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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
IMPACTOS DA REESTRUTURAÇAO DO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES PARA A FORÇA DE TRABALHO FEMININA – ANALISANDO O CASO BRASILEIRO NO PERÍODO DE 1994 A 2004.
Elvis Vitoriano da Silva 1
Maria Yoshara Catacora Salas 1
Daniel Gustavo Mocelin 1
Sônia Maria Guimarães Larangeira 1
(1. DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA - UFRGS)
INTRODUÇÃO:
Este estudo tem por objetivo avaliar quais os impactos da reestruturação produtiva do setor de Telecomunicações brasileiro para a força de trabalho feminina deste setor, no período 1994 - 2004. Sabe-se que o setor Telecomunicações passou por profundas transformações a partir da década de 80, que se intensificaram no final dos anos 90. As principais mudanças ocorridas foram: privatização das empresas, abertura do mercado para o capital estrangeiro, fim do monopólio, mudanças de caráter tecnológico e organizacional e intensificação do processo de terceirização. Alguns autores avaliam que estas mudanças trouxeram vantagens para os trabalhadores na medida em que valorizaram as competências técnicas e criaram novas oportunidades de trabalho e emprego. Porém, outros autores argumentam que a reestruturação produtiva colaborou para a fragmentação dos trabalhadores, para a redução do poder de barganha dos sindicatos frente às empresas e, por fim, para a subtração dos ganhos históricos das diversas categorias de trabalhadores. Ainda que se proliferem os estudos sobre as mudanças no mundo do trabalho e sobre seus efeitos para os trabalhadores, pouco se discutiu sobre a situação das mulheres frente a essas mudanças no setor de Telecomunicações. Neste intere, pergunta-se em que medida a reestruturação afetou a força de trabalho feminina do setor no período 1994-2004? Houve mudanças no perfil das mulheres neste período? As mulheres encontram-se em vantagens ou desvantagens em relação ao período anterior à reestruturação?
METODOLOGIA:
Para a realização desta pesquisa foram analisados os dados disponíveis na base RAIS – CAGED do Ministério de Trabalho e Emprego do Brasil. Foram selecionados os seguintes indicadores para avaliar a situação e o perfil das mulheres neste setor: faixa etária, grau de instrução, rendimentos, jornada de trabalho e tempo de emprego. Justifica-se a escolha dos indicadores mencionados porque, através deles, pode-se verificar as mudanças no perfil das mulheres que compõem a força de trabalho do setor e também as condições de trabalho que essas mulheres encontram nesse setor. Para a análise qualitativa foram entrevistados vinte trabalhadores, entre homens e mulheres, das duas principais empresas terceirizadas do Rio Grande do Sul, também foram entrevistados gerentes operacionais e de Recursos Humanos das empresas operadoras de telecomunicações. Buscou-se avaliar nas entrevistas quais as condições de trabalho que as mulheres encontram nas empresas terceirizadas e nas contratantes, qual a rotina de trabalho desenvolvida por elas, quais as relações que elas desenvolvem no ambiente de trabalho e quais as relações que elas têm com o sindicato.
RESULTADOS:
Os resultados indicam uma diminuição na idade média das mulheres, passando de 36 anos em 1994 para 29 anos em 2004.  As mulheres com idade até 29 anos passaram de 22% em 1994, para 58% em 2004. Enquanto as que tinham mais de 30 anos passaram de 78% em 1994, para 42% em 2004. No que diz respeito ao grau de escolaridade verifica-se que o grupo de mulheres com formação média ou superior aumentou de 77% para 98%. Sobre o rendimento médio, os dados demonstram um aumento significativo no grupo de mulheres que ganham até sete salários mínimos por mês, passando de 36% em 1994 para 73% em 2004. Houve uma redução na média salarial no grupo feminino, enquanto em 1996 elas ganhavam em média nove salários mínimos por mês, em 2004 elas passaram a receber apenas seis salários mínimos. Sobre o número de horas trabalhadas semanalmente, observa-se que o percentual de mulheres que trabalham menos de 30 horas diminuiu 12% nesta década; enquanto o percentual de mulheres que trabalham entre 31 a 40 horas tem se mantido. Porém, o percentual de mulheres que trabalham mais de 40 horas aumentou de 23% em 1994, para 33% em 2004. Verifica-se, também, um brutal crescimento no percentual de mulheres que têm vínculos recentes. O grupo de mulheres com menos de um ano de emprego no setor aumentou de 26% para 78%, enquanto o grupo das mulheres que têm mais de três anos diminuiu, de 74% para 22%.
CONCLUSÕES:
Conclui-se, então, que a reestruturação produtiva provocou mudanças significativas no perfil e nas condições de trabalho das mulheres do setor de telecomunicações brasileiro, no período 1994-2004. Nesse contexto, a utilização de novas e mais complexas tecnologias tem influenciado a entrada de mulheres mais novas e mais escolarizadas em relação as que trabalhavam antes da privatização. No entanto, os salários médios têm diminuído consideravelmente, apesar de o ritmo de trabalho ter se tornado mais intenso. As mulheres do setor têm se concentrado, principalmente, nas atividades menos técnicas e nas empresas terceirizadas menos especializadas. Além disso, a curta duração dos empregos e a alta rotatividade podem impedir que as trabalhadoras estabeleçam laços mais fortes entre si e com o sindicato. Ao analisar o setor como um todo, pode-se concluir que houve vantagens do ponto de vista da qualidade e quantidade de serviços oferecidos e também na qualificação da força de trabalho feminina. Porém, analisando a contrapartida das trabalhadoras, percebe-se uma situação de vulnerabilidade, sobretudo, das mulheres com baixa escolaridade e com idades mais elevadas. Passou-se a exigir, das trabalhadoras do setor, o domínio de novas tecnologias e uma produtividade cada vez mais elevada, tanto na quantidade de horas trabalhadas como no ritmo de trabalho, oferecendo menores salários e poucas condições de permanência na atividade.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Telecomunicações; Trabalho; Gênero.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006