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B. Engenharias - 1. Engenharia - 6. Engenharia de Produção

ESTUDO ERGONÔMICO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO D          OS CULTIVADORES DE OSTRAS DE

FLORIANÓPOLIS

André Manfredini Lima  1
Ana Regina de Aguiar Dutra 1
(1. UNISUL)
INTRODUÇÃO:

A maricultura, que envolve o cultivo de moluscos, algas, camarões, crustáceos e peixes, é uma atividade que tem adquirido importância em diversos países de vasto litoral e fornecedora de proteína animal.No Brasil, no âmbito da maricultura, o cultivo de moluscos marinhos possui maior representatividade por meio da produção de ostras e mexilhões. O Estado de Santa Catarina ocupa a liderança nacional da produção de ostras e mexilhões, apesar de ser atividade recente em suas águas marinhas, devido à existência de condições favoráveis ao cultivo. A capital catarinense é a maior produtora de ostras do Estado e do Brasil e possui núcleos de produção nas comunidades de Sambaqui e Santo Antonio de Lisboa, ao norte, e no Ribeirão da Ilha e áreas próximas, ao sul. A ostreicultura apresentou elevadas taxas de crescimento em Santa Catarina no decorrer da última década. No ano de 1991, foram produzidas 43 mil dúzias, vindo a alcançar quase 1,6 milhões de dúzias em 2002. As expectativas para o ano de 2005 eram de chegar a 5 milhões de dúzias. A atividade da maricultura teve início em Florianópolis na década de 70 como um complemento na renda familiar, e se tornando hoje uma opção de trabalho rentável. Mas, as condições de trabalho dos produtores de ostras se mostram, muitas vezes, inadequadas, colocando-os em risco. Neste sentido, objetiva-se nesta pesquisa recomendar uma adequação das condições de trabalho aos produtores de ostras, por meio da Ergonomia, que procura adaptar o trabalho ao homem.

METODOLOGIA:

Os estudos ergonômicos foram realizados em dois postos de cultivos de ostras, com situações tecnológicas diferentes, mediante o emprego da metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho, que está dividida em cinco etapas: 1) Análise ergonômica da demanda: procura-se definir os problemas ergonômicos mais críticos, com base em vistas in loco e análise de alguns documentos pertinentes. 2) Análise ergonômica da tarefa: procura-se levantar as condições técnico-ambientais e organizacionais e psico-sociais da situação de trabalho em estudo. Neste sentido, é necessário o levantamento de informações sobre as condições de trabalho, a partir da análise de documentos, observações e entrevistas com os trabalhadores, eventualmente, medições do ambiente de trabalho. 3) Análise ergonômica das atividades: aqui se procura identificar os comportamentos desenvolvidos pelos trabalhadores, mentais e físico-musculares, para a realização da tarefa prescrita. Portanto, é necessário fazer uso de observações sistemáticas e entrevistas com os trabalhadores. 4) Diagnóstico Ergonômico: estabelece-se, nesta etapa, um diagnóstico das principais patologias ergonômicas, existentes na situação de trabalho analisada, que devem merecer uma transformação. 6) Caderno de Encargos de Recomendações Ergonômicas: busca-se aqui definir as recomendações ergonômicas, visando uma melhoria das condições de trabalho e um aumento da produtividade da situação analisada.

RESULTADOS:

Os resultados obtidos são apresentados aqui conforme a sistemática de aplicação da metodologia ergonômica.Na análise ergonômica da demanda, identificou-se que os problemas mais críticos dizem respeito às condições técnicas de trabalho, relacionados principalmente a natureza rudimentar de algumas ferramentas e equipamentos. Ainda, nesta etapa, observou-se que os trabalhadores apresentam queixas de dores nas pernas e costas. Na etapa da análise ergonômica da tarefa, que coincide com a análise das condições de trabalho, verificou-se que as ferramentas e equipamentos são por vezes pesados e de difícil manuseio. Os espaços de trabalho, incluindo leiaute e vias de acesso, mostraram-se limitados para a realização das atividades, enquanto que as bancadas apresentaram medidas inadequadas em relação aos dados antropométricas dos trabalhadores.Já na análise das atividades, observou-se que os trabalhadores realizam um esforço físico significativo para tirar as ostras do mar, lavar e classificar, numa postura de pé e com o tronco flexionado pra frente, quase todo o tempo da jornada de trabalho. Como diagnóstico, confirmou-se que as dores lombares e nas pernas ocorrem em função do esforço físico prolongado exigido pelas atividades de produção, em condições precárias de trabalho. As recomendações foram no sentido de organizar os espaços de trabalho, conceber ferramentas e equipamentos mais leves e de empunhaduras mais adequadas, possibilitar as pausas durante as atividades, permitindo alteração  ente as posturas de pé e sentado.

CONCLUSÕES:

Atualmente, a atividade de malacocultura se desenvolve em quase todo o litoral catarinense, cerca de ¾ da costa. Santa Catarina vem sendo responsável por aproximadamente 85% de toda a produção nacional neste segmento, 90% da produção nacional de ostras e 93% da produção de mexilhões. Neste sentido, em função da importância desta atividade para o desenvolvimento do Estado, buscou na metodologia ergonômica subsídios para estudar e melhorar as condições de trabalho dos produtores deostras. A intervenção ergonômica tem-se apresentado como um recurso efetivo para a minimização ou controle do desconforto físico ocupacional. A efetividade destas medidas ocorrerá em função da capacidade das medidas ergonômicas de neutralizar ou amenizar os fatores de risco promotores das lesões. Nos Estados Unidos a cada dia surgem mil novos casos de trabalhadores afetados por lesões por esforços repetitivos, o que indica um problema sério, tanto no aspecto da saúde como no da economia. Dados mais recentes mostram que, anualmente, mais de US$ 2,1 bilhões são gastos em indenizações e cerca de US$ 100 milhões em custos indiretos. As lesões por esforços repetitivos ou distúrbios osteomusculoligamentares relacionados ao trabalho (DORT) são doenças dos membros superiores, ombros e pescoço, causadas pela sobrecarga de um grupo muscular particular, devido ao uso repetitivo ou pela manutenção de posturas contraídas, resultando em dor, fadiga e declínio do desempenho profissional. Estes problemas estão relacionados, no caso em estudo, basicamente às condições das ferramentas e equipamentos, espaços de trabalho e tempo prolongado na postura de pé.

Instituição de fomento: UNISUL
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: ergonomia; produção de ostras; condições de trabalho.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006