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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 6. Psicologia do Desenvolvimento Humano

A EVASÃO ESCOLAR E SEUS SIGNIFICADOS PARA ALUNOS, PROFESSORES E FAMÍLIA.

José Cláudio Gumier 1
Leila Jorge 2
(1. Aluno de graduação do Curso de Psicologia - Fac. de Ciências Humanas/UNIMEP; 2. Orientadora Profª. Drª. do Curso de Psicologia - Fac. de Ciências Humanas/UNIMEP)
INTRODUÇÃO:

Este estudo surge da resposta do Centro de Estudos Aplicados em Psicologia (CEAPSI-UNIMEP) a uma convocação da Promotora da Infância e Juventude que apresenta dados da evasão escolar no município de Piracicaba. Com a Diretoria Regional de Ensino, Secretaria Municipal de Educação e Conselho Tutelar formou-se um grupo que discutiu a evasão durante um ano. A escola, segunda mais importante instância socializadora na vida dos indivíduos, guarda um significado que ultrapassa aqueles apenas relacionados à sua função de transmitir ensinamentos, passando a definir relações de sucesso ou fracasso na vida das pessoas, com implicações no desenvolvimento do autoconceito e personalidade do indivíduo. As fortes evidências da multideterminação do fracasso escolar não têm sido suficientes porém, para retirar da figura do aluno a responsabilidade por sua evasão do sistema educativo. O significado da evasão como fenômeno restrito ao aluno tem permanecido inalterado. A explicação para isto reside, não na má vontade dos que julgam o aluno, e sim no significado atribuído à evasão. Partindo da premissa que os significados - produzidos na interação social e através dos quais o homem responde ao meio - redefinem as percepções sobre um fenômeno e que reconhecê-los permite ao indivíduo transformá-los, é objetivo deste trabalho: identificar e descrever as percepções de alunos, professores e pais sobre os determinantes da evasão escolar e discutir com os mesmos os significados encontrados.

METODOLOGIA:

A pesquisa foi realizada em uma escola pública da rede estadual de ensino da cidade de Piracicaba. Foram realizadas entrevistas com oito alunos do ensino médio, quatro professores do ensino médio e seis pais de alunos. Alunos e professores foram indicados pelo coordenador pedagógico e os pais foram inicialmente contatados por pessoal da escola: a diretora, um professor e uma inspetora de alunos. Todos aceitaram participar voluntariamente da pesquisa. As entrevistas, individuais e realizadas na própria escola, foram gravadas e transcritas. Sendo entrevistas semidirigidas, iniciavam-se com uma questão central: "Quais os motivos que levam um aluno a desinteressar-se pela escola e até mesmo abandoná-la?". A partir da resposta eram formuladas questões secundárias que visavam identificar ou esclarecer as percepções expressas pelo participante sobre as causas da evasão escolar. Para análise das entrevistas utilizou-se metodologia desenvolvida por Jorge (1996), para definir a natureza das falas (se eram percepções ou indicadores das percepções); as classes de conteúdo das mesmas e classificação de acordo com seu conteúdo. Após descrição das classes de conteúdo a que se referiam as percepções e os indicadores das percepções dos participantes, foram analisadas as relações existentes entre as classes de conteúdo das percepções e seus indicadores.

RESULTADOS:

A análise das entrevistas com os alunos permite identificar as classes de conteúdo a que se referem as percepções e seus indicadores. Tais classes foram agrupadas de acordo com os fatores ou instância social a que o aluno se referia: a) fatores externos à escola; b) ao próprio aluno; c) à família ou à escola/professor. A análise dos dados evidenciou que as percepções dos alunos sobre os determinantes da evasão escolar dizem respeito, sobretudo, a fatores externos à escola ou àqueles relacionados com as características do próprio aluno. Já os indicadores utilizados pelos estudantes para justificar suas percepções dizem respeito, principalmente, à escola, ao professor e ao relacionamento estabelecido entre o aluno e estes agentes no cotidiano escolar. Observou-se ainda que a percepção que atribuía a causa da evasão escolar à "baixa motivação do aluno em relação ao estudo", expressa por quatro alunos (50% do grupo de alunos), foi utilizada como um "rótulo" sob o qual os estudantes parecem acomodar ou incluir uma série de indicadores que não se referem, necessariamente, a atributos do aluno, e sim a fatores, comportamentos e sentimentos que se desenvolvem nas complexas interações professor – aluno, aluno - escola, e não fora delas. Outros três alunos apresentaram percepções diferentes desta, apoiando-as, no entanto, em indicadores semelhantes aos dos quatro primeiros.

CONCLUSÕES:

A análise das entrevistas e a identificação das relações existentes entre as percepções e seus indicadores evidencia que as percepções dos alunos apresentam-se permeadas pelo significado socialmente atribuído à evasão escolar, isto é, de que trata-se de um fenômeno externo às práticas escolares, cujos determinantes devem ser buscados no aluno ou no ambiente social mais amplo. Não é possível atribuir as causas da evasão escolar a fatores simples ou isolados sob pena de esconder a complexa rede de fatores envolvidos. Atribuir apenas ao aluno, sua família ou ao seu meio social, a responsabilidade por suas dificuldades acadêmicas, tem levado a escola a não se reconhecer como lócus onde estas dificuldades são primariamente gestadas e, portanto, como instância na qual deveriam ser prioritariamente solucionadas. Neste sentido, tratar o problema da evasão em âmbitos outros que não o pedagógico pode produzir resultados perversos, como a exclusão do aluno e sua auto-expulsão do sistema educacional, quando este o converte em "aluno-problema". Isto não significa atribuir apenas à escola a responsabilidade por este fenômeno, cujas raízes se encontram na conjuntura externa e nas políticas pensadas para a educação. No entanto, dar respostas contundentes a ele, passa também pela compreensão e discussão dos seus significados, já que, segundo o Interacionismo Simbólico, reconhecer os significados permite ao indivíduo transformá-los.

Instituição de fomento: Universidade Metodista de Piracicaba - Programa de Formação Científica do Discente FAPIC/UNIMEP
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: evasão escolar; interação social; escola e desenvolvimento da personalidade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006