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E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 1. Ciência do Solo

TOLERÂNCIA DE FUNGOS ECTOMICORRÍZICOS À PRESENÇA DE DOSES CRESCENTES DE METAIS NO MEIO DE CULTURA

Thalita Gabriella Zimmermann  1
Dianne Galiotto  1
Veturia Lopes de Oliveira  1
(1. Dept. de Microbiologia e Parasitologia/UFSC, C.P. 476, 88040-900 Florianópolis-S)
INTRODUÇÃO:

Devido às atividades de mineração, milhares de hectares são contaminados com níveis tóxicos de metais, diminuindo as áreas disponíveis para atividades agroflorestais. Essa contaminação altera as características químicas, físicas e biológicas do solo, dificultando a regeneração da biodiversidade. A recuperação desses solos pode ser auxiliada pela introdução de fungos ectomicorrízicos que desempenham um papel importante no estabelecimento e crescimento das plantas. Esses fungos promovem aumento da absorção de nutrientes e protegem as plantas contra estresses bióticos e abióticos do solo, dentre estes, níveis elevados de metais pesados. Isso ocorre porque eles podem acumular metais em suas hifas, impedindo que estes alcancem as células do vegetal. Esse efeito benéfico depende da espécie ou do isolado do fungo, sugerindo que alguns são mais eficientes na proteção das plantas. Dessa maneira, utilizar plantas associadas a fungos ectomicorrízicos poderia contribuir para restaurar áreas degradadas. Antes de sua introdução, é preciso avaliar o potencial dos isolados para tolerar teores elevados dos metais. Assim, este estudo teve como objetivo avaliar a tolerância de isolados de fungos ectomicorrízicos a doses crescentes de metais em meio de cultura. Pretendeu-se, com isso, selecionar os isolados mais eficientes para aplicação na inoculação de plantas destinadas a áreas com níveis tóxicos de metais.

METODOLOGIA:

Os isolados testados foram UFSC-Pt116 e UFSC-Pt188, ambos da espécie Pisolithus microcarpus, e UFSC-Ch163, da espécie Chondrogaster angustisporus. Os metais utilizados foram o alúminio,  na forma de hidróxido de alumínio, e o manganês, como sulfato de manganês. Esses compostos foram adicionados separadamente ao meio de cultura MNM (Melin-Norkrans Modificado), de modo a obter as concentrações de 1, 10, 100 e 1.000 ppm de alumínio, e 1, 10, 100 e 200 ppm de manganês. O pH do meio foi corrigido para 5,8 e o meio foi esterilizado em autoclave. Em seguida, o  meio foi distribuído em placas de Petri (20 mL por placa) e semeado com discos de micélio de cada isolado, obtidos de culturas matrizes previamente preparadas em meio MNM, sem metais. Os discos foram depositados no centro de cada placa (1 disco por placa). Para cada combinação fungo-dose foram preparadas 3 repetições, havendo ainda um tratamento testemunha, sem metais, num total de 81 placas. As culturas  foram incubadas a 25±1ºC durante 60 dias, em incubadora BOD. Após 50 dias de crescimento, mediu-se o diâmetro das colônias, e os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Fisher (LSD, p≤0,05). 

 

RESULTADOS:

No estudo com alumínio, na média geral, os maiores diâmetros de colônia foram obtidos com os  isolados UFSC-Pt188, com 7,5 cm, e UFSC-Ch163, com 7,2 cm. O menor valor, 6,9 cm, foi obtido com o isolado UFSC-Pt116. Os dois últimos isolados não diferiram significativamente entre si. Quando compadas as médias gerais relativas às doses, verificou-se que não ocorreu efeito de dose de alumínio. Porém, quando avaliados separadamente os efeitos das combinações dose-fungo, observou-se que o isolado UFSC-Pt188 sofreu efeito de dose, tendo seu diâmetro reduzido quando cultivado a 1000 ppm de alumínio. Os dois outros isolados não foram afetados pela dose. Em relação ao manganês, o isolado que apresentou o maior diâmetro de colônia foi, também, o UFSC-Pt188, seguido  pelo isolado UFSC-Pt116 e, por último, pelo UFSC-Ch163. Os dois últimos não apresentaram diferenças entre si. Para o isolado UFSC-Ch163 ocorreu efeito geral da dose no diâmetro da colônia, com o menor valor médio ocorrendo na dose de 200 ppm, com 5,2 cm, e o maior na dose de 1 ppm, com 7,6 cm. Contudo, quando os resultados de cada isolado foram analisados separadamente, verificou-se que o UFSC-Pt188 e o UFSC-Pt116 não sofreram efeito de dose em seu crescimento, mas o isolado UFSC-Ch163 foi bastante afetado, tendo seu diâmetro reduzido em mais de 50% no meio com 200 ppm  quando comparado com as doses de 0 a 10 ppm de Mn.

 

CONCLUSÕES:

No estudo com alumínio, o isolado UFSC-Pt188 apresentou o maior diâmetro geral de colônia, mas sofreu efeito da dose. Em doses elevadas deste metal, ele não apresentou bom crescimento, o que indica  um baixo potencial para auxiliar no estabelecimento das plantas em áreas contaminadas com elevadas doses de alumínio. Com manganês, esse isolado apresentou o maior diâmetro médio e não foi afetado pela dose. Neste caso, o isolado tem potencial para estudos posteriores na presença de plantas. O isolado UFSC-Ch163 apresentou um bom crescimento nas diferentes doses de alumínio e, além disso, não sofreu efeito da dose, o que é, também, um dado favorável para futuros estudos. Entretanto, com o manganês, o crescimento desse isolado foi reduzido significativamente em altas concentrações. O isolado UFSC-Pt116, embora tenha sido aquele que apresentou a menor média geral no estudo com alumínio e a segunda menor com manganês, foi o único que não sofreu efeito de dose nos dois metais. Isso representa um dado importante, pois, em áreas de mineração, ocorre acúmulo simultâneo de diversos metais, sendo importante que o fungo introduzido seja capaz de tolerar esse tipo de contaminação, para poder auxiliar o estabelecimento das plantas nessas áreas. Outros estudos deverão ser feitos para comprovar a tolerância dos isolados a outros metais assim como para verificar sua eficiência quando associados às raízes, na proteção da planta contra níveis elevados de metais no solo.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: fungos ectomicorrízicos; alumínio; manganês.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006