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C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 3. Microbiologia

PERFIL DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C EM AFRO-DESCENDENTES DE COMUNIDADES ISOLADAS NO BRASIL CENTRAL

Nara Rubia de Freitas  1
Nádia Rúbia Silva Reis  1
Márcia Alves Dias  1
Laura Branquinho do Nascimento  2
Viviane Rodrigues Tavares  2
Regina Maria Bringel Martins  1
(1. Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública/ IPTSP-UFG; 2. Faculdade de Enfermagem/ FEN-UFG)
INTRODUÇÃO:

A infecção pelo vírus da hepatite C (VHC) tem sido considerada importante problema de saúde pública, sendo transmitida, principalmente, pela via parenteral. Estima-se em mais de 170 milhões o número de pessoas infectadas pelo VHC em todo o mundo, com evolução para hepatite crônica em aproximadamente 85% dos casos, podendo, ainda, desenvolver cirrose e carcinoma hepatocelular.

Os africanos e seus descendentes, cansados de serem utilizados como mão de obra escrava, refugiaram-se em locais de difícil acesso e fundaram os quilombos. Desta forma, várias comunidades vivem isoladamente no Brasil.

Até o momento, não há estudos sobre a infecção pelo VHC na população Afro-Brasileira que vive isoladamente em suas comunidades. Portanto, o desenvolvimento deste estudo é de fundamental importância para o conhecimento do perfil epidemiológico da hepatite C em afro-descendentes do Brasil Central. Estas informações proporcionarão subsídios para ações de prevenção, controle, diagnóstico e tratamento da hepatite C nesta população.

Os objetivos deste estudo foram: determinar a prevalência global da infecção pelo VHC em afro-descendentes de comunidades isoladas dos Estados de Goiás e Mato Grosso do Sul, através da detecção de anticorpos anti-VHC e do RNA viral bem como analisar os fatores associados à infecção pelo vírus da hepatite C nestes indivíduos.

METODOLOGIA:

A população estudada foi constituída de 878 e 1058 indivíduos afro-descendentes provenientes dos Estados de Goiás (três comunidades kalungas) e de Mato Grosso do Sul (12 comunidades), respectivamente, as quais consentiram em participar deste estudo.

Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os indivíduos foram entrevistados sobre dados sócio-demográficos e possíveis fatores de risco associados à infecção pelo VHC e, em seguida, amostras sanguíneas foram coletadas.

 

 

Testes sorológicos

Detecção de anti-VHC - Todos os soros obtidos em Goiás (n=878) e 1.007 (95,2%) em Mato Grosso do Sul foram testados para a detecção de anticorpos para o VHC pelo ensaio imunoenzimático (ELISA) de terceira geração (Bioelisa HCV, Biokit). As 51 (4,8%) amostras restantes de Mato Grosso do Sul não foram testadas para anti-VHC em função do volume de soros insuficiente. As amostras reativas no ELISA foram retestadas por “line imunoassay” (INNO-LIA III HCV Ab, Innogenetics, Bélgica).

Detecção do RNA-VHC

Todas as amostras anti-VHC positivas foram submetidas à detecção do RNA-VHC pela reação em cadeia da polimerase (PCR), utilizando-se “primers” complementares à região 5’ não codificante (5’NC) do genoma do VHC.

Processamento e análise dos dados

Os dados das entrevistas e os resultados dos testes sorológicos e moleculares foram analisados no programa “Epi-Info 6” versão 6.04 (Centers for Disease Control and Prevention, Atlanta, GA).
RESULTADOS:

Inicialmente, comparando as populações estudadas de afro-descendentes de Goiás e Mato Grosso do Sul, foi possível observar semelhança quanto a média de idade, que foi de 28,3 e 28,9 anos respectivamente, predomínio de pessoas solteiras e do sexo feminino, bem como de indivíduos com baixa renda familiar e escolaridade.

            As 878 amostras provenientes da comunidade Kalunga, em Goiás, foram triadas para detecção de anticorpos para o VHC, sendo seis reagentes pelo ELISA. Destas, três foram confirmadas pelo LIA, duas indeterminadas e uma negativa. Posteriormente, os soros anti-VHC reagentes pelo ELISA foram submetidos à detecção do RNA viral pela PCR, resultando em três amostras RNA-VHC positivas. Destas, apenas uma foi positiva pelo LIA e as duas restantes foram LIA indeterminadas. Dessa forma, cinco amostras foram positivas para os marcadores anti-VHC e/ou RNA-VHC, resultando em uma prevalência global de 0,57% na população estudada.

Após a análise de dados dos indivíduos VHC positivos da população estudada em Goiás, observou-se características em comum, como hospitalização (3/5), cirurgia (2/5), compartilhamento de objetos pessoais cortantes (lâmina e alicate) (4/5) e tratamento odontológico (3/5).

Em Mato Grosso do Sul das 1.007 amostras triadas pelo ELISA, 10 foram anti-VHC fracamente reagentes. Destas, duas foram indeterminadas e oito negativas pelo ensaio suplementar LIA. As amostras anti-VHC positivas foram submetidas à detecção do RNA viral, sendo todas RNA-VHC negativas.
CONCLUSÕES:

- A prevalência global da infecção pelo vírus da hepatite C de 0,57% na população isolada de afro-descendentes de Goiás evidencia baixa exposição desta ao VHC, enquanto que o índice de 0% na população de Mato Grosso do Sul revela a não circulação deste vírus nas comunidades estudadas;

- Características de risco como compartilhamento de objetos cortantes de higiene pessoal, história de tratamento odontológico, hospitalização e cirurgia foram observadas nos indivíduos infectados pelo VHC na comunidade Kalunga.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: hepatite C; vírus da hepatite C; afro-descendentes.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006