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G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura

VAMOS CHEGAR FREGUESIA: COMPRA UM PEIXE E LEVA UM QUILO DE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA".

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO MERCADO MUNICIPAL DE JOINVILLE

Alberto da Silva Ferreira Filho 1
(1. Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE)
INTRODUÇÃO:

A pesquisa buscou entender como foi que o Mercado Municipal de Joinville, espaço de sociabilidades, (re)construído em 1982 com objetivos turísticos e com uma arquitetura que mistificasse a "germanidade" da cidade, transformou-se em um lugar híbrido. Tendo em vista a descaracterização que a cidade sofreu a partir da década de 70, o Mercado Municipal de Joinville é um reflexo dessa transformação e mostra o quanto Joinville é multifacetada, visto que este local é freqüentado por vários grupos, com diferentes identificações e origens. Em 1982, uma grande reforma procurou adequá-lo às novas preocupações turísticas da cidade. A antiga arquitetura açoriana foi colocada abaixo e uma nova, de gênero normando, surgiu em seu lugar, na tentativa de imitar a técnica de construção denominada enxaimel. Quem observasse o Mercado Municipal, após a reforma, poderia mesmo dizer que ele era um belo cartão postal da cidade, refletindo essa tradição cultural que havia sido forjada. No entanto, o seu "interior" não se modificou, pois quem adentrasse o Mercado, a partir de 1997, poderia perceber a diversidade cultural nascendo em um novo espaço: o "Cantinho do Bera". Essa pesquisa visou contribuir com reflexões acerca da heterogeneidade da cidade, pensando nos espaços de sociabilidades, como é o mercado, não apenas como locais de encontro, mas como forma de representar os gostos, as origens e as identificações dos moradores da cidade de Joinville e assim contribuir para a historiografia local.

METODOLOGIA:

A presente pesquisa contou com o aprofundamento da revisão bibliográfica em seu primeiro momento. Através da revisão constatamos de maneira mais profunda as novas idéias e conceitos de identidade, patrimônio, memória, transformações, empréstimos culturais, hibridismo cultural e a própria noção de cultura nas ciências sociais. Após essas leituras, foi feito um aprofundamento da história do Mercado Municipal de Joinville através da análise de reportagens, fotos e documentos obtidos no Arquivo Histórico de Joinville. No meio do Mercado, entre peixes e verduras, há um espaço onde o grupo "Entre Amigos" toca chorinho, MPB e bolero aos sábados a tarde. Para entendermos como se formou esse espaço, que hoje carinhosamente é chamado de "Cantinho do Bera", fizemos entrevistas orais com integrantes do grupo, bem como com alguns comerciantes do local. Queríamos saber quem eram os freqüentadores do Mercado, para tanto, aplicamos 71 formulários, em diferentes dias e horários e tanto em homens como mulheres, contendo questões referentes aos gostos, costumes e origens das pessoas entrevistadas.

RESULTADOS:

Quem entra no Mercado Municipal de Joinville em um sábado pela tarde sem ser avisado do que vai encontrar por ali, pode pensar tudo, menos que está em uma cidade "germânica". Essa constatação pode causar espanto: afinal como o Mercado Municipal de Joinville reúne diferentes pessoas e gostos num mesmo espaço? A nossa hipótese foi reafirmada pela aplicação dos formulários, o qual demonstrou que para os freqüentadores do "Cantinho do Bera", a grande responsável pelo sucesso do lugar é a música, é ela também a única explicação para o equilíbrio entre o ambiente familiar que tem o local e o ar de malandragem. A análise dos 71 formulários mostrou-nos que a maioria das pessoas que freqüenta o Mercado e que mora na cidade é de outras regiões do Brasil. Entre as que nasceram na cidade, poucas são descendentes de alemães, o que reforça a tese de que Joinville não pode ser mais caracterizada como uma cidade germânica, mas sim de migrantes. Realizamos duas entrevistas orais, uma com o Sr. Nelson Alípio, primeiro integrante do grupo "Entre Amigos" e outra com dois comerciantes, para entendermos a gênese do "Cantinho do Bera" como um espaço de sociabilidades. Através das entrevistas, dos formulários, da revisão bibliográfica e do levantamento de documentos fizemos um histórico do Mercado Municipal, proposto nos objetivos do projeto, identificando-o como um espaço híbrido, um reflexo das mudanças sociais de Joinville.

CONCLUSÕES:

A cidade de Joinville não pode ser considerada uma cidade germânica, tendo em vista a descaracterização que a mesma sofreu à partir da década de 70. O mercado Municipal de Joinville é um reflexo dessa transformação e mostra a heterogeneidade da cidade, visto que este local é freqüentado por vários grupos, com diferentes identificações e origens. Essas identificações atravessam fronteiras, como no caso dos primeiros imigrantes que aqui chegaram da Europa, que mesmo tendo um forte vínculo com a sua terra natal e suas tradições acabaram traduzindo suas culturas para o novo local que estão inseridos. Esses indivíduos tornam-se o produto de histórias e culturas interconectadas. As cidades cosmopolitas como Joinville, podem ser descritas como locais de interseções culturais. Essas manifestações culturais acabam se interconectando com outras manifestações de novos indivíduos ou grupos. Dessas misturas ou interseções de elementos culturais é que surgem outras culturas, culturas híbridas. Somos todos traduzidos na verdade, somos o produto de várias histórias e culturas interconectadas. Durante a aplicação dos formulários um entrevistado disse que o Mercado "é um lugar onde todas as culturas se encontram", perguntamos por que ele estava afirmando aquilo, ele disse: "É simples, sou um descendente de italianos, comendo Acarajé e escutando chorinho, numa cidade colonizada por alemães".

Instituição de fomento: Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Joinville; Mercado Municipal; Música Popular.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006