discurso é considerado por Foucault como uma voz silenciosa, um bem finito, útil, limitado, que tem condições particulares de apropriação e utilização e que se pode repetir e transformar dentro de um campo de regularidades.
METODOLOGIA:

O projeto de pesquisa em andamento do qual originou este trabalho tem como parte dos corpora a obra de Michel Foucault.

Um dos mais importantes escritos do filósofo, A arqueologia do Saber, traz um dos conceitos operacionais polêmicos da obra do autor em análise: “raridade do discurso”. Na tentativa de compreender o funcionamento conceitual e operacional para evitar confusões geradas pela vulgata desse conceito, procedemos ao estudo desse escrito.

Leituras e discussões sobre o escrito, direcionadas ao tema em questão, tiveram como propósito localizar a freqüência em que são utilizados o termo raridade e do termo raro e entender como são designados esses conceitos na perspectiva do autor. O primeiro termo foi localizado nove vezes, enquanto o segundo aparece três vezes no escrito.
RESULTADOS:

De acordo com os pressupostos foucaultianos e a análise descontínua da história, a análise do discurso, levando em conta um efeito de raridade, tenta mostrar como determinados textos remetem uns aos outros; podem organizar-se em uma mesma figura; convergem com instituições e práticas; carregam significações que podem ser comuns a toda uma época; e podem se repetir em diferentes épocas, sob diferentes enunciados.

Na busca do princípio que permitiu o surgimento dos únicos conjuntos significantes utilizados em um texto, a lei de raridade estabelecida pela análise dos enunciados e das formações discursivas apóia-se nos seguintes aspectos: o caráter deficitário dos enunciados, ou seja, nem tudo é sempre dito, nem tudo está materializado em um único enunciado; a análise na própria materialidade textual do que pôde ou não ser dito, buscando encontrar as regras e relações que permitiram o aparecimento do enunciado; estuda o enunciado como se este sempre tivesse ocupado uma posição singular, livre de qualquer reduplicação, de qualquer multiplicação de sentidos; permite a circulação dos enunciados como unidades que repetimos, reproduzimos e transformamos, que têm um determinado valor, que, sustentados por discursos, são possíveis a partir de um sistema de regras preestabelecido.

A análise do discurso volta-se para a raridade com o objetivo de determinar no enunciado as relações que desenvolveram e que sistema singular permitiu-lhe o aparecimento e a sua constituição.
CONCLUSÕES:
A análise descontínua que busca descrever os acontecimentos discursivos procura entender como enunciados diversos são sustentados por um mesmo discurso. A partir da análise do efeito de raridade, segundo Foucault (1969), é possível entender a repetição, a transformação, a reprodução do discurso e, ao mesmo tempo, a singularidade em que os enunciados aparecem. Neste sentido, os discursos circulam, sejam repetidos, sejam transformados, materializados em diferentes textos em diferentes épocas e tempos.
Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia/ FAPESB
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Análise de Discurso; Campo Discursivo; Epistemologia.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006