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A. Ciências Exatas e da Terra - 7. Oceanografia - 5. Oceanografia
REGENERAÇÃO BÊNTICA DA MATÉRIA ORGÂNICA NAS ÁREAS PROFUNDAS DO ESTUÁRIO DA LAGOA DOS PATOS: SUA RELAÇÃO COM O APORTE ANTRÓPICO E O POTENCIAL DE ACUMULO DE NUTRIENTES NO SEDIMENTO
Rogério Portantiolo Manzolli 1
João Pedro Pinheiro Vieira 2
Ubiratan de Freitas 3
Simoni Zarzur 4
Luis Felipe Hax Niencheski 5
(1. Bolsista de Iniciação Científica FAPERGS; 2. Bolsista de Iniciação Científica CNPq; 3. MSc Departamento de Química/FURG; 4. Dra. Co-orientadora Departamento de Química/FURG; 5. Dr. Orientador Departamento de Química/FURG)
INTRODUÇÃO:
Nos ambientes estuarinos, a regeneração da matéria orgânica (MO) concentra-se na interface sedimento-coluna d’água e, conseqüentemente, o ciclo dos nutrientes acontece em grande parte nesta interface. A regeneração  bêntica (RB) é controlada por fatores físicos, químicos e biológicos, relacionando a decomposição da MO com as condições físico-químicas do sedimento, além da temperatura, da quantidade e qualidade da MO sedimentada, da ressuspensão desta para camada eufótica, do potencial de oxi-redução, da granulometria e da porosidade do sedimento. Neste contexto, ocorre a acumulação e liberação de nutrientes através da água intersticial, denominando os fluxos. Atividades de dragagens em regiões portuárias é um fator antrópico, também intensificador das liberações de nutrientes e outros compostos presentes na água intersticial. A região portuária do estuário da Lagoa dos Patos (LP) está constantemente sendo dragada, podendo causar alterações a qualidade ambiental, no qual a ressuspensão dos sedimentos pode, sob o enfoque químico, liberar nutrientes, metais pesados e outros compostos, aumentando a biodisponibilidade destes. Este trabalho visou analisar a RB das áreas profundas do estuário da LP e quantificar o acúmulo de nutrientes, o qual sendo um estoque em potencial pode ser disponibilizado para a coluna d’água, gerando eutrofização do estuário. A hidrodinâmica deste local assim como as dragagens que se faz necessário ao porto de Rio Grande podem favorecer esta disponibilização.

 

METODOLOGIA:
As amostragens foram realizadas em 2 estações (#) localizados no canal de navegação do estuário da LP (profundidade ≈ 6 - 8 m) com o auxilio de mergulhadores autônomos. A #1 fica ao norte da cidade e, mais distante de aportes antrópicos e, a #2, no Canal da Barra, no Superporto de Rio Grande, sendo este um local que recebe aportes de efluentes domésticos, industriais, portuários e de atividades de dragagem. Foram realizados 8 cruzeiros de amostragem, sendo 4 na #1 (25/11/2002, 09/05, 02/10/2003 e 18/02/2004) e 4 na #2 (10/12/2002, 12/05, 30/09/2003 e 16/02/2004). A técnica empregada foi de incubação “in situ”, com câmaras bentônicas transparentes (CT) e opacas (CO), para quantificar o metabolismo bêntico, em função do consumo de oxigênio pelo sedimento (COS) e dos fluxos de regeneração bêntica dos nutrientes inorgânicos dissolvidos (NH4+, NO2-, NO3-, PO43-, SiO44-). Em todas as incubações foram utilizadas 3 réplicas de cada câmara, visando diminuir a heterogeneidade espacial. Foi medido a temperatura, pH, salinidade, oxigênio dissolvido e alcalinidade in loco. Para análise dos nutrientes, a amostra foi filtrada imediatamente após a coleta, para retirar o material em suspensão (MS), sendo todas as amostras acondicionadas em tubos de polietileno e congeladas em freezer (-18ºC), para posterior análise por absorciometria. Também, foi retirada amostra sedimentar sob as câmaras após a incubação para estimar a clorofila-a.

 

RESULTADOS:
Os valores de COS foram mais elevados na #1, com exceção da primavera de 2002, enquanto que na #2 ocorreram os maiores fluxos de nutrientes, com exceção do SiO44-. Estes dados indicam que ocorreram maiores aportes de MO de origem natural na #1 e, de compostos inorgânicos nitrogenados e fosfatados na #2, provenientes das atividades antrópicas neste local. Uma vez que essas atividades não se constituem em fontes de SiO44- os fluxos desse nutriente não foram elevados. O COS foi mais elevado nas CT, indicando atividades fotossintéticas na interface sedimento-coluna d´água. Os altos fluxos de liberação de NH4+ na #2 eram esperados, devido ao aporte antrópico. Os altos fluxos de PO43- na #2 foram associados ainda ao aumento da salinidade junto à desembocadura do estuário, diminuindo os processos de adsorção de PO43- ao MS, tendo em vista o aumento da competição pelos sítios de adsorção entre este e os ânions abundantes na água do mar. Os fluxos de NO2- e NO3- foram baixos e bastante variáveis, mostrando serem dependentes da intensidade dos processos de nitrificação e denitrificação bem como da heterogeneidade espacial. Em um modelo de qualidade de água, desenvolvido em um estuário eutrofizado, o aumento da produção microfitobêntica tende a diminuir as condições de hipoxia/anoxia na coluna d´água sobrejacente, o COS e os fluxos de liberação dos nutrientes na interface sedimento-coluna d´água atuando como um acumulador de nutrientes na coluna sedimentar.

 

CONCLUSÕES:

Os fluxos de RB de nutrientes foram mais elevados na # 2, devido aos aportes antrópicos e a sua maior proximidade com o oceano, que favorece os processos de floculação. Na maioria das incubações, as CO apresentaram os maiores COS, evidenciando produção primária microfitobêntica nas áreas profundas do estuário da LP, principalmente na #2, provavelmente devido a maior influência de água costeira (floculação) e, aos aportes antrópicos. As altas taxas pluviométricas registradas na primavera de 2002, em virtude do “El Niño”, tiveram efeito marcante nos fluxos de RB, reduzindo de forma significativa os COS e fluxo de nutrientes, devido à redução da camada nefelóide e conseqüentemente da MO associada ao sedimento.  A comparação entre dados pretéritos das áreas rasas, com os dados das áreas profundas (canal de navegação) obtidos neste estudo, mostra que, tanto o COS quanto os fluxos dos nutrientes foram, em geral, mais elevados nas áreas profundas, onde deve haver uma grande capacidade de acumulação de compostos nitrogenados e fosfatados, na água intersticial, constituindo um estoque potencial para a coluna de água. Este trabalho mostra que água costeira tende a intensificar os processos de RB em sistemas estuarinos de alta turbidez, como o caso do estuário da LP, através dos processos de floculação, os quais elevam as taxas de sedimentação do MS, aumentando a concentração dos compostos a serem regenerados na interface sedimento- coluna d´água.

Instituição de fomento: Agência Nacional do Petróleo, FAPERGS e CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: câmaras bentônicas; interface sedimento-coluna d´água; fluxos de nutrientes.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006