IMPRIMIR VOLTAR
A. Ciências Exatas e da Terra - 7. Oceanografia - 1. Oceanografia Biológica

Influência de cultivos de moluscos suspensos na biodiversidade marinha

Israel de Souza Valgas 1
Sérgio Netto 1
(1. Laboratório de Ciências Marinhas, Universidade do Sul de Santa Catarina)
INTRODUÇÃO:

A produção de alimentos de origem marinha está passando por um processo transitório. A percentagem de alimentos originados por métodos extrativistas como a pesca, tem oscilado muito nos últimos anos. A aqüicultura surge, deste modo, como uma fonte alternativa e suplementar de alimentos. O cultivo de organismos marinhos, além de contribuir para o suprimento de proteínas de origem animal para a população humana, pode utilizar técnicas simples e de baixo custo. Outra característica do cultivo é a regularidade da produção. Isso é fundamental para o planejamento e correto abastecimento de mercado. O Estado de Santa Catarina é o maior produtor de moluscos marinhos do Brasil. Tipicamente, o sistema de cultivo de moluscos no estado é do tipo espinhel, mantido na superfície por bóias e presa nas extremidades por âncoras, este apresenta a vantagem de manter os organismos continuamente submersos favorecendo seu crescimento e engorda. Atualmente no Brasil, os esforços estão centrados no desenvolvimento tecnológico para o aumento de produção. Porém, o desenvolvimento sustentável desta atividade é completamente dependente da qualidade do ambiente. O comprometimento das áreas de cultivo traria como conseqüência final um prejuízo para a própria produção, primeiramente diminuindo o crescimento, e posteriormente inviabilizando o cultivo. Este trabalho tem como objetivo avaliar a resposta da meiofauna à presença de cultivos de moluscos em áreas sublitorais rasas.

METODOLOGIA:

O estudo foi realizado na Enseada do Brito, município de Palhoça, SC, uma das principais áreas produtoras de moluscos do estado. A Enseada do Brito é uma área abrigada com profundidade média de 3 m. As amostragens foram realizadas em 3 áreas da Enseada do Brito durante o inverno de 2005 e verão de 2006. Em cada área, amostras foram tomadas em pontos localizados dentro dos cultivos de moluscos e em áreas-controle adjacentes, distando cerca de 300 m. Em cada ponto, 3 amostras para análise da meiofauna (2 x 10 cm) e teores de matéria orgânica e granulometria (5 x 10 cm) foram tomadas através de mergulho autônomo. Valores de salinidade, temperatura, pH e oxigênio foram registrados em campo utilizando um multiparâmetro YSI. A As amostras de meiofauna foram lavadas em um jogo de peneiras com abertura de 1 e 0,063 mm, fixadas em formalina 4% e separadas por flotação (Ludox TM 50, densidade específica de 1.15).      Para o sedimento, inicialmente foi determinado o teor de umidade através da pesagem e secagem do sedimento em estufa a 60º C. Teores de matéria orgânica foram determinados posteriormente através da combustão em mufla a 550º C por uma hora. A granulometria do sedimento foi determinada por peneiramento e pipetagem. Análises univariadas (ANOVA) e multivariadas (ANOSIM) foram aplicadas com o objetivo de testar a hipótese de nulidade de que a presença de cultivos não afeta as características dos sedimentos e meiofauna associada.

RESULTADOS:

Variações significativas nos parâmetros derivados das análises de sedimentos entre as áreas de cultivo e áreas-controle foram dependentes do período analisado. No verão, os sedimentos em áreas de cultivo são significativamente menores e apresentam maiores porcentagens de argila e teores de matéria orgânica. No inverno, por outro lado, diferenças nas características dos sedimentos entre áreas de cultivo e controle não foram significativas. A exceção a este padrão de variação foi a percentagem de silte, significativamente maior nas áreas de cultivo em ambas as estações. Foram identificados 11 grupos meiofaunais. Os Nemátoda foram o mais abundante com 78,4% dos indivíduos coletados, seguidos pelos Copépodas com 13,2%. Foram identificados 110 gêneros de nemátodas com densidades máximas de até 2.552 inds.10 cm-2. O número gêneros da meiofauna, assim como a densidade total de nemátodas foram significativamente menores nas áreas de cultivo, independente do período amostral. Já a os valores de densidade e diversidade de nemátodas exibiram quedas significativas nas áreas de cultivo apenas no verão.  Os resultados das análises multivariadas (ANOSIM) mostram, no entanto, que tanto a estrutura da meiofauna como a de nemátodas de áreas de cultivo e áreas-controle adjacentes diferem significativamente em ambos os períodos investigados. A análise mostrou ainda que as maiores diferenças ocorrem no período de verão.

CONCLUSÕES:

Os resultados deste estudo mostraram claramente que, na Enseada do Brito, os cultivos suspensos de moluscos marinhos afetam a biodiversidade da meiofauna, particularmente nos períodos de verão. Nas áreas de cultivo há um incremento das partículas finas de sedimento e um significativo incremento nos teores de matéria orgânica. A fauna bêntica responde a essas alterações originadas pela presença dos cultivos, exibindo um significativo decréscimo no número de espécies, diversidade e densidade. Estes resultados indicam a clara necessidade do aprimoramento do manejo desse cultivo. São duas as recomendações:- alocar os cultivos em áreas mais profundas, possibilitando a diluição da carga de biodeposição; - alterar periodicamente a localização dos cultivos, ainda que em distâncias pequenas. As áreas-controle neste estudo distavam cerca de 300 m dos pontos de cultivo. Uma mudança periódica da posição dos cultivos possivelmente permitiria a recuperação dos fundos sublitorais. Este tipo de prática, usual na agricultura onde culturas passam por um processo de rotação, poderia ser testado para os cultivos de moluscos. Estas medidas, se adequadamente testadas e aferidas, poderiam contribuir decisivamente para a manutenção das qualidades das áreas de intenso cultivo, como na porção da zona costeira estudada.

Instituição de fomento: CNPq/ PADCT/ UNISUL
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: cultivo de moluscos; meiofauna; sedimento.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006