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A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 2. Química Ambiental

AVALIAÇÃO ECOTOXICOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA DO RIO MEIA PONTE.

Cinara Machado Rodrigues do Prado 1
Nelson Roberto Antoniosi Filho 1
Maria Gizelda de Oliveira Tavares 1
Wesson Guimarães  1
Daniela Rodrigues de Rezende 1
Maria Isabel Ribeiro Alves 1
(1. Instituto de Quimica , Universidade Federal de Goiás, IQ/UFG)
INTRODUÇÃO:

O Rio Meia Ponte nasce na Serra dos Brandões, nas proximidades de Itauçú e Taquaral de Goiás, a 60 km de Goiânia, e percorre uma extensão de 471,6 km até desaguar no Rio Paranaíba. Seus principais afluentes são o Ribeirão João Leite e os Rios Caldas e Dourados. Sua bacia hidrográfica abrange uma área de aproximadamente 12.180 Km2, o que representa cerca de 4% da área do território do Estado de Goiás. Nessa região estão inseridos 35 municípios, onde vivem dois milhões de habitantes, o que corresponde a 43 % da população total do Estado. O desenvolvimento industrial e o crescimento populacional das regiões adjacentes ao Rio Meia Ponte têm afetado negativamente a qualidade de suas águas. A grande maioria das indústrias localizadas nas suas margens não possui sistema de tratamento e disposição de resíduos. O extrativismo mineral associado à agropecuária intensa provocou o desmatamento de matas ciliares e áreas de várzeas, ocasionando processos erosivos severos que comprometem a quantidade e a qualidade de água na bacia. Com base na importância do Rio Meia Ponte para Goiás, realizou-se o estudo físico–químico e ecotoxicológico das águas deste recurso hídrico. Assim, avaliou-se a presença de pesticidas organoclorados e óleos e graxas nas águas de um dos principais recursos hídricos do estado, e quais as influências destes poluentes sobre bioindicadores.

METODOLOGIA:

Foram coletadas amostras de água do Rio Meia Ponte em seis localidades do perímetro urbano de Goiânia nos períodos de seca e de chuva, os quais foram chamados de Ponto 1 (Jusante de ETE), Ponto 2 (Ponte do Criméia Leste), Ponto 3 (Ponte do Criméia Oeste), Ponto 4 (Córrego Caveirinha), Ponto 5 (Córrego Cascavel) e Ponto 6 (Ribeirão Anicuns). As coletas do dia 11/11/2004 foram feitas em baldes de polietileno, de 20 litros, e as do dia 02/08/2005 foram feitas com garrafa de Van Dorn, de 5 litros, retirando-se uma pequena porção (@ 500 mL) em béquer. Realizou-se in situ, as análises de pH, condutividade (μ.S.cm-1), turbidez (NTU), O.D (mg. L-1) e temperatura (°C) utilizando-se de uma multisonda HORIBA®. Para determinar a dureza total da água foi feita uma titulação complexametrica, usando como titulante uma solução padrão de EDTA 0,01 mol. L-1 e como indicador Metalocrômico o negro de EriocromoT.Os testes ecotoxicológicos foram efetuados por 48 horas, em sistema estático, em aquários contendo, cada um deles, três litros de fase líquida (água de diluição ou água de diluição com água coletada no Rio Meia Ponte em concentrações crescentes) e cinco exemplares de Danio rerio (vulgo paulistinha), previamente ambientados.O procedimento para a análise de pesticidas organoclorados e de óleos e graxas baseia-se em uma extração líquido-líquido utilizando partição com solvente apolar. A fase orgânica foi analisada em um Cromatógrafo Gasoso, modelo Hewlett-Packard 6890.

RESULTADOS:

Os resultados obtidos das análises físico-químicas demonstraram que, todos os pontos de coleta d´água apresentaram pH (6 - 9), turbidez (inferior a 100 NTU) e condutividade dentro dos valores previstos em lei. Com relação ao teor de oxigênio dissolvido (inferior a 5 mg O2. L-1), os Pontos 1, 3 e 6 apresentaram teores menores do que o limite estabelecido pela Resolução CONAMA N0 357. Apresentaram dureza fora da faixa admitida (40 – 48 mg CaCO3. L-1) os Pontos 1, 2, 3, 6 e 5 para a coleta realizada em 2004 e os Pontos 2, 4, 5 e 6 para a coleta de 2005. Os resultados dos testes ecotoxicológicos agudos, para cada um dos pontos de coleta d´água, na época de chuva e de seca, demonstraram que a água coletada no Rio Meia Ponte não promoveu a mortandade de peixes do gênero Danio rerio em sistema estático. Os resultados da análise de pesticidas organoclorados para a coleta de 2004 pode ser comprovada a presença dos pesticidas organoclorados Endrin e Mirex nos Pontos 2 até 6, DDD e DDT nos Pontos 3 e 6 e Lindano no Ponto 3. Para a coleta de 2005 pode ser comprovada a presença dos pesticidas organoclorados λ-Clordano e Mirex nos Pontos 3 e 6 e Aldrin nos Pontos 4 e 5. Sendo que todos com valores bem acima do máximo estabelecido pela legislação CONAMA N0 357. (Limites máximos permitidos: Endrin 0,004 μg.L-1 Mirex 0,001 μg.L-1, Lindano 0,02 μg.L-1, DDD e DDT 0,002 μg.L-1, Aldrin 0,005 μg.L-1 e λ-Clordano 0,04 μg.L-1).

 

CONCLUSÕES:

Através da observação direta do Rio Meia Ponte, em diferentes pontos do perímetro urbano de Goiânia, registrou-se uma grande quantidade de lixo no seu leito e nas suas margens, a falta de mata ciliar em vários trechos e a existência de efluentes domésticos e industriais. Apesar de tantas agressões, os testes ecotoxicológicos não evidenciaram a mortandade dos bioindicadores Danio rerio, mostrando que ainda é possível a ocorrência de ictiofauna neste aqüífero. Embora a ecotoxicologia não tenha mostrado resultados problemáticos, as análises de alguns parâmetros físico-químicos e a análise de pesticidas organoclorados permitem concluir que em vários trechos do perímetro urbano, a água do Rio Meia Ponte não se encontra dentro dos padrões de qualidade requeridos para águas de classe 2. A ecotoxicologia junto com a caracterização de alguns parâmetros físico-químicos constituem assim ferramentas poderosas e indispensáveis na avaliação da qualidade ambiental das águas dos principais recursos hídricos utilizados como fonte de abastecimento público, e devem ser adotadas em conjunto pelas agências e órgãos de fiscalização como métodos de rotina em atividades de gerenciamento ambiental.

Instituição de fomento: CNPq, Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEMA-Goiás).
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: rio Meia Ponte; poluentes; ecotoxicologia.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006