Durante a gravidez, as transformações físicas, psíquicas, familiares e sociais vivida pela gestante e seus familiares constituem-se fatores de um importante processo adaptativo.  Especialmente, os desconfortos físicos e emocionais, que podem produzir impacto na forma como a gestação é vivenciada.

A assistência à gestante e seus familiares durante o pré-natal pode ser complementada com o desenvolvimento de grupos educativos de promoção à saúde para que se possibilite identificar e atender de forma integral as demandas por cuidados.

Estes grupos podem apresentar objetivos variados de acordo com a abordagem adotada em cada proposta. O emprego de terapias complementares em grupo de gestantes que incluem o trabalho corporal, promove a diminuição dos desconfortos da gravidez, a sensibilidade e correspondente consciência mais profunda do próprio corpo.

Apesar do conhecimento sobre a importância do trabalho corporal durante a gravidez, a diversidade de objetivos e ideologias adotadas nos grupos de gestantes dificulta avaliar o emprego deste recurso de forma sistemática.

A necessidade do conhecimento sistematizado a respeito do emprego de técnicas corporais no desenvolvimento de um grupo de gestantes, na perspectiva dos próprios participantes, motivou a realização desta pesquisa, que teve o objetivo de avaliar a efetividade do emprego de técnicas corporais no desenvolvimento de um grupo de gestantes, conforme a experiência de seus participantes.

O grupo de gestantes foi desenvolvido no setor de ambulatório do Hospital Universitário da USP. Participaram do grupo oito gestantes e quatro maridos, que faziam acompanhamento pré-natal na própria Instituição ou em outra de sua preferência.

Foi utilizada a metodologia da pesquisa-ação, que associa a ação com atividades de pesquisa. As sessões grupais ocorreram com periodicidade semanal entre setembro e novembro de 2004, totalizando nove sessões com a duração média de duas horas.

Após cada sessão era entregue um questionário aos participantes para que registrassem suas impressões a respeito da sessão. O conteúdo verbal de todas as sessões foi gravado e feito sua transformação na forma escrita. Estes dados contribuíram na realização das sessões subseqüentes.

As técnicas corporais empregadas incluíram: massagem, relaxamento, identificação de segmentos corporais tensos, balanceio pélvico, técnica de contração de todos os segmentos corporais e técnicas de respiração. Todas as técnicas visavam, também, a participação ativa dos maridos.

Após a finalização do grupo de gestantes, foram realizadas entrevistas individuais gravadas, com cada participante. As entrevistas foram semi-estruturadas e continham questões norteadoras a respeito da experiência com relação ao emprego das técnicas corporais. 

Os dados gravados nas entrevistas foram transcritos de forma integral e, na seqüência, lidos reiteradamente. A partir disso, foram desenvolvidas categorias e redução de dados.

As categorias explicativas da experiência são apresentadas e os significados nelas contidos são exemplificados por meio de pequenos trechos extraídos dos depoimentos, de modo a resgatar a experiência individual dos depoentes. Este recurso possibilita a sensação de maior proximidade e compreensão da perspectiva das gestantes e seus maridos.

As técnicas corporais promoveram alívio aos desconfortos da gestação, serviram de incentivo à participação nas sessões e foram avaliadas positivamente

Durante a gestação você tem dores [...] estava com problema de circulação, a maneira de fazer os exercícios nas pernas ajudou muito [...] não sumiu as dores, mas aliviou bastante (Teresa);

A inserção da abordagem corporal no grupo de gestantes promoveu o autocuidado de seus integrantes

[...] lá era muito bom [...] no meio de um turbilhão de coisas que estavam acontecendo na minha vida [...] Aí eu me sentia mesmo gravidinha, ninguém me tirava aquele momento ali (Cleide)

O emprego das técnicas corporais no grupo de gestantes intensificou o envolvimento entre os casais e proporcionou a integração dos participantes

[...] eu ajudei muito a Cláudia [...] aquelas massagens na perna pra não inchar [...] nisto aí me senti mais participativo (Rodrigo);

Há limitações no emprego da abordagem corporal no grupo de gestantes e na sua aplicabilidade em domicílio 

[...] mas é aquilo, é tão corrido, sou mãe, esposa, profissional [...] mas tem coisas que se tornam inviáveis (Cleide)

Os participantes do grupo de gestantes valorizaram as técnicas corporais utilizadas, pois puderam constatar benefícios como o alívio às sensações dolorosas, ao cansaço e estresse proporcionados pelas alterações físicas e psicológicas da gravidez.

As técnicas corporais promoveram o autocuidado a partir da consciência corporal mais aprofundada e da constatação da efetividade das técnicas corporais para o alívio dos desconfortos.

Observa-se que muitos grupos estão voltados prioritariamente ao preparo da gestante para o parto, no entanto é necessária uma abordagem mais ampla, voltada ao atendimento integral das demandas das próprias gestantes e seus familiares.

A participação dos maridos contribuiu, para que eles se sentissem mais participativos no processo gestacional, o que aumentou o envolvimento entre os casais. Observa-se que as técnicas corporais estimulam a participação paterna em grupos de gestantes.

A necessidade das práticas regulares das técnicas corporais e a dificuldade de conciliar a realização das técnicas com as tarefas cotidianas foram limitações encontradas no emprego desta estratégia. Alternativas que ajudem a solucionar as limitações enfrentadas, como elucidar dúvidas e incentivar o marido a ajudar suas mulheres no desenvolvimento destas práticas em domicílio devem ser discutidas entre o profissional, gestante e marido para que possibilite uma prática adequada a cada participante.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo/FAPESP

Trabalho de Iniciação Científica