Os “Grandes Projetos” implantados na Ilha do Maranhão na década de 1980 (ALUMAR e CVRD) são parte da estratégia Estatal de reestruturação econômica daquele período. A presença destes projetos intensificou o processo de migração para esta área, fazendo com que a população das cidades que se localizam na ilha já mencionada crescessem demasiadamente. Seguindo a lógica do processo de urbanização observado no restante do país, a maior parte desse contingente populacional que se direcionou para os municípios da ilha instalou-se em áreas urbanas. Acompanhando esse processo vem a acentuação de uma série de desequilíbrios no espaço urbano destes municípios (problemáticas urbanas). Assim, é nesse contexto que está inserido o município de Raposa, em que destacamos como objetivo de pesquisa a investigação e análise das problemáticas ambientais advindas desse processo de crescimento urbano pós década de 1980. Dessa forma o presente estudo torna-se um importante elemento de pesquisa para a comunidade acadêmica no âmbito das questões urbanas e, especificamente, de caráter ambiental, assim como proporciona a possibilidade de interpretação e crítica dos processos ali observados por parte da sociedade civil organizada (movimentos sociais/ambientalistas), servindo assim de instrumento para a proposição de políticas públicas que atendam as necessidades criadas a partir destes problemas.

Para a realização desta pesquisa fez-se necessária a consulta e análise de fontes documentais oficiais e jornalísticas disponíveis em órgãos públicos (Federais, Estaduais e Municipais) e bibliotecas, além de consultas a bibliografias especializadas. Também como procedimento metodológico, foi utilizado trabalho de campo, para a captação perceptiva das problemáticas ambientais a serem estudadas. De acordo com a proposta metodológica utilizada por nós, foram destacados as principais problemáticas ambientais identificadas no município. Durante estas atividades de campo foi produzido extenso material fotográfico que proporcionou uma valorosa forma de demonstração dos problemas ali investigados. Estes passos, anexados aos dados biogeográficos e limnológicos fornecidos em relatórios do LABOHIDRO/UFMA tornaram possível à finalização do trabalho, chegando aos objetivos anteriormente mencionados.

Os resultados obtidos apontaram que o acentuado crescimento urbano experimentado pelo município de Raposa, a partir do início da década de 1980, quando este ainda era apenas um distrito do município de Paço do Lumiar, deu origem a várias problemáticas ambientais, além de acentuar as já existentes. Seguindo-se a proposta metodológica destacamos, como principais problemas ambientais, a deposição de resíduos sólidos em áreas impróprias, próximas às residências, inclusive em manguezais; a falta de rede de esgotos e o conseqüente lançamento de eflúvios domésticos sem tratamento direto as áreas de mangue, o desmatamento dos manguezais, seja para venda de madeira, seja para construção de casas na área, caso em que, constantemente, é acompanhado de aterramento. Deve-se ressaltar que o fato de as principais problemáticas ambientais do município estarem relacionadas às áreas de manguezal não se dá por acaso. O maior aglomerado populacional e a sede do município encontram-se próximo (quando não sobre) áreas de mangue, o que intensifica o processo de degradação. Todavia, deve-se lembrar que, além da falta de infra-estrutura urbana adequada, a falta de consciência ambiental por parte da população também serve de mecanismo propulsor deste quadro de degradação ambiental ali identificado, no entanto, esta questão, por si só, compreenderia um estudo em particular devido sua magnitude e complexidade.

As problemáticas urbanas, acentuadas após as décadas de 1970 e 1980 no Brasil, com o processo de intensa urbanização vivido no país, são conseqüências diretas da falta de um planejamento eficaz, voltado não somente para questões econômicas, mas também para atender as necessidades da população no que tange à habitação, saúde, educação e, no caso específico deste trabalho, às questões ambientais. Com isso, pode-se inferir que problemas como os do município de Raposa somente poderão ser sanados com políticas públicas eficazes voltadas para a questão da qualidade de vida das populações, acompanhadas de intenso trabalho de educação, incluindo-se a educação ambiental, e de uma legislação rígida e que seja efetivamente cumprida, sem ser refém dos interesses da economia e seus agentes.