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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
RESISTÊNCIA: UMA UTOPIA POSSÍVEL?
Angela Caniato 1
Claudia Cotrim Cesnik  2
(1. Profª. Dra. do Dept. de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá, UEM.; 2. Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá, UEM.)
INTRODUÇÃO:

O presente estudo está vinculado ao Projeto de Pesquisa-Intervenção "Phenix: a Ousadia do Renascimento da subjetividade cidadã" e pretendeu fornecer subsídios teóricos à práxis dessa Pesquisa-Intervenção realizada com adolescentes. Buscou-se compreender alguns aspectos do processo de resistência – da reafirmação da vida – em condições sócio-históricas adversas de existência. O tema de estudo, resistência, foi definido como: fazer oposição, não ceder e/ou sobreviver ao adverso, às dificuldades, às imposições e àquilo que não privilegia a autonomia subjetiva e emancipação psicossocial do homem. O interesse pela temática abordada nesta pesquisa surgiu a partir de um trabalho realizado desde 2002 com adolescentes de classes pauperizadas, no Projeto de Pesquisa-Intervenção “Phenix". Durante a realização desse trabalho com os adolescentes, observou-se que, mesmo enfrentando dificuldades referentes à sua situação econômica, eles encontravam formas e caminhos para driblar e enfrentar os obstáculos e empecilhos que a eles se apresentavam; embora, por vezes, também chegassem a colocar suas próprias vidas em risco, ainda que estivessem tentando marcar e reafirmar sua existência e sua condição de sujeitos desejantes.

METODOLOGIA:

Mantendo a mesma visão de homem do Projeto Phenix”, a pesquisa atual teve como enfoque metodológico a visão histórico-dialética do homem, na qual os indivíduos são considerados como agentes de transformação da cultura e concomitantemente construídos nessa relação. O indivíduo é aqui entendido como um ser marcado pela incompletude constituinte e pela dependência em relação ao outro – mediador da cultura – características que conduzem o sujeito a buscar a união com os demais e a transformar continuamente a cultura, sócio-historicamente articulada (FREUD, 1981). Portanto, o atributo básico deste homem é a possibilidade de perpetrar e criar novas alternativas e caminhos para o desenvolvimento de relações humanas que privilegiem a busca de felicidade e a diminuição do sofrimento. A metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica mediante estudo de autores que tratam sobre o tema.

RESULTADOS:

Pôde-se entender nessa pesquisa que, na contemporaneidade, a existência humana vem sendo marcada por formas de viver destrutivas para os indivíduos; principalmente a partir da configuração do atual panorama econômico de desemprego e exclusão social, pobreza e miséria em escala mundial, consumismo, transmissão massiva pela mídia de valores destrutivos, como competitividade e performance, banalização da violência, culto ao corpo, imediatismo e glorificação da mentira (CANIATO, 2004). Durante o estudo, caracterizou-se uma das formas de resistência como precária, isto é, embora o indivíduo tente se opor ou negar um existir estruturado prioritariamente sob destruição, seus meios para efetuar mudanças são rudimentares e acabam levando-o a usar sua agressividade interna contra si mesmo (FREUD, 1981), ao invés de despregá-la contra aquele ou aquilo que o violenta, sendo, pois, cúmplice desse processo tornado autofágico. Isso conduz a uma sobrevivência, principalmente subjetiva, mantida sob condições adversas e de forma bastante penosa e prejudicial para o indivíduo. Porém, a resistência pode se desenvolver sem que o sujeito utilize descontroladamente mecanismos psíquicos primários, mas suas potencialidades somadas à força do coletivo, bem como suas capacidades de julgamento, criativas e discriminativas, para fazer permitir e permitir-se usar sua agressividade interna para proteger-se e enfrentar aquilo que violenta a si e ao seu coletivo e que é gerado pela/na cultura contemporânea.

CONCLUSÕES:

Dessa forma, a resistência pode estar fortemente associada ao conformismo (CHAUÍ, 1986) quando não há, juntamente com a tentativa de manutenção da sobrevivência, uma busca de mudança ou transformação das condições sociais que violentam e destroem o humano dos homens. Esse processo pode gerar, também, a adoção de práticas desesperadas que tendem a levar, até mesmo, ao auto-aniquilamento. Por isso, o que se traduz como uma estratégia de resistência (precária) ante um poder superior e/ou à adversidade, pode também ser entendido como uma forma de conformismo ou, ainda, analisado na dialética conformismo e resistência. Isso significa que os termos, aparentemente contraditórios conformismo e resistência – não são considerados como mutuamente excludentes, eles podem coexistir numa mesma ação humana. A resistência é, portanto, marcada pela tentativa de criar outras maneiras de viver que estejam associadas ao enfrentamento e à luta contra formas de inserção social autoritárias, as quais violentam e agridem os homens. Destarte, o processo psicopolítico de resistência tem como foco a mudança nas relações humanas, com o intuito de que os homens construam entre si vínculos de cooperação e amparo; vínculos que possam ajudá-los a enfrentar e minimizar os sofrimentos, inerentes a sua finitude, e a viabilizar sua felicidade.

Instituição de fomento: CNPq-UEM.
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: conformismo/resistência; emancipação psicossocial; sofrimento/felicidade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006