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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos

FORMAÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO E NOVAS TECNOLOGIAS: O CASO DE DUAS EMPRESAS DA REGIÃO DO VALE DO RIO PARDO

Moacir Fernando Viegas 1
Mariana Silva Carlos 1
(1. Universidade de Santa Cruz do Sul)
INTRODUÇÃO:

O projeto de pesquisa intitulado “Formação da Força de Trabalho e Novas Tecnologias: o caso de duas empresas da região do Valo do Rio Pardo”, decorre da problemática levantada na tese de doutorado do Prof. Orientador Moacir Viegas. Na tese o foco era o processo de formação da força de trabalho, via ensino supletivo, realizado pelas empresas para adaptar a qualificação de seus trabalhadores às novas tecnologias.

A reestruturação produtiva, enquanto novo paradigma tecnológico em substituição ao fordismo, tem provocado modificações, não apenas no processo de produção, mas também nas relações sociais. O novo modelo caracteriza-se pela introdução das novas tecnologias de produção e de informação, como a microeletrônica, e novas tecnologias de gestão, que organiza a estrutura dos cargos e suas funções de forma mais flexível. O objetivo das modificações é adaptar a produção a um mercado que se apresenta cada vez mais instável e competitivo.

Todo esse processo demanda novas qualificações para os trabalhadores e para os empresários. E a forma como elas são construídas faz parte da problemática deste projeto, que vem sendo realizado desde 2003. O objetivo central do estudo é compreender as novas exigências e formas de qualificação que as empresas estão implementando. Ou seja, na era na economia informacional, quais serão as novas qualificações exigidas dos trabalhadores?

A pesquisa pretende juntar-se aos estudos sobre as novas qualificações, numa tentativa de definir melhor seu processo de construção. Assim como, pretende-se oferecer subsídios para a elaboração de formas de aprendizagem no processo de trabalho que possa atender às necessidades das empresas e dos trabalhadores.

 

METODOLOGIA:

A pesquisa trata-se de um estudo quantitativo, onde faremos uso da técnica de estudo de caso, com duas empresas: uma indústria multinacional do ramo de sementes e uma do ramo comercial, um supermercado. Os instrumentos utilizados foram entrevistas semi-estruturadas e observações participante.

Os sujeitos da pesquisa foram definidos durante os contatos iniciais com as empresas, onde os critérios foram o envolvimento com a formação da força de trabalho. Na multinacional foram os funcionários do RH, coordenadores e safristas. No supermercado foram atendente de padaria, repositor e atendente de caixa.    

As observações do trabalho executado foram feitas com o intuito de compreender os momentos da educação informal, assim como as formas de auto-aprendizagem.

Na indústria de sementes pudemos analisar dois projetos que visam a formação dos trabalhadores. Um chamado “Integração”, aplicado com os safristas, do qual aplicamos questionários que objetivavam conhecer as características gerais dessa força de trabalho. O outro é realizado com a gerência média e coordenadores, denominado “Imerção”.

Como base teórica usamos basicamente, David Harvey (1989) para a discussão sobre reestruturação produtiva, Manuel Castells (1999) no que se refere a teoria sobre a economia informacional e às novas tecnologias. E para o tema das qualificações e competências nos apropriamos de Lucídio Bianchetti (2001) e, Ikujiro Nonaka e Hirotoka Takeuchi (1997).

RESULTADOS:

Levando em consideração a teoria da economia informacional de Castells, podemos compreender a importância da informação para a nova "pedagogia da fábrica". É através da informação que se buscam novas práticas pedagógicas no interior da produção.

Nos casos observados são disponibilizados à todos os funcionários computadores com acesso à Internet. Há por parte das empresas um incentivo que os funcionários a usem para ver notícias e receber informações da empresa. Assim, criou-se no interior das mesmas, ambientes favoráveis à comunicação espontânea entre os trabalhadores.

Isto tem relação direta com a valorização das habilidades mais complexas, ligadas às subjetividades dos trabalhadores, definidas por competências sociais, tais como criatividade, autonomia, iniciativa, capacidade aprender sozinho, etc. Como apontou Zarifian, trata-se de uma mudança nas qualificações em comparação ao fordismo, onde, este ambiente pode estimular o inter-relacionamento, exigência do próprio modelo produtivo.

Na empresa de sementes, há funcionários estratégicos no setor de produção que têm a função de ser um elo de comunicação entre os “chão-de-fábrica” e a gerência média. No supermercado pudemos identificar apenas lideranças informais, que se mostra positivo para a realização do trabalho.

A constituição da força de trabalho da multinacional caracteriza-se pela segmentação, onde de acordo com Harvey, está presente no modelo de produção atual e torna-se uma das maneiras de enfrentar a incerteza nela presente. A empresa possui dois segmentos, com diferentes níveis de precarização: os trabalhadores efetivos e os safristas, que são contratados apenas no período de beneficiamento do milho, que ocorre entre fevereiro e maio ou junho.

CONCLUSÕES:

Podemos considerar que, a comunicação exigida pelas empresas faz parte de um trabalho pedagógico, cujo objetivo é um maior envolvimento dos funcionários com o trabalho realizado. Esse envolvimento se apropria das capacidades subjetivas no cotidiano da produção, e permitem uma maior significação do trabalho realizado. No entanto, mesmo que haja um maior engajamento do trabalhador com a produção, complexificação das tarefas e intensificação do volume de trabalho, não há, em geral, uma correspondência com o aumento de salário.

As práticas formais de formação na indústria investigada expressam sua segmentação e sua valorização com os funcionários estratégicos. Para estes são desenvolvidos programas de três dias, com metodologias e técnicas avançadas que estimulam a comunicação, trabalhos em equipe e tecnologias de gestão. Já para os safristas o programa tem 20 horas, e trabalha com muitas informações: normas internas, remuneração, medicina e segurança do trabalho, qualidade de vida, etc. Por isso, não há tempo para o diálogo, importante para a compreensão dos conteúdos. Mesmo assim, tem objetivos importantes para o aumento da produtividade: trata-se de uma “remobilização” da força de trabalho, onde as informações e os conhecimentos são atualizados e os laços afetivos são (re) construídos.

Podemos concluir que na era da informação há um contexto de valorização da aprendizagem dentro da empresa, onde o trabalhador deve adequar suas qualificações às necessidades exigidas – autonomia e multifuncionalidade. Como essas competências não são apreendidas formalmente, os funcionários estratégicos têm a função de proporcionar essa formação através da criação de ambientes favoráveis, principalmente, à comunicação.

 

 

Instituição de fomento: Fapergs
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: educação e trabalho; educação de jovens e adultos; teoria crítica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006