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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada

INSTRUMENTALIZAÇÃO LINGÜÍSTICA E COGNITIVA: ACENTUAÇÃO GRÁFICA

 

Kelly Priscilla Lóddo Cezar 1
Geiva Carolina Calsa 1
Edson Carlos Romualdo 1
(1. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ)
INTRODUÇÃO:
Ensinar Língua Portuguesa para os falantes nativos do português, em nível de senso comum, parece desnecessário. Entre os alunos do ensino fundamental é comum o questionamento sobre o porquê e o para quê são obrigados a freqüentar esta disciplina com uma carga horária equivalente a outras, como a matemática, consideradas mais importantes para sua formação. Para muitos alunos a aprendizagem formal da língua portuguesa é similar à aprendizagem de uma língua estrangeira que é usada apenas no ambiente escolar ou em situações muito especiais com as quais não se identificam. Aparentemente, seu comportamento deve-se ao fato de não compreenderem a função das variedades e modalidades lingüísticas, como a oral e a escrita, tanto em seu registro coloquial, quanto o culto ou padrão. Além disso, o desempenho dos alunos nesta disciplina continua sendo motivo de preocupação para os educadores brasileiros, apesar das mudanças no sistema educacional nas últimas décadas. Revelados por dados oficiais e estudos científicos seu desempenho revela falhas na forma como os conteúdos gramaticais vêm sendo ensinados e aprendidos, em especial, aos envolvidos diretamente na escrita culta ou padrão. Segundo a literatura, a escola tem ensinado conceitos gramaticais incompletos, imprecisos ou incorretos que acabam por não promover a reflexão sobre sua importância para o ato da escrita em suas diferentes modalidades e, conseqüentemente, para a formação ampla e diversificada desses indivíduos em relação à Língua Portuguesa.
METODOLOGIA:
A partir dessas considerações, na presente pesquisa, procurou-se identificar a qualidade de um dos conceitos gramaticais abordados na primeira etapa do ensino fundamental e, estreitamente, relacionado ao domínio da variedade padrão da linguagem escrita: a acentuação gráfica. Para tanto, foram investigados alunos e professores de língua portuguesa de 4ª e 5ª séries de uma escola pública central do município de Maringá/PR. A seleção dessas duas séries deveu-se ao fato de que uma representa o final da primeira etapa do ensino fundamental, enquanto a outra, ao representar o início da segunda etapa, pode confirmar os dados obtidos na primeira. Além disso, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, essas séries são as apropriadas para o ensino do conteúdo investigado. A pesquisa foi desenvolvida por meio de entrevistas individuais e semi-dirigidas com dois professores, um de 4ª série e outro de 5ª série, e 60 alunos, trinta de cada uma das séries e turmas correspondentes aos docentes investigados. Nas entrevistas com os professores procurou-se verificar os conceitos de gramática, acentuação gráfica e tonicidade; com os alunos, além da aplicação de questões relativas a esses tópicos, solicitou-se a resolução de tarefas de acentuação gráfica. Neste trabalho serão apresentados apenas os dados referentes ao conceito de acentuação gráfica.
RESULTADOS:
Os dados revelaram que os professores ao conceituarem acentuação gráfica o confundem com os conceitos de sílaba tônica e tonicidade. Eles trataram os dois conceitos como complementares um do outro e não diferenciaram suas peculiaridades: um refere-se à linguagem falada e o outro à linguagem escrita.  De outra parte, não demonstraram perceber que, embora gramaticalmente afins, esses conteúdos exigem metodologias de ensino diferenciadas. Os dados obtidos nas entrevistas com os alunos revelaram que 100% deles acreditam que a acentuação gráfica é realizada conforme a sílaba mais forte de cada palavra. Constatou-se que para eles a acentuação gráfica está diretamente relacionada à identificação da sílaba tônica dos vocábulos e não ao uso de regras de escrita, ou seja, regras ortográficas. Em nenhum momento os alunos verbalizaram a diferença dos dois conteúdos explicitando, do mesmo modo que seus professores, uma confusão conceitual em relação a tópicos da linguagem falada e da linguagem escrita. Segundo a literatura, não diferenciar estes dois tópicos gramaticais não permite a qualificação adequada dos alunos nas atividades de escrita, em especial no que se refere ao uso da linguagem padrão. Pode-se afirmar que o não domínio desses aspectos pode comprometer o acesso desses indivíduos a uma das variedades da língua, que juntamente com outras os qualifica para a inserção em diferentes contextos sócio-culturais.
CONCLUSÕES:

Do ponto de vista gramatical, os resultados revelaram uma tendência dos alunos em reproduzir os mesmos conceitos de seus professores e, nesse caso, a confusão conceitual entre linguagem falada e linguagem escrita. De uma perspectiva pedagógica, as entrevistas com os professores evidenciaram uma abordagem didática, de caráter tecnicista, incapaz de promover o uso e a compreensão desses conceitos por parte dos alunos. Estudos mostram que a modificação dessa realidade implica, de um lado, a formação teórica qualitativamente superior dos professores nesse campo conceitual; e, de outro lado, o domínio de metodologias de ensino diferenciadas para cada um desses conceitos gramaticais. Somente um ensino dessa ordem é capaz de promover uma ampliação dos recursos lingüísticos e cognitivos dos alunos. O desenvolvimento de um ensino gramatical, ao mesmo tempo, de uso, normativo, teórico e reflexivo parece, segundo a literatura, o mais adequado para ultrapassar a cristalização dos conteúdos gramaticais. O acesso, a compreensão e a reflexão sobre as variedades lingüísticas (oral, escrita, coloquial, culta, padrão) permitem aos indivíduos um melhor discernimento social de seu uso. O favorecimento do domínio de diferentes códigos lingüísticos é capaz de aproximar a escola de sua função igualitária, tanto do ponto de vista social, cultural quanto político, pois para os indivíduos submetidos a esse processo de escolarização a relação entre saber e poder se coloca em um patamar superior.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPQ
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: EDUCAÇÃO; ACENTUAÇÃO GRÁFICA; FORMAÇÃO DE PROFESSORES.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006