Esta pesquisa se inscreve junto ao Portal Ciência em (Dis)curso que tem como objetivo a divulgação da produção científica de instituições catarinenses de ensino e pesquisa através de um material multimídia que inclui textos e áudio-visuais. O que temos observado neste exercício efetivo de levar a ciência para o grande público, ou melhor, para um certo tipo de leitor que não é um cientista, é a complexidade do processo: o texto de divulgação não pode ser hermético se mostrando como uma outra versão de um artigo científico, nem tão pouco pode transformar o tema ciência em notícia, como faz o jornalismo. O que estamos propondo então, nesta pesquisa, é a tentativa de polemizar o processo de divulgação, trazendo para a constituição do material de divulgação do Portal elementos como polissemia, ludicidade, subjetividade, noções que nos aproximem de sentidos produzidos por um discurso mais “artístico”. De fato, o discurso artístico que pode ser caracterizado pela sua qualidade polissêmica e que, portanto, pode ser um discurso sempre aberto ao novo sentido, ao outro sujeito, seria uma interface conveniente, se não bastante produtiva, neste contexto. Além disso, estamos interessados no material de divulgação científica desenvolvido pelo Portal, enquanto material multimídia, pois podemos observar aí a linguagem também no seu aspecto não verbal. Assim, relacionando a linguagem não verbal, com a linguagem artística, buscamos compreender como a linguagem não verbal é “tratada” pelo artístico quando da tentativa de produzir material de divulgação de ciências. 

Partindo dos pressupostos teóricos da Análise de Discurso (Pêcheux, 19669/1975 e Orlandi, 1983,1990,1999) que possibilita compreender a linguagem relacionando-a de forma singular com informações histórico-ideologicas, o trabalho de divulgação feito pelo Portal parte de uma proposta que busca captar a ciência no seu movimento/percurso na busca de um aprofundamento constante, e não como produto acabado e inequívoco que se transforma em espetáculo ao ser interpretado pela mídia. Assim, os materiais de divulgação, sobretudo, aqueles áudio-visuais, são produzidos a partir de roteiros que são preparados por uma equipe multidisciplinar, ou seja, integrantes da comissão editorial do Portal em conjunto com pesquisadores que têm suas de pesquisas divulgadas. Da mesma forma, a execução também conta com a participação de todos, tanto da comissão editorial do Portal quanto dos pesquisadores, que estão envolvidos nas filmagens, na edição, na produção dos textos etc.

A proposta de conjunção dos sentidos de um discurso mais polissêmico, “incerto”, mutável com os sentidos estabilizados da ciência e da mídia, pode resultar numa forma de divulgar ciência que permita o afastamento tanto da “didaticidade” jornalística, quanto do conceito de “verdade absoluta” do discurso da ciência. Dentre os materiais multimídia produzidos até o momento, alguns já podem ser considerados exemplares no que diz respeito a nossa proposta de pesquisa. Estamos conseguindo produzir um sentido mais polissêmico para os áudio-visuais através, por exemplo, da construção de uma face mais humanizada dos pesquisadores com os quais trabalhamos, desmistificando o trabalho do cientista. O registro em vídeo, que é fundamental para o tipo de trabalho de divulgação de ciência feito pelo Portal, é desenvolvido, dentro dessa perspectiva, como um material sempre aberto para a descoberta de uma nova linguagem. Por fim, os resultados práticos que são os materiais produzidos, são novamente convertidos em teoria quando problematizamos o seu sentido enquanto linguagem de divulgação de ciência produzida por nós.

Essa pesquisa, além de buscar através dos materiais produzidos pelo Portal um modo diferenciado de divulgação ciência, pretende problematizar a nossa própria perspectiva de divulgar ciência, questionando a linha limítrofe que possibilita nos utilizarmos da polissemia, da ludicidade, da subjetividade sem cair no hermetismo, ou seja, em sentidos outros tão distanciados de uma memória da ciência que esta não mais seja reconhecida. Buscamos, por isso, um discurso de divulgação que garanta ao não cientista compartilhar certo pré-construído que sustenta o discurso da ciência e que ao mesmo tempo seja mais conseqüentes do ponto de vista histórico, político e social.