As glândulas tegumentares dos insetos são de origem ectodérmica, sendo classificadas de acordo com o tipo de célula secretora que as constitui e a maneira pela qual a secreção é eliminada. Em abelhas, as glândulas tegumentares do abdômen devem ter função importante no reconhecimento ou no estabelecimento de dominância das rainhas e são fortes candidatas à produção de feromônios. Em formigas, os estudos envolvendo as glândulas tegumentares abdominais são incipientes, o que justifica a importância deste trabalho.

Neste foram utilizadas sete operárias de Wasmannia auropunctata, uma formiga praga de agrossistema cacaueiro, e três de W. sp aff. rochai coletadas nos municípios de Ilhéus e Jequié (BA). Cinco operárias de W. auropunctata foram utilizadas para a obtenção de cortes histológicos e observação em microscópio óptico. Essas foram fixadas em Bouin, onde permaneceram por 24h. Após esse período elas foram desidratadas utilizando-se concentrações crescentes de etanol (70%, 80%, 90% e 95%), durante dois minutos em cada concentração. Em seguida procedeu-se à embebição em resina JB – 4. Secções com 4 m de espessura foram coradas com hematoxilina e eosina. Cinco operárias ao todo das duas espécies de Wasmannia foram analisadas em microscopia eletrônica de varredura. Estas foram desidratadas com concentrações crescentes de etanol (70%, 80%, 90% e 100%), por um período de cinco minutos em cada uma delas. Posteriormente, permaneceram em HMDS por dez minutos. Após secarem ao ar as amostras foram cobertas com ouro e analisadas em microscópio eletrônico de varredura.

Foram encontradas glândulas tipo III (glândulas unicelulares) nos tergitos e glândulas tipo II (enócitos) nos esternitos. Essas glândulas ocorreram nas regiões do IV ao VI segmentos abdominais das operárias. As glândulas unicelulares aparecem destacadas da epiderme e as do tipo II ocorrem embutidas no epitélio em íntimo contato com a cutícula, mas essas não são epidérmicas e sim de natureza diferente. Verifica-se que a célula glandular tem aspecto arredondado, é volumosa, apresenta núcleo grande, com a cromatina fina, e nucléolo evidente. Observou-se células glandulares esféricas, cada uma provida de um canalículo excretor de natureza cuticular, com uma porção intracelular e uma extracelular, com a presença de uma placa de poros, estreitamente ligada com a cutícula, que estabelece contato com uma glândula unicelular. A célula tipo II observada também é arredondada, tem núcleo desenvolvido, porém o seu citoplasma é homogêneo. As imagens de microscopia de varredura revelaram a presença de poros nos segmentos abdominais considerados, principalmente no IV.

Nas glândulas unicelulares, as secreções produzidas devem ser eliminadas diretamente para o meio exterior via poros presentes na cutícula abdominal, os quais constituem a porção extracelular de um canalículo excretor ou o ponto de contato entre a placa de poros com o meio externo. No caso das glândulas tipo II, as secreções devem ser passadas às células epidérmicas para depois serem eliminadas nas regiões dos poros ou devem ser liberadas na hemolinfa para posteriormente serem distribuídas e eliminadas em determinadas partes do corpo das formigas. Especula-se que os hidrocarbonetos cuticulares, as substâncias mais utilizadas no sistema de reconhecimento em formigas, sejam produzidos pelos enócitos localizados no integumento abdominal, sendo liberados diretamente para compor a cutícula ou estes são transportados pela proteína lipoforina, via hemolinfa, até a região anterior do corpo da formiga, onde ocorre a sua transferência para o reservatório da glândula pós-faringea, localizada na cabeça, com o auxílio das pernas anteriores, e sua posterior distribuição para a superfície corporal do inseto. Possivelmente, as glândulas tegumentares abdominais tipos II e III em formigas devem estar envolvidas na produção de secreções de natureza lipídica, como é o caso dos hidrocarbonetos cuticulares.

Trabalho de Iniciação Científica