A comunidade de macroinvertebrados bentônicos é de fundamental importância na transformação da matéria, ciclagem dos nutrientes e no fluxo de energia. O processo de degradação do material orgânico envolve organismos especializados que se complementam na sua ação (Callisto & Esteves, 1995). No zoneamento ecológico de um rio ou arroio em estado natural, em seu curso superior, predominam os processos de consumo, uma vez que a produtividade própria é extremamente baixa. Desta forma, o ganho de energia provém da matéria orgânica, principalmente de folhas e restos vegetais das margens adjacentes (Vannote et al., 1980, Newbold et al., 1998). O estudo tem por objetivo avaliar a capacidade de degradação da matéria orgânica alóctone por macroinvertebrados através da análise dos grupos funcionais, em três arroios de situação ecológica distinta situados na cidade de Caxias do Sul e empregar os parâmetros físico-químicos para determinar o grau de impacto antrópico dos locais estudados.

O estudo foi realizado em três arroios de situação ecológica distinta, localizados na cidade de Caxias do Sul, sendo dois deles situado na bacia do Complexo Dal Bó e amostrados na primavera e outono, entre 2003 e 2005 e o outro na Cidade Universitária, avaliado a partir da primavera de 2004. Para a observação do processamento natural de matéria orgânico foi utilizado bolsas de folhas confeccionadas com rede de malha de 2 mm, e preso a esta bolsa, uma tela com malha de 1 cm para permitir a entrada dos macroinvertebrados. Empregou-se sete bolsas em cada local (Dal 1, Dal 2 e Arroio UCS) para garantir a retirada de cinco,  uma a cada semana. Estas bolsas foram preenchidas com aproximadamente 5g da espécie Cupania vernalis (Camboatá),  mantendo-se a mesma espécie para os três arroios. As folhas passam por uma pesagem prévia, escolhendo-se folhas grandes e inteiras. Após o período amostrado, o conteúdo das bolsas foi lavado em peneiras, onde  são retirados os organismos e examinadas as folhas, observando seu aspecto e peso. Foi feita então a triagem, contagem e identificação dos macroinvertebrados bentônicos, utilizando bibliografia específica. Todas as amostras dos organismos coletados  foram conservadas em álcool 70% glicerinado. A análise e coleta da água para a obtenção dos dados físico-químicos foram realizadas na terceira semana depois da exposição das bolsas. Após foi  empregado o Índice Químico (IQ) segundo Bach (1980) para a avaliação da água.

Os valores mostram que o processamento da matéria orgânica durante a primavera e o outono no período de 35 dias foi mais significativa no arroio Dal 2 (primavera 2003: 31%; outono 2004: 20%; primavera 2004: 24%), onde foi evidenciada uma maior riqueza de táxons representados pelas ordens Plecoptera,, Trichopetra e Diptera. Os parâmetros físicos e químicos demonstram a ótima qualidade da água do arroio evidenciada pelo elevado valor da mediana do Índice Químico (80). A degradação no Arroio UCS foi de 26% e o IQ foi 70. Neste arroio, os grupos funcionais assemelharam-se aos do arroio Dal 2, mas a composição da comunidade foi distinta, predominando Hyalellidae, Polycentropodidade e Chironomidae. No arroio Dal 1 a estrutura funcional da comunidade evidenciou predomínio de coletores, generalistas, filtradores e raspadores representados por Chironomidae e por Oligochaeta. Neste arroio há dominância de grupos tróficos como predadores e detritívoros o que justifica a menor capacidade de degradação da matéria orgânica (8% e 9%). A mediana do IQ encontrada neste local foi 37, o que comprovou a baixa qualidade da água e a amostragem com táxons de maior sensibilidade a condições extremas de trofia.

A determinação da função dos grupos de macroinvertebrados contribui com o conhecimento das ciclagem da matéria orgânica nos sistemas límnicos. As variações nas condições ecológicas dos arroios influenciam na abundância dos táxons, na composição e, portanto, na estrutura trófica da comunidade, com conseqüências no processamento da matéria orgânica, assim como as variações sazonais das características do habitat  também atuam sobre a comunidade tanto acelerando quanto diminuindo a capacidade de processamento da matéria orgânica pelos macroinvertebrados. Distúrbios do habitat, como períodos de seca, alteram significativamente a comunidade desacelerando a degradação dos restos vegetais.