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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
DE INDIVIDUOS A SUJEITOS SOCIAIS: A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE SOCIAL
Daniel Luz Mendes 1
Isaac Soares Bastos  1
(1. Faculdade de Psicologia/ Fonoaudilogia,Universidade Metodista de São Paulo/UMESP)
INTRODUÇÃO:

O Movimento dos trabalhadores sem-terra (MST) tem se apresentado como um
movimento de massas que questiona as estruturas sociais e com um papel
decisivo na construção de uma sociedade mais justa. Apesar de se
auto-identificarem desta forma, sabemos que o sucesso de movimentos
populares como esse depende da formação de sujeitos coletivos, de uma
subjetividade social que possa promover uma transformação efetiva na
sociedade. Tal formação é complexa e se dá num processo de participação no
próprio meio em que indivíduos alienados de sua realidade modificam seus
valores individualistas e formam uma subjetividade social com valores
coletivos visando o bem comum do grupo. Desta forma indivíduos tornam-se
sujeitos sociais conscientes de sua realidade e de seu papel na
transformação social a partir da vivência cotidiana com os demais
integrantes do grupo. Buscamos compreender nesta pesquisa quais os
mecanismos responsáveis pela construção da subjetividade social, ou seja, o
que permite a transformação de valores e de visão de mundo dos indivíduos
que pertencem a um movimento popular e até que ponto tal transformação de
fato se efetiva na vida destes indivíduos e posteriormente no grupo.

METODOLOGIA:
 A pesquisa se centra no estudo de referenciais teóricos da Psicologia,
Psicanálise e Filosofia, em que se busca a compreensão do conceito de
subjetividade, e em visitas realizadas em assentamentos e acampamentos do
MST nas cidades de Cajamar e Franco da Rocha. A pesquisa de campo foi
associada à leitura de materiais produzidos pelo próprio movimento em que
estão presentes relatos dos integrantes, além de reflexão sobre a construção
da identidade do grupo.
RESULTADOS:

A partir da investigação realizada percebemos  que a escola, a construção de uma identidade coletiva, através de uma relação com espaço dos assentamentos/acampamentos, e a participação em ações políticas efetivas como a  ocupação de terras têm sido essenciais no processo de construção da subjetividade social. Este indivíduo que teve uma subjetividade constituída a partir de mediações da sociedade moderna, com valores individualistas, constrói uma subjetividade social após um processo formativo em que adquire noções como comunidade, colaboração, solidariedade e principalmente, coletividade. O sujeito sem-terra se constitui como tal a partir dos momentos históricos que se desenvolvem durante sua trajetória no movimento reagindo às condições sociais que lhe são impostas. Apartir da vivência desses  momentos históricos no interior do movimento os trabalhadores conseguem construir sua identidade sem-terra, pois ao mesmo tempo, que ele se vê como fruto do movimento, se percebe como ator e propulsor do próprio movimento.

CONCLUSÕES:

Concluímos que em sua dinâmica interna o movimento traz algumas ações, que pela sua força de atuação sobre as pessoas que delas participam, podem ser compreendidas como processo sociocultural que possui componentes educativos ou formadores decisivos da identidade dos sem-terra do MST. Segundo Caldart (2004) os movimentos populares trazem na sua essência a capacidade de propiciar as condições necessárias para o indivíduo vincular-se, ou seja, propicia o surgimento do sentimento de pertença, de fazer parte de algo, no entanto, ele não é construído a partir de concepções individuais, e sim a partir da sua participação ativa tendo sempre o coletivo como foco de sua ação. E, em conseqüência dessa participação sua vida ganha um significado pelo fato de estar, de certa forma, identificado com algo. A autora descreve esse fenômeno como enraizamento, talvez a necessidade mais importante e mais desconhecida da alma humana, a sensação de pertença ao coletivo. Pode-se concluir que o fato de estar ou pertencer a um determinado grupo e poder participar de forma ativa, como acontece dentro de um movimento popular, é dar vazão a uma necessidade básica do ser humano e que quando isso se concretiza o individuo ganha um sentido real de existência e passa a constituir-se a partir dessa significação e todos os elementos que fazem parte dela. Se tal processo é concluído forma-se o que podemos chamar de subjetividade social.

Instituição de fomento: Universidade Metodista de São Paulo
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Psicologia Social ; Subjetividade Social ; Movimento Social .
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006