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F. Ciências Sociais Aplicadas - 9. Comunicação - 4. Jornalismo e Editoração
A IMPRENSA ALTERNATIVA NO ABC - ESPAÇO PARA O TRABALHO SOCIOCULTURAL DA REGIÃO
Olga Ribeiro Defavari 1
(1. Universidade Imes)
INTRODUÇÃO:

O tema de pesquisa abordado nesta monografia é resultado da percepção de que muitas vezes um trabalho produzido fora dos circuitos convencionais e com menores recursos pode fazer a diferença histórica de uma região, como é o caso da imprensa alternativa no ABC.

Esta pesquisa integra o trabalho desenvolvido pelo grupo Memórias do ABC e, conforme a proposta do projeto, preocupa-se em dar voz aos acontecimentos regionais não registrados pela memória oficial, por meio das histórias de vida de seus personagens.  A monografia resgata uma história de grande relevância para a imprensa e o desenvolvimento do trabalho sociocultural da região.

O que não é oficial muitas vezes não é registrado. O trabalho alternativo não ganha muita importância nos arquivos de registros do ABC. E é justamente da história não contada que trata esta pesquisa.

Segundo José de Souza Martins (1992, p.15), “O subúrbio está proposto, entre nós, como o lugar da reprodução e não como o lugar da produção; como lugar da repetição e não como da criação; como lugar do cotidiano e não da história”.

            De acordo com o sociólogo, esta pesquisa vem certificar que o ABC pode ser considerado um lugar de produção, neste caso, no campo da imprensa alternativa.

 

A história local não é uma história de protagonista, mas de coadjuvantes. É nesse sentido, também, que a escala de tempo da história local não é a mesma escala dos grandes processos históricos. Por isso mesmo, os agentes e personagens da história local não podem captar imediatamente os significados históricos de suas ações, de seu trabalho e, até, de suas lutas. (MARTINS, 1992, p.13).

 

Essa história não está registrada oficialmente e se perde nos arquivos de seus escritores e idealizadores, dos jornais e revistas que muitas vezes tiveram vida efêmera, por falta de verba, pressão de outros jornais, política ou apenas por falta de parceria. É possível certificar, por meio de conversas e depoimentos, que muitas outras idéias de publicações alternativas, não pesquisadas, surgiram nos quartos, escritórios ou reuniões de amigos, mas por um motivo ou outro, não chegaram a circular, de modo a inviabilizar o estudo sobre elas.

A proposta deste trabalho é responder a pergunta: Como se manifestou a imprensa alternativa no ABC?

A pesquisa tem como objetivos principais retratar a história da imprensa alternativa no ABC paulista, destacar seus escritores, suas características, modos de produção e distribuição e apontar de que maneira contribuiu para o desenvolvimento social e cultural da região.

Os jornais alternativos produzidos no ABC tiveram um papel significativo no desenvolvimento, político, social e cultural servindo para incomodar, denunciar, divertir ou divulgar a movimentação artística local.

 

 

 

METODOLOGIA:

A maior parte do conteúdo deste trabalho é feita com base na história oral, já que está inserido no Projeto Memórias do ABC, que faz parte do Programa Institucional de Iniciação Científica do Laboratório de Regionalidade de Gestão da Pró-Reitoria da Pós-Graduação e Pesquisa do Imes – Universidade Municipal de São Caetano do Sul. O projeto, coordenado pela profa. dra. Priscila Ferreira Perazzo, visa reconstruir a história das cidades de Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul, utilizando a técnica da história oral, gravando depoimentos e valendo-se de documentos de pessoas comuns que participaram efetivamente da história.

 Além da gravação dos depoimentos e documentação, os métodos para execução da pesquisa incluem também levantamento bibliográfico sobre o tema, estudo sobre história oral, e no caso específico dessa monografia, a análise das publicações.

A análise das publicações partiu dos conceitos estudados sobre a palavra “alternativa”. Após a seleção do que se considerou inserido nesse contexto, foi feita a análise dos textos, época, modo de produção e comercialização, por meio de entrevistas e conversas informais com seus idealizadores, colaboradores e pesquisadores.

