Introdução: Esta pesquisa tem por objetivo analisar as dificuldades de adaptação de trabalhadores migrantes e imigrantes às condições de trabalho existentes no Pará e em São Paulo, entre 1871 e 1888. Naquele período, conforme assinala a historiografia brasileira, houve um intenso debate no país acerca da reorganização do mercado de trabalho. Várias medidas foram tentadas no sentido de conseguir uma mão-de-obra que substituísse o braço escravo, sendo que as alternativas variaram de uma região para outra. No Pará, por exemplo, houve tentativas de colonização com imigrantes europeus e migrantes nordestinos; em São Paulo prevaleceram as experiências com trabalhadores estrangeiros. Segundo alguns autores, as políticas imigrantistas resultaram da pressão exercida pelo abolicionismo; para outros, teria ocorrido o contrário. Mais recentemente, uma terceira vertente assinala que tanto o imigrantismo quanto o abolicionismo foram impulsionados pela luta dos escravos contra o cativeiro. Não obstante, com relação aos trabalhadores migrantes e imigrantes raramente encontram-se estudos que focalizam seus interesses e as experiências vivenciadas por eles. Em razão disso, aparecem nesses estudos como se fossem agentes desprovidos de interesses, expectativas e capacidade de ação.

Metodologia: Nossa pesquisa procura focalizar estes sujeitos históricos, através dos Relatórios dos Presidentes de Províncias e de jornais publicados em Belém e São Paulo. Procuramos identificar conflitos envolvendo trabalhadores, empregadores e o governo, bem como as tentativas de solucioná-los. O método de pesquisa utilizado baseia-se nas considerações de Mikhail Bakhtin sobre a análise discursiva. Assim, considera-se que o discurso, ao ser enunciado num dado momento social e histórico, penetra em um meio dialogicamente perturbado e tenso de discursos de outrem, entrelaçando-se com eles em interações complexas. Utilizando esta metodologia, analisamos as demandas dos trabalhadores, suas expectativas e o processo de adaptação nos locais que se estabeleceram. O trabalho está ainda em andamento, motivo pelo qual ainda não apresentamos conclusões.