Este trabalho teve por objetivo verificar quais são as ações estratégicas que emergem quando o macro contexto (contextos grupal, organizacional e social) influencia direta ou indiretamente as micro práticas diárias desempenhadas por gestores de organizações familiares, e quais são as conseqüências para a identidade organizacional. Essas organizações se alocam na Feira de Arte, Artesanato e Produtores de Variedades da Avenida Afonso Pena de Belo Horizonte, mais conhecida como “Feira Hippie”. Paula Jarzabkowski (2004) desenvolve profundamente a estratégia sob esse enfoque, considerando que elaborar estratégias é desempenhar micro práticas diárias, onde os resultados são uma síntese entre o relacionamento do contexto grupal, organizacional e social, com o comportamento e decisões dos gestores organizacionais. A pesquisa é relevante para: o desenvolvimento do conceito de estratégia abordado numa perspectiva qualitativa; a compreensão da inter-relação dos conceitos de estratégia e identidade; e para a descrição de um fenômeno artístico-cultural que ocorre há cerca de 40 anos na cidade de Belo Horizonte.

A metodologia utilizada na seleção dos expositores foi de acordo com tempo de permanência na Feira “Hippie” (maior ou igual a 20 anos) e disposição em fornecer a entrevista. Foram realizadas entrevistas com expositores de todos os setores da Feira. Os questionários aplicados foram semi-estruturados e abordou os fatos relevantes desde a história do surgimento da Feira até os dias atuais. Focalizou-se o período de entrada do expositor na feira, questionando-se sua história de vida enquanto expositor. As entrevistas gravadas foram repetidamente ouvidas e criteriosamente transcritas, incluindo falas silenciadas. Foram posteriormente analisadas utilizando análise de conteúdo. Além da gravação, transcrição e análise das entrevistas, neste estudo, procederam-se as etapas de observação dos expositores e suas interações com clientes e funcionários da prefeitura enquanto a Feira “Hippie” estava acontecendo. A etnometodologia sendo aplicado nos termos da etnografia como o fez Samra-Fredericks (2003) foi realizada em parte neste estudo. Naquele estudo, o autor não apenas observou e entrevistou os estrategistas, mas também filmou atividades cotidianas de trabalhadores com o objetivo de registrar o atuar dos estrategistas. Neste estudo, uma aproximação dos métodos etnográficos seria incessantes observações in loco, que foram realizadas na Feira por dois pesquisadores enquanto ela estava ocorrendo, e o registro de práticas e interações dos expositores com a realidade externa a ele.

Dentre outros, verificou-se que são 4 os principais componentes do contexto social que mais influenciam a “Feira Hippie”, sendo eles: a própria Feira “Hippie”; a Prefeitura de Belo Horizonte; a feira da “Madrugada”, uma feira clandestina que ocorre na madrugada do Domingo, dia em que a “Feira Hippie” acontece; e a “moda”, ditada por novelas e desfiles de televisão e também por artigos expostos em revistas nacionais e internacionais. Foram assim considerados como os elementos do macro contexto que se relacionam com as micro práticas dos expositores estudados. Os resultados obtidos indicaram que, em alguns casos, micro práticas serão respostas às ocorrências de elementos do macro contexto – por exemplo, a adesão a uma nova moda. Em outros casos, verificar-se-á que micro práticas influirão ativamente no macro contexto: por exemplo, o plágio de produtos que provoca uma mimetização de barracas – sendo realizado por um elemento do macro contexto, o conjunto de expositores da Feira – frente a elementos do micro contexto, que seriam ações, práticas de diferenciação.

Verificou-se que os níveis macro e micro se relacionam, constituem-se e explicam-se mutuamente (Jarzabkowski, 2004). Elementos do macro contexto, entretanto foram decisivos no que tange à preservação da identidade da "Feira Hippie" (feira de artistas e artesãos). Ao ritmo das mudanças ambientais, a grande maioria dos expositores implementaram estratégias de sobrevivência, reativas a essas mudanças. Tudo isto ocasionou um esfacelamento e até mesmo uma perda da identidade de grande parte dos expositores da “Feira Hippie” e conseqüente descaracterização da Arte e do Artesanato da Feira como um todo.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico / Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais

Trabalho de Iniciação Científica