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A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 6. Química Inorgânica

AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE CITOTÓXICA DO ÍON COMPLEXO TETRAAMINOXALATORRUTÊNIO(III) EM CAMUNDONGOS

Sandra Fernandes Calixto  1
Luiz Alfredo Pavanin 1
Carlos E. Barbosa 2
Elisângela de P. S. Lacerda  2
(1. Instituto de química, Universidade Federal de Uberlândia / UFU; 2. Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Goiânia / UFG)
INTRODUÇÃO:

O primeiro dos complexos de metais pesados a ter significativo sucesso no tratamento do câncer foi a cisplatina, introduzido em 1969. Recentemente, foi verificado que complexos de rutênio(III), análogos da cisplatina, têm demonstrado atividade antitumoral sobre diversas linhagens tumorais in vitro e in vivo e demonstrado baixa citotoxidade sistêmica quando comparados com compostos de platina(II). São três as propriedades principais do rutênio que fazem com que seus derivados sejam bem apropriados para aplicações biológicas: (1) taxa de substituição de ligante: muitos compostos resistem às interações com macromoléculas, como as proteínas, ou pequenos compostos doadores de enxofre ou água e, algumas interações são essenciais para induzir as propriedades terapêuticas desejáveis dos complexos; (2) estados de oxidação acessíveis: os complexos de Ru(III) tendem a ser biologicamente mais inertes em relação aos derivados de Ru(II) e Ru(IV). Assim a administração de drogas à base de complexos de Ru(III), poderão ser "ativadas por redução" formando complexos de Ru(II) nos tecidos alvo e (3) habilidades do rutênio em mimetizar o ferro na ligação com certas moléculas biológicas: A baixa toxicidade das drogas de rutênio é explicada pela habilidade que este elemento tem em imitar o ferro na ligação em várias biomoléculas, incluindo a transferrina e a albumina. Em mamíferos, estas duas proteínas são responsáveis pela solubilização e transporte de ferro, reduzindo a toxicidade deste metal. O objetivo deste trabalho, foi sintetizar o íon complexo [Ru(C2O4)(NH3)4]+, caracterizá-lo, purificá-lo e, em seguida realizar a avaliação da atividade citotóxica do composto em macrófagos murinos.

METODOLOGIA:

Adicionou-se 1 grama (3,4.10-3 mols) de [RuCl(NH3)5]Cl2 a 25mL de NH4OH 7,2 mol.L-1. A mistura foi refluxada sob argônio até a dissolução do sólido e aparecimento de uma coloração rosada. A seguir adicionou-se 700mg de ditionato de sódio à solução à quente, havendo o aparecimento de um sólido amarelo creme [RuOH(NH3)5]S2O6. Dissolveu-se o [RuOH(NH3)5]S2O6 obtido em 11ml de ácido oxálico saturado. A solução foi então refluxada havendo o aparecimento de um precipitado amarelo cis-[Ru(C2O4)(NH3)4]2(S2O6). A purificação foi feita através de recristalizações sucessivas. O composto foi caracterizado através da técnica de espectroscopia ultravioleta e visível. O rendimento obtido nas sínteses do íon complexo tetraaminoxalatorutênio(III) foi em média de 41%.

In vitro: os macrófagos foram retirados da cavidade intraperitonial de camundongos e mantidos em meio RPMI, suplementado com 10% de soro fetal bovino e distribuídas em placas de 96 poços com 5 x 105 células/mL em cada poço. Exceto para o grupo controle, foram adicionados, respectivamente, 100m L do composto diluído em meio completo com as seguintes concentrações: 0,01 a 2,5mg/mL do composto. Nos controles, foram acrescentados meio completo. Após 24 horas de incubação a 37oC e 5% de CO2, as células foram analisadas pelo método do MTT,

In vivo: Os animais foram divididos em 5 grupos de 6 indivíduos e, tratados via intraperitoneal (ip) com as seguintes concentrações do composto de rutênio:

Grupo 1: 300 mg/Kg/animal, Grupo 2: 30 mg/Kg/animal, Grupo 3: 10 mg/Kg/animal Grupo 4: 3 mg/Kg/animal, Grupo 5: Controle Negativo (NaCl 0,9%).

RESULTADOS:

Observou-se uma banda característica em 286 nm referente a transição d-d que está de acordo com a descrita na literatura (MARCHANT, 1977)

In vitro: Testes preliminares demonstraram que a dose letal, DL50, citotóxica para macrófagos murinos foi de 0,08mg/mL. Os resultados mostraram que o composto cis-tetraaminoxalatorrutênio(III) nas concentrações variando de 0,16 a 2,5 mg/mL apresentam atividade citotóxica máxima de 70 a 90% sobre macrófagos, enquanto que a atividade do composto em baixas concentrações (0,02 a 0,08mg.mL-1) foi significantemente menor (2,5 a 50%)

In vivo: Grupo 1 (300mg/Kg/animal): Camundongo 1: ptose palpebral em 23 h 45 min; Camundongo 2: sem sintomas aparentes; Camundongo 3: tremor aos 5 min e morte às 24 h. Camundongo 4: convulsão às 2 h 30 min; perda de reflexo às 4 h; ptose palpebral, diminuição da atividade motora e secreção bucal sanguinolenta observado às 23 h 45 min. Morte às 23 h 55min. À análise macroscópica dos órgãos internos notaram-se manchas hepáticas. Camundongo 5: sem sintomas aparentes; Camundongo 6: morte aos 25 min. Grupo 2: 30 mg/Kg/animal: Dois dos camundongos (33,3%) apresentaram fricção contínua do focinho com as patas às 24 h do tratamento. Grupo 3: 10 mg/Kg/animal e Grupo 4: 3 mg/Kg/animal: Sem sintomas atípicos aparentes. Grupo 5: Controle Negativo (NaCl 0,9%): Sem sintomas atípicos aparentes.

CONCLUSÕES:

O complexo [Ru(C2O4)(NH3)4]+ foi preparado com sucesso, e a avaliação da atividade citotóxica do composto em células normais. De acordo com os resultados obtidos concluímos que em altas doses o cis-tetraaminoxalatorrutênio(III) induz alterações comportamentais sugestivas de atividade depressora do sistema nervoso central, mas não acarreta efeitos graves em doses mais baixas. O valor da DL50 encontrada foi 300 mg/Kg/animal. Esse resultado, somado à constatação de baixa citotoxicidade a células normais in vitro e in vivo, permitem concluir ainda que mesmo em fase de finalização dos testes pré-clínicos, visando o estabelecimento de condições seguras para terapia experimental em humanos, dever-se-ão prosseguir estudos visando detecção da absorção, distribuição, metabolismo, eliminação e efeitos desejáveis e indesejáveis da substância.

Instituição de fomento: CNPQ/UFU
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Rutênio; Câncer; Oxalato.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006