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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

MAPEAMENTO E ANÁLISE DAS INSTITUIÇÕES DE LEITURA FORMAIS E INFORMAIS NA UFG, NO PERÍODO DE 1993 A 2003.

Gilson Luis Costa de Oliveira 1
Orlinda Maria de Fátima Carrijo Melo 1
(1. Faculdade de Educação / FE, Universidade Federal de Goiás/ UFG)
INTRODUÇÃO:

Partindo do projeto de pesquisa, "Universidade Federal de Goiás: Práticas e Representações de Leitura e de Leitores", coordenado pela Profª Dra. Orlinda Maria de Fátima Carrijo Melo, observa-se que as práticas de leituras na universidade percorreram um caminho da submissão e da resistência. Nesse caminho da submissão, foram criados espaços de leitura formais em que leituras e leitores se encontravam dentro de um processo de opressão e de vigilância em que eram selecionadas as leituras permitidas. Ao mesmo tempo, espaços informais de leitura buscavam leituras e leitores que nos meandros da história da clandestinidade, da década de 1960 e seguintes, procuravam escrever uma outra história de leitura para e na UFG, história pautada na resistência da leitura que procuravam leitores: leitores-professores, leitores-alunos, leitores-funcionários. Os estudos feitos têm demonstrado que as práticas de leitura mudam conforme mudam as sociedades e marcam a história das representações e imagens de leitura dos homens. Portanto, a questão da leitura como uma prática cultural tem influenciado o modo de ser e de pensar de vários povos. Sendo assim, algumas questões foram buscadas para o mapeamento e a análise dos espaços de leitura formais e informais na UFG, tais como: Havia leitores na UFG? O que liam? Onde liam? Quando liam? Por que liam? Como liam? Por onde, enfim, começar a buscar os leitores ou não-leitores dessa Universidade?

METODOLOGIA:

A metodologia envolveu um estudo da historiografia sobre o tema, coleta e análise de documentos, de atas e de materiais icnográficos do arquivo da UFG. Os equipamentos utilizados foram gravador e computador. Entrevistas semi-estruturadas com professores, funcionários e estudantes. Os locais utilizados para a coleta e análise dos dados para a pesquisa foram:Biblioteca Central e Setorial Campus I e II, os estacionamentos, as cantinas e faculdades do campus I e campus II.

RESULTADOS:

A busca de respostas para os questionamentos levantados colocou a Biblioteca Central e a Biblioteca Setorial como pontos de partida para o desenvolvimento dessa pesquisa. Assim, meu trabalho se centrou no mapeamento e na análise das práticas e dos modos de leitura presentes nesses dois espaços formais de leitura, (espaços esses usados, especificamente, para a leitura) considerados eixos de formação, informação e prazer dos leitores. Essas bibliotecas são espaços, em geral, freqüentados por diversas pessoas do meio acadêmico e da comunidade para fazerem consultas, leituras e empréstimos de livros. Há poucas práticas de leitura em grupos e isso se deve ao Regimento em vigor da Biblioteca Central e Biblioteca Setorial desde 1980. A leitura individual é feita nas mesas de gabinetes (mesas parecidas com as das eleições) e as outras mesas são destinadas à leituras em grupo. Leituras essas interditadas pelos cartazes afixados nas Bibliotecas Central e Biblioteca Setorial que proíbem o que se chama de "bla, bla, bla". A maioria dos leitores da Biblioteca Central (campus II) e da Biblioteca Setorial (campus I) são alunos da própria UFG que procuram fazer suas leituras utilizando os livros do próprio curso, que são indicados pelos seus respectivos professores. A comunidade em geral (moradores das proximidades) que freqüenta a Biblioteca Central, representa uma parcela menor, e segundo a diretora da Biblioteca Central do período analisado, isso acontece devido "a um certo receio dos leitores de chegar numa biblioteca desse porte (...) a estrutura talvez iniba a pessoa". Por que a estrutura do prédio da Biblioteca Central inibiria os leitores? Não seria o atendimento inibidor já na recepção que os deixaria constrangidos em entrar nesse espaço de leitura? Será que o sistema oferecido pela biblioteca não se torna um dos impedimentos para o leitor utilizá-la, já que requer um conhecimento básico de informática para acessar o acervo? Os demais leitores da Biblioteca Central e Biblioteca Setorial que as freqüentam são professores e funcionários que representam uma parcela bem menor em relação ao número de alunos. Normalmente, os leitores da Biblioteca Central e da Biblioteca Setorial fazem suas leituras durante os intervalos das aulas e após as aulas. Esse mapeamento, no entanto, atravessa esses espaços formais à caça de outros espaços – os informais: que são aqueles nos quais os leitores lêem, de acordo com suas necessidades, seus desejos e suas disponibilidades. Assim, lugares inusitados são procurados por leitores da UFG na busca pela leitura: praças, cantinas, corredores das Unidades, bosque do campus II, hall das faculdades, gramados, pontos de ônibus e caronas, filas do Banco do Brasil e carros. Essas práticas de leitura em espaços informais, motivadas pela obrigação de ler, impostas pelos cursos e também pelo "desejo incontrolável de ler" (Borges, 1983), encontram eco nas palavras de Darnton (1990, p.156) :"O leitor leva livros para o campo e o alto da montanha, onde pode, como Rosseau e Heine, comungar com a natureza". No entanto, as falas dos leitores nas entrevistas deixam claro que eles gostariam de ler em contato com a natureza, mas afirmam que lêem nesses espaços informais por não terem tempo para ler "nos lugares adequados de leitura", por exemplo, na Biblioteca Central, na Biblioteca Setorial e nas salas de aulas. Muitos têm desejo de ler outros livros que não são os do curso, mas a atribulação do cotidiano nega-lhes esses desejos e, assim, eles têm se tornados leitores da leitura exigida e necessária a seus cursos. Leitura possível para esses leitores, além daquela dos seus cursos, são aquelas capturadas nos folhetos, panfletos, bilhetes, cartazes, faixas, murais, revistas, outdoors com que eles se defrontam na realidade em que vivem.

CONCLUSÕES:

Esse projeto de pesquisa sobre a história da leitura na UFG, especificamente, na Biblioteca Central, na Biblioteca Setorial e nos espaços informais que as rodeiam, pretendeu provocar "reações e efeitos de sentidos" (BAKHTIN, 1986), na perspectiva de se pensar esses espaços como espaços norteadores da produção do conhecimento na UFG. Como se pode ver, as práticas de leitura não se efetivam somente nos lugares pré-determinados pelos cânones oficiais. Sabe-se bem que é a partir desses lugares determinados que alunos e professores buscam o conhecimento, mas nem sempre encontram todas as respostas neles. Os leitores vão além, porque a leitura provoca "desejos incontroláveis", como diz Borges (1983), que negam o mundo do preconcebido. Nesse sentido, em todos os espaços de leitura pesquisados, Biblioteca Central, Biblioteca Setorial e espaços informais, a "leitura buscou leitores que gostem dela, concordem com ela, discordem também dela, porque nesse processo de confrontos novos significados são criados" (MELO, 2002). Enfim, pode-se dizer que as práticas de leitura analisadas são fundamentais para a produção do conhecimento, seja no ensino, na pesquisa e na extensão. Acredito que é preciso incentivar o uso das Bibliotecas da UFG, como instituições públicas fundamentais na produção do conhecimento e, para isso, é preciso ouvir os leitores: alunos, professores, funcionários e comunidade.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: espaços de leitura; leitores; universidade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006