Partindo de algumas etnografias recentes sobre povos indígenas da Amazônia, o projeto teve como tema principal analisar o xamanismo como um dos operadores centrais dos modelos nativos de sociabilidade. A hipótese maior do projeto era a de que, entre muitos destes povos, esta centralidade permitia ter, nos atributos do xamã, parte importante do fundamento de suas práticas sociais. Tomava-se a “perspectiva xamânica”, e sua capacidade de articulação entre os diversos domínios do cosmos (natureza, cultura e sobrenatureza) como a fonte principal de inspiração para os modos ideais de comportamento social e, também, como definidor do estatuto do propriamente “humano” no mundo. Tomando como ponto de partida as novas teorias sobre “animismo amazônico” (DESCOLA: 1993) e “perspectivismo ameríndio” (VIVEIROS DE CASTRO: 2002) pôde-se delimitar o xamanismo como o operador crucial dos modos de objetificação da natureza e o definidor do “lugar do humano” na relação com os demais agentes do mundo.

O projeto propôs a (re) formulação de um quadro de referências teóricas sobre o xamanismo ameríndio, através de três tipos distintos e complementares de trabalho: leituras e fichamentos de monografias etnográficas; seminários com o orientador, e atualização bibliográfica sistemática, com a criação de um banco de artigos publicados recentemente nos principais periódicos nacionais e internacionais.

Como resultados principais das atividades realizadas, temos o mapeamento, a produção de resumos e fichamentos comparativos das obras selecionadas e a constituição de um banco de dados referenciais sobre as questões do projeto, que alimentarão os desdobramentos das pesquisas, já consignados em projeto de pesquisa do Orientador, aprovado pelo CNPq para o triênio 2005-2008.

O tema proposto pelo projeto permitiu perceber que as diferentes formas de sociabilidade dos grupos ameríndios (os aspectos que regem a moralidade, as visões de mundo, as práticas e os modelos ideais do modus vivendi) estão intimamente ligadas ao xamanismo. Neste sentido, aquilo que vai elaborar e permitir organizar a vida em sociedade será feito em relação à “perspectiva do xamã”, como portador e porta-voz daquilo que seriam os modelos ideais de conduta e comportamento, servindo-se de suas capacidades intrínsecas para fundamentá-los.