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C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 5. Micologia

DIVERSIDADE E COMPOSIÇÃO DA COMUNIDADE DE FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES EM DUAS ÁREAS DE MATA ATLÂNTICA DE SERGIPE

Juliano Silva Lima 1
Myrna Friederichas Landim  1
(1. Departamento de Biologia / UFS )
INTRODUÇÃO:

Micorrizas são associações simbióticas formadas entre raízes de plantas e fungos, os quais possuem elevada capacidade de absorção de nutrientes, especialmente o fósforo. Exercendo desse modo grande influência nas condições de crescimento e nutrição da maioria das plantas, por esse motivo os fungos micorrízicos-arbusculares (FMAs) podem ser utilizados com sucesso na recolonização de áreas perturbadas. A diversidade, a densidade e o potencial infectivo dos FMAs no solo estão relacionados, indiretamente, às condições naturais de cada ambiente e, diretamente, com a fisiologia do fungo. A colonização micorrízica, por sua vez, está relacionada à estrutura genética do fungo e do hospedeiro, bem como ao ecossistema em questão. Solos muito ricos em P, Ca e Mg não apresentam FMAs em grande quantidade, visto que plantas em estado de baixo estresse nutricional raramente associam-se com fungos micorrízicos. O estudo do funcionamento dos FMAs em plantas nativas visando um manejo mais eficaz da interação fungo-hospedeiro é de grande importância para a recuperação de ecossistemas tropicais. Para isso é necessário um conhecimento sobre a atividade e comportamento destes fungo nesses ecossistemas. O presente trabalho busca analisar a composição, distribuição espacial e riqueza de esporos de FMAs encontrados em  duas áreas dentro do domínio da Mata Atlântica em Sergipe.

METODOLOGIA:

O estudo foi conduzido em duas áreas de domínio de Mata Atlântica que se encontram diferentemente afetadas pelas atividades humanas. A primeira área escolhida foi o Parque Governador José Rollemberg Leite (10º53’17’’S, 37º03’19’’O), localizado no Bairro Industrial, região norte da cidade de Aracaju, SE, único fragmento de Mata Atlântica ainda existente nesta cidade. Três pontos, diferindo quanto à estrutura do solo e cobertura vegetal, foram escolhidos, sendo neles coletadas amostras de solo rizosférico (área desmatada, borda da mata, interior da mata). A segunda área foi a Reserva Biológica de Santa Isabel (REBIO Santa Isabel) (10º47’468’’S, 36º50’00’’O), localizada no município de Pirambu, SE, situada na região da planície litorânea, ocupada por vegetação de restinga. Nela foram determinadas três regiões como pontos de coleta ao longo de um perfil perpendicular à linha de costa, com variada cobertura vegetal (área de costa, área de dunas, mata de restinga). Após a coleta dos inóculos (solo rizosférico), o pH e o teor de matéria orgânica no solo foram determinados. Parte das amostras foram destinadas a construção de culturas armadilhas para estabelecimento e multiplicação de esporos de FMAs para estudos futuros, e parte destinada a identificação das morfoespécies dos mesmos. Para extração de esporos foi utilizado a peneiração à úmido, sendo posteriormente preparadas lâminas permanentes (PVLG), para caracterização de sua estrutura e identificação das morfoespécies.      

RESULTADOS:
Nas duas áreas analisadas foram encontrados os cinco gêneros da ordem Glomales, embora diferenças na composição espacial e riqueza de FMAs tenham sido encontradas em ambas as áreas. O Parque da Cidade apresentou menor quantidade de morfoespécies de FMAs (31 morfoespécies) do que a REBIO Santa Isabel (35 morfoespécies). Isso pode estar relacionado aos diferentes tipos de solo dessas duas áreas, argiloso no Parque da cidade, e arenoso na REBIO Santa Isabel. A família Gigasporaceae apresentou maior número de morfoespécies (16), isso ocorreu devido as espécies desta família não apresentarem preferência quanto à acidez ou alcalinidade do solo (pHH2O: Parque da Cidade: 3,85-5,76; REBIO: 5,13-6,35). Acauloporaceae e Glomaceae apresentaram respectivamente menor riqueza (11 e quatro morfoespécies). No Parque da Cidade a distribuição das morfoespécies de FMAs seguiu o esperado, tendo a área desmatada e a borda do bosque apresentado menor riqueza (nenhuma e 12 morfoespécies, respectivamente) do que o interior da mata (27 morfoespécies). Nas amostras provenientes da REBIO de Santa Isabel foi observada diferença entre a riqueza de FMAs nos diferentes pontos de coleta. O maior número destas morfoespécies foi observado na área de costa (22 morfoespécies) enquanto a mata de restinga e área de dunas ambas apresentaram (17 morfoespécies). Esse dados sugerem que a proximidade do mar representa um importante fator para o estabelecimento dos FMAs nesta região.
CONCLUSÕES:
Em ambas as áreas, exemplares dos cinco gêneros da ordem Glomales foram encontrados. O Parque da Cidade apresentou menor riqueza de morfoespécies de FMAs quando comparado com a REBIO Santa Isabel. Dentre as famílias encontradas em ambas as áreas, a que apresentou maior abundância de morfoespécies foi Acaulosporaceae, principalmente do gênero Acaulospora. Na área de Mata Atlântica, os pontos de coleta localizados no interior da mata apresentaram o maior número de morfoespécies. Na restinga, entretanto, o maior número de morfoespécies foi observado na região mais próxima ao mar, sugerindo que a proximidade do mar pode influenciar no estabelecimento e na riqueza de FMAs nas regiões costeiras. De fato, embora a REBIO Santa Isabel tenha apresentado uma maior riqueza de morfoespécies, em dois pontos de coleta (área de restinga e área de dunas) apresentaram menor riqueza do que o interior da mata no Parque da Cidade. Por sua vez, os valores de matéria orgânica nestas áreas foram menores do que os obtidos nas amostras do Parque da Cidade, o que pode estar relacionado diretamente à maior riqueza de FMAs nesta área. Com esse trabalho pôde ser observado a existência de populações de FMAs mesmos em áreas com baixo teor de matéria orgânica, populações essas que podem ser testadas em novos experimentos para recuperação de áreas degradadas de Mata Atlântica.
Instituição de fomento: CNPq / PIBIC
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Fungos micorrízicos; Mata Atlântica; Sergipe.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006