 

 Cabe ressaltar que, este trabalho sobre imprensa alternativa e todos os outros núcleos de pesquisa que integram o Grupo Memórias do ABC têm a história oral como principal fonte de pesquisa. De acordo com Ecléia Bosi (2003,p.15), “a memória oral é um instrumento precioso se desejarmos constituir a crônica do cotidiano. A história que se apóia unicamente em documentos oficiais, não pode dar conta das paixões individuais que se escondem atrás dos episódios”.

A citação configura a importância da pesquisa baseada na história oral e, neste trabalho, as histórias de vida têm muito valor para afirmar a relevância das publicações pesquisadas.

 

 

 

RESULTADOS:

Trata-se de pesquisa em andamento. Foram gravados 6 depoimentos com escritores e jornalistas que atuaram ou atuam na imprensa alternativa no ABC. A partir desses depoimentos e de pesquisas nos arquivos da região foi possível constatar a falta de informações sobre essa parte da história da imprensa local, cujos registros se perdem nos arquivos de seus escritores e idealizadores.

Alguns com vida efêmera por falta de verba ou pressões de vários tipos, os jornais alternativos produzidos no ABC, entre os anos 1970 e 2000, tiveram papel significativo no desenvolvimento político e cultural servindo para denunciar e divulgar a movimentação artística local.

As publicações se dividem em vários segmentos: política (ABCD Jornal e O Jornal Independente), literatura, poesia e cultura (Caderno Abecês, A Cigarra, Jornal da Taturana, O Mutirão, A Tribuna Popular e Livrespaço), música (Rocker) e o movimento feminista (Mulher no ABC). A mais antiga publicação alternativa encontrada foi a revista Tripa, de 1950, que tratava de assuntos diversos de maneira bem humorada.

Esses jornais abrigaram o trabalho de importantes escritores regionais, como Cláudio Feldman, Jurema Barreto, Zhô Bertholine, Dalila Teles Veras, Valdecírio Teles Veras, Antônio Possidonio Sampaio, Vilma Amaro, Tarso de Melo, entre outros.

CONCLUSÕES:

Este trabalho faz um recorte das produções entendidas como alternativas, a partir da perspectiva de que imprensa não diz respeito apenas a publicações de conteúdos ditos jornalísticos ou produzidas por jornalistas. Os veículos pesquisados fazem menção a todo material encontrado, produzido no ABC, que circulou como meio de comunicação impresso no formato de jornal ou revista, entre determinado segmento seja ele literário, musical, político ou social. Dessa forma, as publicações podem apresentar conteúdos fora do ambiente jornalístico e a denominação “imprensa”, pode ser entendida num sentido mais amplo.

A temática da imprensa alternativa no ABC é mais voltada à literatura e à poesia. As mais representativas publicações foram produzidas na cidade de Santo André. São elas: a revista A Cigarra e o Jornal da Taturana. Destacam-se porque, além de divulgar e contribuir para o ambiente cultural da região, ao contrário de muitos alternativos, tiveram vida longa. A Cigarra, produzida desde 1982, continua em circulação.

Outras revistas que fazem ou fizeram parte do circuito alternativo neste cenário, ainda no campo literário são: O Mutirão, Caderno Abecês, A Tribuna Popular e Livrespaço. Estas publicações abrigaram trabalho de importantes escritores regionais, como Cláudio Feldman, Jurema Barreto, Zhô Bertholine, Dalila Teles Veras, Valdecírio Teles Veras, Antônio Possidonio Sampaio, Tarso de Melo, entre outros. Além de expor o trabalho desses autores, as publicações acima serviram para abrir espaço a escritores iniciantes e divulgar seus trabalhos.

O ABC também acolheu jornais de movimentação política, como o ABCD Jornal, que mais tarde se transformou na Tribuna Metalúrgica, O Jornal Independente, que teve apenas quatro edições e fechou por pressão política, e, dando voz ao movimento feminista, o jornal Mulher no ABC.

Para representar o segmento musical, outra vertente dos alternativos, aparece em 1984 o Rocker Jornal, produzido em Santo André.

Instituição de fomento: Universidade Municipal de São Caetano do Sul - IMES
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: imprensa alternativa; história oral; memória.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006