IMPRIMIR VOLTAR
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 5. Teoria Literária

RAP: POESIA ORAL E TRANSMISSÃO DE SABERES: UMA ABORDAGEM DAS COMPOSIÇÕES DE RAPPERS LONDRINENSES

Andressa Massoni 1
Frederico Augusto Garcia Fernandes 1
(1. Universidade Estadual de Londrina / UEL)
INTRODUÇÃO:

O movimento hip-hop ganha destaque no cenário nacional, principalmente através do rap, uma das quatro linguagens que o compõem. Esta linguagem, a qual denominamos elemento, traz em sua gênese características marcadamente orais, as quais estudamos sob a perspectiva literária enquanto uma poesia oral. Rap, palavra inglesa que significa ritmo e poesia, configura-se como um texto poético e expressa, por intermédio de suas letras, a ideologia e a realidade social das populações das bordas. Sua principal função é transmitir informação a fim de conscientizar as comunidades periféricas para a luta contra os preconceitos e as injustiças. O rap designa, assim, a voz de um grupo que se reconhece enquanto marginalizado e menosprezado pelo sistema, porém luta e tenta, de alguma, forma ser notado. Diante da notabilidade que o rap adquire perante os estudos literários, buscamos nas composições poéticas de rappers da Zona Oeste de Londrina, bem como nas entrevistas com grupos desta região, fundamentar nossa pesquisa, a qual contribui para a constituição de um acervo audiovisual, dando margem para estudos posteriores das pessoas que se interessarem por esse movimento.

METODOLOGIA:

A fundamentação metodológica deste trabalho ampara-se em dois pilares: primeiramente, contamos com a leitura e fichamento das bibliografias consultadas (tanto livros quanto pesquisas na Internet), levando em conta as produções específicas sobre o rap e também de textos da Teoria da Literatura que nortearam a análise das letras das canções; e, também, com a produção das fontes orais. Para isso, foi fixado um roteiro de entrevistas, a fim de que assuntos significativos não fossem esquecidos, sendo abordados todos os temas relativos tanto ao movimento quanto ao rap, especificamente, e a experiência de cada entrevistado. Neste processo, a entrevista foi realizada em local mais confortável para o entrevistado e contou com equipamentos específicos – gravadores – em que registramos tanto a fala quanto os gestos. Depois, houve a transcrição, pela qual buscamos registrar onomatopéias e sentimentos que conferem significados à fala do entrevistado. A transcrição permaneceu fiel ao que foi dito, como as gírias e as marcas do português oral. Ao fim de cada entrevista, foi solicitada a autorização verbal, a qual ficou registrada na fita K7, e uma autorização escrita, que permite a divulgação do material coletado. Foi também, durante este contato, que tivemos acesso às composições dos grupos (sendo que a maioria não possui CD gravado), as quais foram utilizadas para análise das letras, dialogando com a teoria literária.

RESULTADOS:

Analisamos o rap no contexto da Poesia Oral por entendermos que ele expressa a realidade vivida na periferia e nas favelas da cidade, ou seja, tomando como base o ponto de vista do morador local e seu sujeito de enunciação é mais coletivo que pessoal. Por isso, o rap não pode ser analisado sem considerar o contexto no qual está inserido, pois, enquanto uma poética oral, deve considerar o sujeito a quem se destina e sua intenção. Neste espaço cultural, o rapper utiliza uma linguagem local, na qual os membros de sua comunidade possam identificar-se e assim assimilar os valores e as normas de conduta que os rappers transmitem através de sua canção. Entre elas, encontramos nos grupos entrevistados ao menos uma letra que tratasse da religiosidade, o que desenha uma moral cristã. Deus é representado como um ponto de apoio e salvação: o rapper prega seguir o caminho de Deus – que se configura no caminho do bem – para combater o "mal", personificado em elementos como violência, drogas e assassinato. Dessa forma, entendemos que os rappers explicam sua realidade pela metáfora bíblica, uma vez que se utilizam referências religiosas em suas construções poéticas.

CONCLUSÕES:

Os rappers retratam a realidade das bordas na tentativa de prevenir outras pessoas a entrarem num mundo de drogas e assassinatos, comum no cotidiano de jovens que vivem nas periferias da cidade. Seus raps são compostos por uma linguagem simples, o que possibilita a identificação com o meio onde atuam. Tal identificação contribui para a propagação dos valores morais e normas de conduta presentes nos raps, os quais corroboram para a criação de uma nova ordem social. Esta função moralizante do rap está no dizer ao outro como proceder. Se encontramos no rap uma função social é porque as bordas necessitam expor o que lá ocorre na tentativa de mudar esta realidade pela conscientização.

Instituição de fomento: PIBIC / CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Poesia Oral; RAP; Função Social.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006