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D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 5. Farmacognosia

ESTUDO FITOQUÍMICO E ANÁLISE QUÍMICA PARCIAL DOS POLISSACARÍDEOS DE Caryocar brasiliense Camb. (CARYOCARACEAE).

Wilson Antônio de Sousa 1
Kallynny Sales Sousa  1
Poliana Guerino Marson  1
Sergio Donizeti Ascencio  1
(1. Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA)
INTRODUÇÃO:

A espécie Caryocar brasiliense Camb. pertence à família Caryocaraceae. É uma árvore típica do cerrado brasileiro conhecida popularmente como pequi ou piqui. O fruto é muito utilizado na medicina popular e na culinária da região centro-oeste do Brasil, sendo rico em carotenóides e vitaminas A, C, e E. A casca do fruto é espessa sendo responsável por cerca de 84% do peso total do fruto. É composta por 50,9% de carboidratos totais e possui um valor considerável de fibra alimentar (39,97%), sendo estes superiores aos encontrados em alimentos tradicionais como fubá integral (1,2%) e farinha de soja integral (3,3%). Esta porção do fruto geralmente é desprezada no processo de comercialização, gerando excessivo lixo ao meio ambiente. Entretanto, alguns autores afirmam que a mesma poderia ser utilizada para a fabricação de sabão, ração animal e tintura. Além do interesse agroindustrial, estudos recentes demonstraram que o extrato da casca apresentou uma significativa atividade tripanocida na curva de parasitemia do Trypanosoma cruzi em cobaias. Até o momento, poucos estudos fitoquímicos da casca do fruto de pequi foram realizados. Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo a análise dos metabólitos secundários e análise química parcial dos polissacarídeos presentes na casca do fruto de C. brasiliense visando fornecer dados científicos que possam incentivar a conservação e utilização racional desses recursos naturais, promovendo assim a valorização da espécie.

METODOLOGIA:

Os frutos de C. brasiliense foram coletados de uma população de plantas nativas encontradas no município de Palmas-TO. A coleta dos frutos foi realizada no mês de novembro de 2005. O farmacógeno utilizado para o estudo foi a casca do fruto. A amostra foi submetida a secagem em estufa a 40ºC até o peso constante, em seguida triturada em moinho de facas até redução a pó. O material seco e moído foi submetido a extrações aquosas (meio ácido) e etanólicas para as análises fitoquímicas. A presença de flavonóides foi detectada pelo teste de Shinoda; glicosídeos cardiotônicos pela reação de Keller-Killiani (detecção de desoxiaçúcar) e Liebermann-Burchard (esteróides); saponinas pela produção de espuma persistente em água após a adição de ácido; taninos por precipitação com gelatina 1% e com cloreto férrico 5%; alcalóides com reagentes de Mayer, Dragendorff, Wagner e Bertrand; antraquinonas pela reação de Bornträeger. Para os estudos dos polissacarídeos a amostra seca e moída foi submetida a deslipidificação com metanol/água (7:3) em aparelho de Soxhlet. O material deslipidificado foi submetido à decocção aquosa a 20% (p/v) a 75ºC durante 3h. Os polissacarídeos foram precipitados com etanol, e o volume foi reduzido em rotaevaporador a 60°C. Após este processo, o material foi desidratado com acetona e seco em estufa a 40°C, pesado em balança analítica e os resultados utilizados para os cálculos de rendimento.

RESULTADOS:

Os estudos fitoquímicos demonstraram resultados positivos para saponinas. Estes compostos são glicosídeos de esteróides ou de terpenos policíclicos que apresentam características químicas anfifílica atuando na redução da tensão superficial da água. Resultados negativos para núcleo esteroidal realizado pelo teste de Liebermann-Burchard indica que as saponinas presentes na casca C. brasiliense pertencem à classe triterpênica. Também foi observada a presença de taninos que são substâncias fenólicas solúveis em água e apresentam a habilidade de formar complexos insolúveis com macromoléculas, como proteínas. São particularmente importantes como componentes gustativos, sendo responsáveis pela adstringência de muitos frutos e produtos vegetais. Ainda podem ser úteis na fabricação de couro e como fatores de controle de insetos, fungos e bactérias. Foi detectada a presença de alcalóides com reação positiva para os reativos de Mayer, Dragendorff, Wagner e Bertrand. Resultados negativos foram encontrados para flavonóides, glicosídeos cardiotônicos e antraquinonas. Os polissacarídeos obtidos apresentaram um rendimento de 45% (p/p) em relação à amostra seca. Este material mostrou-se altamente higroscópico, capaz de formar gel de alta viscosidade, com promissoras aplicações biotecnológicas e estão sendo estudados quanto a sua composição química, estrutura e propriedades reológicas onde serão empregadas técnicas cromatográficas e espectroscópicas (CLAE, GLC e RNM13C e 1H).

CONCLUSÕES:

Os resultados obtidos demonstram que a casca do fruto de C. brasiliense representa uma rica fonte de polissacarídeos e de alguns metabólitos secundários com possíveis potenciais farmacológicos e uso industrial. Devido a grande variedade de ações farmacológicas atribuídas a alcalóides, saponinas e taninos presentes no farmacógeno, uma investigação mais detalhada sobre a estrutura química e efeitos biológicos destas moléculas se faz necessária para a possível inclusão desta parte do fruto como matéria prima para a complementação da alimentação animal ou humana. Além disso, o alto rendimento de polissacarídeo com propriedades gelificantes chama atenção para possíveis aplicações biotecnológicas na indústria tais como espessantes de alimentos e/ou cosméticos, veículos para produtos farmacêuticos, entre outros. Desta forma, os resultados apresentados demonstram que a casca do fruto do pequi apresenta um alto potencial agroindustrial, de baixo custo, abundante que pode constituir uma atividade econômica, social e ecológica.

Instituição de fomento: CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE PALMAS - CEULP/ULBRA
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Caryocar brasiliense; Fitoquímica; Polissacarídeos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006