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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada
A ORALIDADE NA PERFORMANCE DO RAP
Cleber Rosso Bicca 1
Alai Garcia Diniz 2
(1. DLLE - Universidade Federal de Santa Catarina; 2. Professora Doutora do DLLE - Universidade Federal de Santa Catarina)
INTRODUÇÃO:

O rap é um grito – grito incomodo, que se faz ouvir, que em sua performance não somente palavras são ditas. As imagens, que nos advém ao ouvir um rap, tornam-no passível de um objeto de estudo, uma vez que a sua performance representa uma realidade, até então desconhecida, silenciosa, fere os olhos e agora adentra os ouvidos daqueles que hesitam em vê-la. E é justamente este o poder do rap: trazer uma realidade do ponto de vista daqueles que a vivem, trazer à tona a fala deste grupo urbano marginalizado. Resgata-se esta poesia da rua, esta mescla de português coloquial, em uma fala suburbana, marginal, típica de jovens, em sua maioria afro-descendentes. O fato de o rap realizar-se diante do interlocutor compreende uma performance e uma prática de oralidade cujo suporte é o corpo.

Este estudo realiza uma abordagem didática da história do rap, do Hip-Hop e de como os caminhos se cruzam. Além disso, pesquisou-se quais as intenções do movimento Hip-Hop e as do discurso do rapper. O percurso utilizado compreende o rap enquanto uma prática de oralidade que é dada pela performance. Pois, ao incorporar assim nas letras o cotidiano, a história, os conhecimentos e os saberes desta comunidade fundam um campo literário que ultrapassa a simples função de meio de comunicação artística e social. “Estudar a oralidade significa refletir sobre um domínio interdisciplinar, particularmente rico e capaz de ampliar horizontes” .

METODOLOGIA:

Utlizou-se o método analítico, a partir da revisão bibliográfica e leituras de letras de músicas de rappers nacionais.
Materiais Bibliográficos: Livros, Dissertações de mestrado, artigos em revistas especializadas disponibilizadas on-line pela Capes, no qual comportam os temas: oralidade, performance e rap.
Materiais Áudio Visual: Cds com as gravações de raps dos rappers selecionados para a pesquisa.
Procedimentos Metodológicos:

a)Levantamento bibliográfico inicial na Biblioteca Central.;
b)Levantamento bibliográfico no banco de teses da USP;
c)Levantamento bibliográfico artigos especializados on-line no site de periódicos da Capes ;
d)Leitura e Fichamento do Material selecionado;
e)Estabelecimento dos critérios para a seleção dos rappers nacionais, e suas respectivas músicas;
f)Análise de letras de Rap.

RESULTADOS:

Através deste trabalho, se percebeu que o rap é um frutífero ramo da grande árvore que é a cultura negra. Desde sua raiz na África, a cultura negra se expandiu a muitos locais através da diáspora africana dos séculos XV ao XIX, cujo principal rotor foi o tráfico de escravos e justamente através de uma dupla diáspora, através dos emigrantes negros do Caribe nos EUA origina-se o rap, pois, com a marginalização deste grupo, a música tornou-se, entre as artes, a melhor forma de serem ouvidos suas reivindicações. Isto ocorre em meados dos anos 60, até culminar com a elaboração do conceito de Nação Zulu por África Bambaataa, entidade que é a representação máxima da cultura negra afro-estadunidense.

Como prática de uma transculturação, a partir de o rap e o ideal Hip Hop chegam o Brasil, que principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, aglutinam as maiores vozes do Rap nacional, que representam em suas músicas o cotidiano de morros e favelas. A análise de letras de cinco grupos de rappers permitiu elaborar um panorama da oralidade na performance dessas canções, bem como pontuar as peculiaridades do rap brasileiro. A oralidade do rap reside justamente no fato dele conseguir resgatar da rua as principais preocupações desta comunidade marginalizada, de transformar a voz das ruas no grito dos excluídos.

CONCLUSÕES:

Ao realizar as análises das letras de cinco grupos, a saber: Racionais MC's, Facção Central, MvBill, Gabriel o pensador e NegraLi, percebeu-se que o rap nacional possui sua base fundada na oralidade. A partir de uma separação entre o rap como gênero musical e o rap como fruto de uma proposta do movimento Hip Hop, apreendemos que a performance do rap com o resgate do cotidiano, sob a forma de crítica à sociedade possibilita que a oralidade aflore. O discurso dos rappers, voltados à suas comunidades ganham repercussão em toda a comunidade marginalizada. Com algumas vozes destoantes, como a de Gabriel, o pensador¸ outras classes são atingidas. As mulheres, com seu discurso no rap, passam a ter uma representação nesse cenário extremamente misógino. O papel do corpo, usado como veículo da performance, abriu um espaço onde percebe-se que a oralidade está intrinsecamente atrelada. Neste corpus analisado entendeu-se que há algumas peculiaridades que identificam o rap nacional, entre eles o papel da família e o uso de símbolos religiosos nas músicas. Abordou-se também que há uma significativa diferença entre o rap mainstream e o rap underground, este ultimo mais associado à comunidade e ao movimento Hip Hop.

Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: oralidade; performance; rap.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006