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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
DISCURSO E MÍDIA: ANÁLISE COMPARATIVA DO GÊNERO DISCURSIVO CARTA DO LEITOR NOS JORNAIS DOS SÉCULOS XIX E XXI
Agatha Sant`Anna da Costa Franco 1
Maria Carmen Aires Gomes 1
(1. Universidade Federal de Viçosa)
INTRODUÇÃO:

O contato com as seções de carta dos leitores e a escassa presença destas em jornais da atualidade levantaram as indagações que deram origem a esta pesquisa. Para tentar compreender essa ausência de espaço para a voz do público (leitores) dentro de um espaço que é público por excelência (Imprensa) hoje, foi de suma importância o resgate da História da Imprensa no Brasil. Esta contextualização trouxe à tona a reflexão sobre as mudanças históricas na forma de se pensar o espaço público, e em como que este perde seu caráter essencialmente político, tornando-se, a partir da sua mercantilização, “pórtico de entrada de privilegiados interesses privados”(Habermas, 1984). As contribuições teórico-metodológicas de Mikhail Bakhtin (2000) e Norman Fairclough ( 1989; 1992; 2001) contribuíram com as noções de discurso dialógico e discurso como prática social, que só podem ser pensados a partir da compreensão dos momentos históricos em que são produzidos os discursos. Dessa forma, tornou-se possível partir da perspectiva comparativa para compreender o gênero discursivo carta do leitor nos dois momentos aqui propostos, suas características em cada período específico e as mudanças mais significativas que marcam a carta do leitor dos jornais do século XIX e do século XXI.

 

METODOLOGIA:

As propostas teórico-metodológicas que nortearam esta pesquisa e serviram de base para a análise do corpus foram a Teoria Social do discurso (TSD), de Norman Fairclough e os estudos linguísticos sobre gênero discursivo, de Mikhail Bakhtin.

Nosso corpus é composto por cartas de leitores de jornais paulistas , e mineiros  , que circularam durante o século XIX e outros que ainda estão em circulação na atualidade. Estas cartas foiram retiras dos jornais:Correio Paulistano ; A Província de São Paulo;  O Universal; Diário de Minas; Estado de Minas e Estado de São Paulo ( Estadão).

Bakhtin nos proporcionou, através da proposta de análise temática, estilística e composicional,  classificar a carta do leitor enquanto gênero discursivo. Já Faiclough, a partir de sua TSD, concebe que o Discurso é, ao mesmo tempo, modo de ação e de representação do mundo, estabelecendo uma relação dialética entre discurso e estrutura social, numa dinâmica constitutiva em que um é capaz de interferir no outro no sentido de conservar, mudar ou reestruturar. Dessa forma, através dos critérios de produção, distribuição e consumos dos discursos das cartas de leitores nos dois períodos propostos por esta pesquisa, tentamos mostrar como gêneros discursivos devem ser pensados como categoria fluida, e como estes são sensíveis às variáveis sócio-históricas e capazes, também, de interferir sobre elas.

 

 

RESULTADOS:

Como resultado temos: 1) tema, estilo e composição: no século XIX os temas são dos mais variados,enquanto que no século XXI há a presença única de assuntos diretamente relacionados ás editorias fixas dos jornais  Em relação ao estilo temos a oralidade como marca das cartas do século XIX e a linguagem técnica dos manuais de redação como característica marcante no século XXI. A composição das cartas do século XIX é marcada pela liberdade da narração, enquanto que nas cartas de leitores dos jornais atuais o que se percebe é a polifonia,marcando a presença do redator do jornal junto ao leitor.2) Produção, distribuição e consumo: São três critérios correlacionados e que sinalizaram, em ambos os períodos, a forte presença da elite como público leitor e produtor das cartas que circulam nos jornais. 

 

CONCLUSÕES:

O estudo da mídia impressa brasileira no século XIX, mais especificamente o gênero carta do leitor, objeto de estudo desta pesquisa, nos permite entender a Imprensa atual. Tornou-se evidente que o desenvolvimento da Imprensa acompanhou o desenvolvimento do capitalismo industrial e, quando o jornal passou a ser visto como empresa, nos finais do século XIX, a relação estabelecida entre o veículo e o público se alteraram.Notamos que a seleção das cartas na atualidade restringem a opinião dos leitores, podendo moldá-las segundo os interesses dos jornais, o que pode vir a ser feito de forma a reforçar os valores hegemônicos da sociedade e as ideologias dos veículos.Quanto aos critérios propostos pela análise, percebemos que todos eles sofreram alterações, e que estas me mostraram extremamente sensíveis às mudanças de contexto. Quando se refere ao gênero discursivo carta do leitor, Marcuschi (2005) afirma que “há uma diferença sensível quanto à natureza temática, mas há similaridade organizacional e funcional”.             A colocação de Marcuschi é bastante relevante se considerarmos seções específicas e isoladas e somente o contexto atual. Contudo, uma análise mais detalhada permitiu-nos perceber que as mudanças relacionadas ao gênero discursivo carta do leitor foram bastante expressivas tanto nestas três esferas (tema, estilo e composição), quanto nos critérios de produção, distribuição e consumo.

 

Instituição de fomento: CNPQ
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Carta do leitor; Gênero Discursivo; Mídia.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006