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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 1. Ecologia Aplicada

UTILIZAÇÃO DE MUSGOS NA DETECÇÃO DA DEPOSIÇÃO ATMOSFÉRICA DE METAIS PESADOS EM CAXIAS DO SUL, RS

Aline Corrêa Mazzoni 1
Alois Schäfer 1
Rosane Lanzer 1
Juçara Bordin 1
Jochen Kubiniok 2
(1. Universidade de Caxias do sul; 2. Universidade de Saarland)
INTRODUÇÃO:

Os musgos são plantas avasculares, pertencentes ao grupo das briófitas e têm sido muito utilizados em países europeus como bioindicadores da poluição atmosférica causada por metais pesados devido, principalmente, ao fato de retirarem seus nutrientes da água da chuva e do depósito de material particulado transportado pelo ar, podendo ser utilizados como matriz biológica de deposição atmosférica. Possuem, ainda, outras vantagens que os favorecem como bioindicadores: não possuem cutícula, têm atividade fotossintética e crescem o ano todo, sua morfologia é constante e têm ampla distribuição geográfica.

Caxias do Sul é o segundo maior pólo metal-mecânico do país, com mais de 15 mil estabelecimentos em seu parque industrial, incluindo principalmente indústrias metalúrgicas e galvânicas, que emitem para a atmosfera quantidades significativas de metais pesados.

            Este é um estudo preliminar, de orientação, cujo objetivo principal é verificar a utilização de espécies de musgos como bioindicadores da deposição atmosférica em uma região altamente industrializada no Brasil e, a partir dos dados obtidos, determinar espécies de musgos com melhor indicação dos metais pesados: Pb, Ni, Cd, Cu, Cr e Zn. As metas desta primeira etapa foram: o levantamento das espécies de musgos mais freqüentes em substrato arbóreo, a análise dos metais pesados e a interpretação dos dados através de comparação com os dados do programa Eurobionet.

METODOLOGIA:

Foram feitas duas séries de amostragem. Na primeira série, realizada em 2003, foram coletadas seis amostras na área urbana de Caxias do Sul. Na segunda série foi feita a análise de musgos selecionados do Herbário da Universidade de Caxias do Sul (HUCS), coletados em 1947, 1969, 1983, 1988, 1989 e 1992, de locais situados nos arredores de Caxias do Sul e os resultados foram comparados com amostras de coletas feitas em 2004 dos mesmos locais.

            O substrato foi raspado usando facas e os musgos foram acondicionados em envelopes de papel pardo. Em laboratório, os musgos foram secos em estufa à 45º. A separação de qualquer material não pertencente à espécie foi realizada usando microscópio estereoscópio. O material foi identificado no Instituto de Botânica de São Paulo pela Dra. Olga Yano e tombado no HUCS. As amostras separadas foram maceradas em cadinhos de porcelana, utilizando nitrogênio líquido.

As concentrações dos metais foram avaliadas utilizando parâmetros europeus. A análise em Espectrofotometria de Absorção Atômica (AAS) foi feita seguindo a metodologia proposta por Galsomies et al. (1998), no Centro de Pesquisas Ambientais da Universidade de Saarland (Alemanha), sendo as concentrações destes metais expressas em função do peso seco (mg/Kg peso seco).

RESULTADOS:

Verificou-se uma grande diversidade entre as espécies coletadas em ambas as séries. Nas amostras da segunda série predominaram musgos dos gêneros Orthostichopsis (Pterobryaceae) e Pilotrichella (Meteoriaceae). As espécies Thuidium tomentosum, e Sematophyllum caespitosum, apresentaram os maiores valores de Zn e Cr, respectivamente. Estas duas espécies apresentaram valores elevados para a maioria dos metais.

Para fazer uma comparação com os dados do programa Eurobionet os valores foram classificados em imissão normal, imissão elevada e imissão muito elevada (Siewers e Herpin, 1998). Na primeira série de levantamentos verificou-se deposição muito elevada de Zn, Ni, Cu, Pb e Cr em todos os locais, sendo que o Jardim Botânico, a Praça Dante Alighieri e o Campus da UCS apresentaram as concentrações mais altas. Na segunda série verificou-se aumento de Ni na localidade de Ana Rech, um aumento da concentração de Zn e Pb no Jardim Botânico e valores menores de Ni em Vila Oliva. O único aumento significativo foi verificado em Vila Oliva entre as amostras de 1947-69 e as de 2004, para o Cr.

CONCLUSÕES:

As espécies T.tomentosum e S.caespitosum demonstraram ser as mais indicadas para serem utilizadas como bioindicadores da deposição atmosférica dos metais analisados.

Os resultados da análise mostram uma relação estreita entre os tipos de processos industriais predominantes na região de Caxias do Sul e a composição da deposição analisada em vegetais, podendo servir como base para um monitoramento da contaminação atmosférica por metais pesados. Os dados obtidos podem ser utilizados para indicar o aumento da deposição em geral, porém por falta de conhecimento do tempo de exposição exato dos indivíduos uma classificação, no momento, torna-se impossível. Um dos futuros objetivos do trabalho é verificar a deposição anual no musgo, através da comparação entre a deposição inicial e a deposição final analisadas no mesmo musgo.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: metais pesados; musgos; poluição atmosférica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006