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D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 7. Enfermagem

Percepção das Pessoas Portadoras de Estomias na Atenção aos Direitos como Usuárias de Serviços Públicos de Saúde sob a Perspectiva das Relações Interpessoais com os Profissionais de Saúde

 

Phaedra Castro Oliveira 1
Roseney Bellato 1
(1. Universidade Federal de Mato Grosso)
INTRODUÇÃO:

O estudo se vincula a um projeto de pesquisa maior onde se busca compreender a situação de vida e saúde das pessoas portadoras de estomias enfocando suas necessidades e direitos, com vistas à ampliação de sua cidadania. A partir dos dados obtidos anteriormente foi feito um recorte do objeto de estudo, de modo a ampliar a compreensão dos direitos à saúde a partir da perspectiva das próprias pessoas portadoras de estomia. Com esse olhar o objetivo da pesquisa foi compreender a percepção das pessoas portadoras de estomias e seus familiares na atenção aos seus direitos como usuário de serviços públicos de saúde sob a perspectiva das relações interpessoais que estabelecem com os profissionais de saúde que as assistem no que se refere ao acesso à informação sobre o seu processo de saúde-doença. Entendemos que tal estudo possibilitou a compreensão de quais são as lacunas no conhecimento dessas pessoas em relação aos seus direitos o que nos permite, na continuidade dessa linha de pesquisa, nos voltarmos para a discussão dos resultados obtidos junto aos sujeitos do estudo, de maneira a instrumentalizá-los para a efetivação e ampliação dos seus direitos à saúde e, conseqüentemente, de sua cidadania.

METODOLOGIA:
Os sujeitos da pesquisa foram 22 portadores de estomias (ou seus familiares) que freqüentam o Ambulatório de Estomias de um Hospital Universitário da região centro-oeste. Os critérios utilizados para seleção dos sujeitos foi o de ter idade igual ou superior a dezoito anos (sendo o responsável o sujeito entrevistado em casos de menores), e a aceitação em participar do estudo mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para coleta dos dados foi empregada a técnica de entrevista estruturada, cujo questionário foi aplicado aos portadores ou familiares, durante os meses de fevereiro à maio de 2005. O instrumento de coleta de dados se baseou em documentos que se referem aos direitos da pessoa portadora de estomia, abordando questões referentes a todo o processo de realização e manutenção da estomia, bem como questões relacionadas ao conhecimento que as pessoas portadoras de estomias têm de seus direitos. A análise dos dados colhidos se deu em duas etapas, a primeira delas, referente à análise quantitativa, através da construção de tabelas a partir de tratamento estatístico simples, e posterior análise qualitativa através da técnica de análise de conteúdo.
RESULTADOS:

Ao analisar os dados colhidos observou-se a predominância de pessoas de baixa escolaridade e em situação de risco social, apesar da presença de alguns entrevistados com poder aquisitivo maior. O desrespeito constante de seus direitos é notável, o que pode ser evidenciado através do fato de que apenas um dos entrevistados relata ter participado da escolha do local de realização da estomia. Apesar de todos os entrevistados referirem ter acompanhamento médico constante e serem bem informados a respeito do auto-cuidado adequado com a estomia, o índice de daqueles que têm conhecimento a respeito de métodos alternativos de cuidado ainda é muito pequeno, sendo que esse conhecimento promoveria melhora na sua qualidade de vida. A noção que os portadores de estomia têm acerca de seus próprios direitos, ou até mesmo de legislações não tão específicas como o direito à gratuidade do transporte público a pessoas com mais de 60 anos, é muito pequena, havendo casos em que a pessoa nunca ouviu falar a respeito dos mesmos. Quanto as relações interpessoais com os profissionais de saúde foi constatado que as orientações de cuidado são prestadas, basicamente, pela enfermagem, enquanto aquelas que se referem ao procedimento cirúrgico para a realização da estomia tem sido feitas pelo médico. O acesso à equipe multiprofissional, embora exista, ainda é bastante centrada no médico e na enfermagem o que mostra a permanência de um enfoque clínico do cuidado a essas pessoas.

CONCLUSÕES:
Nota-se, através das entrevistas e da vivência no ambiente onde foi realizada a pesquisa, uma relação muito próxima entre a presença das pessoas portadoras de estomias no Ambulatório com a disponibilidade de bolsas para distribuição o que, embora constitua um direito, aponta para um processo de mero suprimento de uma necessidade imediata, o que nos evidencia a ausência de uma cultura, tanto dos profissionais de saúde quanto dos usuários, voltada para a busca de uma melhor qualidade de vida através de uma ampliação das informações acerca de suas necessidades e direitos, bem como de sua cidadania. Desta forma, veê-se que a preocupação dos profissionais de saúde com as pessoas portadoras de estomias ainda se restringe às questões da patologia, não vendo a pessoa como um todo, ou seja, é dada pouca ou nenhuma ênfase a sua dimensão psicológica, social e cultural. A extensão do desconhecimento dos direitos tanto aquele voltado especificamente às pessoas portadoras de estomias, quanto aqueles que norteiam os usuários do Sistema Único de Saúde nos levam a questionar se pode haver algum tipo de cobrança da efetivação desses direitos por parte de todos os envolvidos, sejam eles profissionais ou as próprias pessoas portadoras de estomia visto que, por não conhecerem aquilo que possa ser, ao menos, reivindicado, quanto mais praticado, não possibilidade de cobranças com relação à busca por um atendimento mais digno, de maior qualidade e de respeito aos direitos já adquiridos.
Instituição de fomento: CNPq/UFMT
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: direito à saúde; estomia; cidadania.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006