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G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil
ZILA MAMEDE: O GÊNERO FEMININO CARTOGRAFADO NA POESIA
Gracineide Pereira dos Santos 1
Joel Carlos de Souza Andrade 1
(1. Univrsedade Federal do Rio Grande do Norte)
INTRODUÇÃO:

 

 O presente trabalho intitulado “Zila Mamede: O Gênero Feminino Cartografado na Poesia”, é fruto de uma pesquisa articulada ao projeto “História e Historiografia: O RN como um Corpo Escrito” que objetiva analisar as produções historiográficas e literárias Norte-Rio-Grandenses e destacar outras possibilidades de pesquisa. Inserido nesta proposta maior, nosso objeto de estudo é a escritora Zila da Costa Mamede, natural da cidade de Nova Palmeira (PB). Tendo residido em Natal (RN) adotou o solo Norte-Rio-Grandense e o fez fonte de inspiração para sua poesia. Religiosa pensava em ser freira, mas desistiu ao se defrontar com a vida destas num convento em Recife. Publicou várias obras, entre elas: “Rosa de Pedra”, “Salinas”, “O Arado”, “Exercício da Palavra”, “Corpo a Corpo” e “Navegos” além de biografias. Em 1985 sua vida foi ceifada, quando se afogou no mar. Dentre suas obras trabalhamos “Navegos” (1978); uma reunião de livros da escritora, analisando como o gênero feminino foi construído nessa obra e os discursos utilizados. A instrução por um longo tempo foi destinada aos homens, contrariando este modelo Zila Mamede ingressou na escrita e através da poesia retratou o espaço, a natureza e o feminino, criando ora um feminino percebido pelo seu olhar observador, ora o seu reflexo, ou seja, a escritora personagem de sua poesia. A realização deste trabalho constitui um passo de suma importância na busca de se compreender a historiografia e a literatura Norte-Rio-Grandenses.

METODOLOGIA:

Metodologicamente na pesquisa foram utilizados os seguintes procedimentos: Realização de reuniões semanais, onde o orientador do projeto fazia uma seleção de textos e livros para que fossem feitas as leituras e fichamentos, somado a isso, eram feitas discussões dos mesmos nas reuniões, onde participávamos ativamente. Além disso, eram selecionadas leituras complementares: artigos de revista e jornais que abordassem a temática da pesquisa. Assim utilizamos diversos teóricos que tecem discussões acerca de Gênero e História. No primeiro momento, foram feitas leituras sobre a autora e suas obras, assim como a pesquisa em sites da internet para colher o maior número de informações sobre a mesma, e termos conhecimento do que já tinha sido produzido até então. Num segundo momento, partimos para o embasamento teórico, nesse processo trabalhamos com a discussão de gênero a partir de vários pontos de vista. São eles: Joan Scott, Adriana Piscitelli, Tânia Navarro Swain e Michel Foucault, As discussões historiográficas giraram em torno das abordagens de Peter Burke, Michel de Certeau, Paul Veyne e José Carlos Reis, que inseridos nas problemáticas da historiografia contemporânea contribuem apontando caminhos e dando inspirações a um trabalho inserido na perspectiva da História Cultural.

RESULTADOS:

A escrita nomeia lugares, dá significado a objetos, constrói modos de pensar e lugares para os indivíduos, permitindo que certas idéias consigam transpor a barreira do tempo e permaneçam adaptadas ou não a contemporaneidade. Desse modo aos ter-mos contato com a obra do autor, mergulhamos no contexto histórico que o mesmo viveu, de suas possíveis angústias e idéias, pois tudo isso são ingredientes que influenciam o autor enquanto produz. Partindo desse pressuposto os resultados obtidos nessa pesquisa foram os seguintes: A partir da pesquisa notamos que a História Norte-Rio-Grandense foi marcada por discursos masculinos, fato que influenciou a poesia de Zila Mamede. Sendo constatado que ao falar de si na poesia, utiliza-se de metáforas que nos ajuda a pensar uma crítica aos valores sociais de sua época. Nesse contexto percebemos que a mesma cria duas possibilidades de imagens do gênero feminino, um quando a mesma fala de mulheres que fazem parte da sua vida ou de um modo geral, atribuindo a ela características atreladas à idéia de dona de casa e mãe, presa aos “fazeres do lar”. E outra quando a mesma tece imagens do feminino, inserindo-se como personagem principal, nesse momento o espaço doméstico não aparece, os elementos da natureza são utilizados para dar voz à mulher; a imensidão do Mar acolhe as suas angústias, colocando-a no espaço leve, onde as conversões sociais não possam mais impedir seus desejos de mudança. 

CONCLUSÕES:

Com o desenvolvimento da pesquisa vimos como a escrita é importante na perpetuação de discursos acerca do feminino e é capaz de influenciar até as produções daquelas que, transgredindo as normas, procuravam tirá-las do silêncio no qual estavam mergulhadas. Percebemos que Zila Mamede faz isso quando escreve o gênero feminino assume uma postura contra a imagem do feminino vigente na época pelas instituições e seus respectivos discursos, construídos e legitimados, mas eles podem ser percebidos nas entrelinhas de sua obra. Assim notamos que sua obra ecoa como gritos de mudança que iam contra o modelo feminino atrelado sempre à clausura do espaço doméstico e a permanência no crepúsculo do silêncio, mas ainda descreve-o; tornando explícito que o homem é sujeito do seu tempo e trás consigo os conceitos e discursos de sua época.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Gênero; História ; Poesia.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006