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F. Ciências Sociais Aplicadas - 9. Comunicação - 8. Comunicação

CINEMA, EDUCAÇÃO E PROPAGANDA EM ILHÉUS NAS DÉCADAS DE 1920 E 1930

Carolina Ruiz de Macêdo 1
Rosana Elisa Catelli 1
(1. Universidade Estadual de Santa Cruz)
INTRODUÇÃO:

O cinema como meio de comunicação de massa foi utilizado amplamente com objetivos políticos e sociais, a partir de 1920, no Brasil e em diversos outros países. Neste período houve uma extensa discussão a respeito do desenvolvimento dos meios de comunicação de massa e de seus efeitos na sociedade. Intelectuais, educadores e políticos no Brasil passaram a refletir sobre o uso do rádio e do cinema na educação, como meio de formação da opinião pública e constituição da democracia. Entre um dos educadores responsáveis por estas idéias, estava Anísio Teixeira, que implementou juntamente várias iniciativas na Bahia, com o sentido de utilizar os meios de comunicação de massa na educação. Além disso, políticos também se interessaram pela utilização destes meios como propaganda de suas realizações ou de divulgação ideológica. Este artigo visa analisar a documentação desta época a respeito do debate em torno da utilização dos meios de comunicação de massa com fins educacionais e de propaganda política em Ilhéus, assim como as iniciativas concretas que foram realizadas neste sentido, sejam elas de caráter institucional ou de produção cinematográfica.

METODOLOGIA:

Os materiais utilizados foram exemplares das décadas de 1920 e 1930 do jornal Diário da Tarde de Ilhéus, disponíveis do Centro de Documentação e Memória Regional – CEDOC/UESC e no Arquivo Municipal da cidade de Ilhéus. A metodologia consistiu no levantamento de artigos publicados na imprensa sobre o uso do cinema na educação e na propaganda e, posteriormente, em análise das matérias selecionadas com vistas a avaliar o desenvolvimento da atividade cinematográfica na região, com ênfase na produção do cinema documentário. A análise foi feita sempre a partir do discurso da imprensa escrita, relacionando e estabelecendo diálogo entre este e uma bibliografia sobre o tema.

RESULTADOS:

A partir da seleção e análise da abordagem jornalística da imprensa escrita de Ilhéus do período da década de 1930 que se refere à produção cinematográfica regional, é possível refletir sobre os usos sociais e políticos dados aos meios de comunicação de massa na região. No decorrer da pesquisa uma das temáticas mais relevantes pela sua recorrência diz respeito ao cinema enquanto veículo de propaganda, atendendo aos interesses de políticos, coronéis do cacau e empresas que financiavam a produção cinematográfica. Nesse cenário o documentário se configurou como gênero que melhor se adequou à veiculação de mensagens de cunho ideológico, no sentido de divulgação de ideais políticos partidários e empresariais. Pelo cinema local estar atrelado aos interesses desta natureza e sua produção e divulgação dependerem de financiamentos oriundos desses grupos sociais, os filmes podem ser caracterizados como “cavação”. No entanto, além da existência dos artigos sobre o uso do cinema para divulgação e propagação de ideologias, formas de governo ou empresas privadas nacionais, discutia-se na imprensa local a necessidade de incentivar o cinema nacional, repercutia-se os sucessos cinematográficos hollywoodianos, falava-se sobre a importância educativa do cinema, e discorria-se entusiasmadamente sobre as potencialidades do Brasil, incluindo a cinematografia como um ramo promissor financeiramente e útil para a melhoria da imagem do país no exterior.

CONCLUSÕES:
Se forem consideradas as dificuldades implicadas à produção de um filme nas décadas de 1920-1930, pode-se afirmar que a produção cinematográfica de Ilhéus foi considerável durante o período pesquisado. Através do Diário da Tarde foi possível contabilizar a realização de seis filmes documentários na cidade e constatar que a produção ilheense é exclusivamente documental e impregnada de intencionalidade propagandística. O único filme de enredo produzido na cidade de que se tem notícia é “O Descobrimento do Brasil”, dirigido por Humberto Mauro em 1937 e financiado pelo Instituto de Cacau a Bahia. Entretanto, não foi encontrado no Diário da Tarde nenhum relato sobre este. Pode-se admitir, então, a possibilidade de que tenham sido feitos outros filmes que o jornal, por seu caráter partidário, não tenha relatado. Em Ilhéus das décadas de 1920 e 1930, verifica-se que a produção cinematográfica estava atrelada ao panorama político local, uma vez que ao apresentar o desenvolvimento regional expresso em belezas naturais ou progresso, exaltava-se subliminar ou explicitamente a administração pública. O caráter tácito da ação da ideologia política expressava-se assim pela utilização do cinema, que por sua vez propiciava a difusão de mensagens de cunho partidário diluídas no formato audiovisual, o qual impressionava pela ilusão de realidade. Esse aspecto conferia ao cinema o status de uma mídia que proporcionava um contato mais íntimo com a verdade, já que não havia noção clara da existência de uma linguagem que poderia ser manipulada ao ponto de tecer um posicionamento ideológico da narração cinematográfica. Foi possível observar ainda que a imprensa escrita servia de suporte para o cinema, na medida em que o abordava intensamente, auxiliando sua propagação em Ilhéus.
Instituição de fomento: PROIIC - UESC
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Cinema - Ilhéus; Propaganda; Cinema Educativo.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006