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C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 1. Anatomia Vegetal

ESTUDO ANATÔMICO DE Ipomoea pes-caprae (L.) R. BROWN (CONVOLVULACEAE).

André Luís de Gasper 1
Luana Gabriela Schwarz Holetz 1
Karin Esemann de Quadros 2
(1. Graduando junto ao Depto de Ciências Naturais, Universidade Regional de Blumenau; 2. Dra. do Depto de Ciências Naturais, Universidade Regional de Blumenau – FURB)
INTRODUÇÃO:

A família Convolvulaceae tem distribuição principalmente tropical, com representantes em climas subtropicais e temperados. São plantas em geral lianescentes, ocorrendo também na forma de arbustos e arvoretas.

Ipomoea pes-caprae (L.) R. Brown, também conhecida como salsa-da-praia, é uma planta perene, com um sistema caulinar de ramos longos, que podem atingir até 40 metros de comprimento.

É uma espécie estolonífera, freqüente no pós-praia e duna frontal em toda a região tropical e em regiões temperadas quentes. São registradas duas subespécies: I. pes-caprae ssp. pes-caprae, com distribuição limitada ao Oceano Índico e I. pes-caprae ssp. brasiliensis, com distribuição pantropical, exceto no Oceano Índico; na costa atlântica seu limite norte é registrado para o Golfo do México até a Louisiana.

I. pes-caprae é uma das halófitas mais comuns e amplamente distribuídas, sendo um dos melhores exemplos conhecidos de dispersão oceânica, com sementes flutuantes que não são danificadas pela ação da água do mar.

Tendo em vista a necessidade de implementar o conhecimento anatômico sobre a família Convolvulaceae para uma melhor compreensão das suas estruturas, de se descrever a anatomia e estabelecer uma comparação ecomorfológica, este trabalho teve como objetivo analisar a estrutura anatômica de I. pes-caprae ssp. brasiliensis.

METODOLOGIA:

Foram coletados espécimes de Ipomoea pes-capre ssp. brasiliensis na Praia de Gravatá, Navegantes, SC, em março de 2005.

Raízes, caule jovem, folhas, botões florais e flores, frutos imaturos e maduros foram fixados em FAA (Formol a 40%, Ácido acético glacial e Álcool a 50%) por 24 horas e conservados em álcool 70%.

No laboratório foram confeccionadas lâminas histológicas com cortes transversais e longitudinais de todos os órgãos, feitos à mão livre, com lâmina de barbear; estes foram clarificados em hipoclorito de sódio, lavados em água destilada, corados com azul de astra e safrania, desidratados em série etanólica e montados em lâminas semi-permanentes. As análises foram feitas em microscópio fotônico Zeiss. Análises macroscópicas de algumas estruturas, como botões florais, flores e frutos foram feitas em microscópio estereoscópico Zeiss. As imagens foram capturadas com máquina digital Sony P-93 acoplada aos microscópios.

RESULTADOS:

Raiz: epiderme uniestratificada, ainda presente na região com periderme já em formação. Córtex com 12-15 células de espessura, algumas contendo substâncias fenólicas. Endoderme com estrias de Caspary e periciclo uniestratificado.  Xilema primário hexarco e floema primário com 6 cordões, crescimento secundário inicial.

Caule: epiderme uniestratificada, células pequenas e cúbicas. Felogênio em atividade nos caules mais velhos. Colênquima com 2-4 camadas de células. Parênquima cortical de células isodiamétricas, algumas com substâncias fenólicas. Estruturas secretoras presentes na periferia. Feixes vasculares pequenos com crescimento secundário formando um cilindro em anel completo. Medula ampla, com muitos idioblastos contendo substâncias fenólicas.

Pecíolo: epiderme uniestratificada, com células pequenas e cúbicas. Colênquima angular, mais abundante na região adaxial. Parênquima de preenchimento com células maiores na região central; estruturas secretoras presentes. Sistema vascular em crescimento primário, disposto em meia-lua.

Folha: isolateral e anfiestomática; estômatos paracíticos ao mesmo nível das demais células epidérmicas; tricomas esparsos, pequenos, em depressões da epiderme da face abaxial. Parênquima paliçádico de 2 camadas de células em ambas as faces. Parênquima lacunoso com 6-7 camadas de células, com poucas lacunas pequenas.

Flor: Metaclamídea, pentâmera, prefloração imbricativa contorcida, isostêmone, bicarpelar e gamocarpelar, dois óvulos em cada um dos dois lóculos, placentação axial.

Fruto: cápsula com quatro sementes, estas com dois cotilédones bilobados.

CONCLUSÕES:

A espécie é caracterizada, na região litorânea, por possui plântulas fanerocotiledonares com cotilédones

Suas raízes principal e secundárias penetram no solo em maior profundidade do que as raízes da maioria das outras espécies. Em função da necessidade de maior proteção na areia, as raízes desenvolvem periderme já quando ainda jovens.

A planta é, geralmente, imune ao soterramento, quando não são atingidas as extremidades dos ramos, o que leva a crer que I. pes-caprae é muito importante para a fixação da areia das dunas. Seu caule apresenta grande quantidade de parênquima, cortical e medular, o que lhe confere maior flexibilidade.

Por ser uma das espécies sujeitas à ação mais rigorosa dos fatores ambientais da duna frontal, suas folhas ficam em posição vertical, apresentando parênquima paliçádico em ambas as faces. Sendo este tecido rico em cloroplastos e responsável pela fotossíntese, pode, desta forma, aproveitar melhor a luminosidade e evitar um contato direto com a areia e a água do mar.

Instituição de fomento: Universidade Regional de Blumenau
 
Palavras-chave: Ipomoea pes-caprae; anatomia; Convolvulaceae.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006