A cultura nacional exerce significativa influência sobre o comportamento dos indivíduos. Cada indivíduo apresenta padrões de pensamento, sentimentos e potenciais para a ação, aprendidos via socialização, refletindo valores e princípios culturais que atuam direcionando ações individuais e as relações interpessoais.

A cultura nacional, dessa forma, se manifesta em todos os âmbitos de uma organização, embora grande parte das teorias organizacionais tome como referência a cultura Norte Americana. Assim, esse estudo visa gerar insights sobre os impactos da cultura brasileira na liderança com foco no conceito de liderança carismática, uma vez que ela pode ser considerada uma liderança natural, mais relacionada a fatores sócio-culturais que influenciam no comportamento do líder.

Quanto ao desempenho dos funcionários encontramos a cidadania organizacional atuando de forma significativa na sobrevivência e alcance dos objetivos organizacionais. Ainda, podemos considerar que a cidadania é uma resposta do próprio individuo ao meio em que ele está inserido, e que pode sofrer influência da relação que este mantém com seu superior/ líder. Dessa forma, seu estudo torna-se relevante.

Em suma, os objetivos desta pesquisa são: 1. Investigar a percepção da liderança carismática; 2. Investigar efeitos da identificação do subordinado com o líder no seu desempenho; 3.Observar percepções sobre a cultura brasileira e 4. Observar diferenças na dinâmica e intensidade das relações estudadas.

1. Escolha do Questionário e suas Escalas - O questionário montado tem por objetivo coletar dados pessoais do respondente e dados sobre percepções e opiniões acerca de liderança, cultura nacional – valores e práticas -, e intenção de desempenho extra-papel (cidadania organizacional).

Escalas utilizadas:

Liderança - Os itens saíram da escala do Bass de 1989 [Bass, B. M. (1989). Evolving perspectives on charismatic leadership. In J. A. Conger, & R. N. Kanungo (Eds.), Charismatic leadership, the elusive factor in organizational effectiveness (pp. 40-77). San Francisco, CA:Jossey-Bass Publishers].  (Valores entre 1 e 7).

Cultura - House, R. J.; Hanges, P. J.; Javedan, M.; Dorfman, P.W.; Grupta, V. (2004) Culture, Leadership And Organizations - The GLOBE Study of 62 Societies : Sage Publications.

Através dessa escala, mediremos cinco dimensões da cultura nacional (Distância do Poder-PD, Aversão à Incerteza-UA, Individualismo x Coletivismo-IND, Diferença na Igualdade dos Gêneros-GND e Orientação Futura-FO).  (Valores entre 1 e 7).

Cidadania Organizacional - modificada para investigar as intenções, já que o original Smith, Organ e Near (1983) foi criado para investigar o comportamento de cidadania organizacional observado. (Valores entre 1 e 5).

2. Criação do questionário on-line usando o websurvey;

3. Recrutamento dos Respondentes - através de e-mail, esperando obter um total de setenta questionários.

4. Obtenção dos resultados, através de análises estatísticas feitas no software SPSS 13.

Do total de 68 questionários coletados, apenas 43 foram utilizados pela análise. O critério de corte foi: tempo de subordinação ao chefe >= 1 ano.

A amostra utilizada apresentou as principais características: idade média 33 anos, 63,6% de homens; 86,4% cursando mestrado; 65% com chefe do sexo masculino, concentração nos níveis hierárquicos de gerente e supervisor e 87,9% de empresas com fins lucrativos e 53% de empresas de grande porte.

Nesta amostra, não encontramos relação significativa entre CO e liderança analisando regressões e correlações. Observou-se que mulheres subordinadas a mulheres tenderam a avaliar suas líderes como mais carismáticas (média 5,88) do que as demais combinações.

Considerando correlação significativa a partir de 0,30, temos: experiência x idade - 0,50; educação x idade - 0,36; sexo chefe x idade - 0,31; sexo chefe x experiência - 0,44; funcionários x educação - 0,44; tempo chefe x experiência -  0,41; CO x funcionários - (-0,37); CO x experiência - 0,33.

Quanto à cultura brasileira: 1. a percepção da cultura na prática converge para a média, menos para IND (4,74); 2. a dimensão GND apresentou a mesma média (3,31) para a percepção na prática e de como deveria ser; 3. a distância do poder na prática apresentou média (4,48) bastante superior à percepção de seu nível desejável (2,56). Correlacionando as dimensões culturais com liderança e CO, obtemos que IND na prática se correlaciona com a liderança (-0,34) e ausência de correlação entre a CO e a cultura.

Em princípio, diferentemente do esperado, não há relação entre liderança carismática e cidadania organizacional, fato este que nos mostra que a predisposição para o CO não é fruto da percepção de liderança carismática.

Notamos que de acordo com o sexo do subordinado e do seu chefe a percepção de liderança carismática sofre influência, mostrando que há uma diferente interação entre os sexos e uma tendência de mulheres subordinadas a mulheres perceberem mais a liderança carismática.

Em relação ao CO, concluímos que a sua incidência é maior em empresas de pequeno porte, e que a predisposição a esse comportamento aumenta quanto maior a experiência dos respondentes.

Considerando a percepção da cultura brasileira na prática, temos uma sociedade onde há: tendência à desigualdade entre os membros da sociedade de acordo com poder, status, riqueza e bens materiais; tolerância média a incerteza e a ambigüidade; tendência positiva de manter alta inter-relação entre os membros da sociedade; leve ênfase no modelo masculino; e onde o encorajamento e recompensas dados a comportamentos com orientação futura não são significativamente altos ou baixos.

Apenas, o grau observado de individualismo na prática, no caso, a tendência coletivista da sociedade brasileira, se correlaciona com a percepção de liderança carismática, fato este que nos leva a crer que quanto mais a sociedade valoriza as interações entre seus membros, mas tendentes são os indivíduos de reconhecer um líder carismático.