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G. Ciências Humanas - 5. História - 11. História

LA POLACA: A ESTÂNCIA DO MEDO

Sabrina Steinke 1
Ronaldo Bernardino Colvero 1
(1. Departamento de História / PUCRS Campus de Uruguaiana)
INTRODUÇÃO:
Neste trabalho pretendemos analisar o final da década de 1970, no Brasil e na Argentina, com a finalidade de relacionar a Operação Condor com a Estância La Polaca, localizada em Paso de Los Libres – Argentina. Para este efeito, teremos que pontuar as ditaduras na América Latina e a influência Norte-Americana na implantação destas para, enfim, compreendermos o contexto da Operação Condor e a importância daquela Estância Argentina nos desaparecimentos ocorridos durante o final da década de 1970. O Golpe de estado no Chile, em 1973, foi o primeiro ato para o início de uma “guerra ao terrorismo”. Para Pinochet os terroristas eram forças políticas com ideologias comunistas. Então, o Chile começou uma “varredura” dos apoiadores de Allende dentro do país e em toda a América Latina. Este era o objetivo da Operação Condor, que consistia em uma rede de informações sobre pessoas e organizações ligadas a subversão. A Operação Condor pode ser dividida em três fases: a primeira tinha o intuito de “trocar” informações entre os países participantes (Chile, Uruguai, Argentina, Bolívia, Paraguai e Brasil), através das suas agências de inteligência. A coordenação ficou centrada no Chile, sob a chefia de Contreras, que era também chefe da DINA (Dirección de Inteligencia Nacional), Na primeira fase fora utilizada a melhor tecnologia da época, inclusive computadores e microfilmes. Caracterizada a primeira como fase de informação, as duas seguintes foram de operações, ou seja, de ações.
METODOLOGIA:
Para encontrar a metodologia mais adequada ao desenvolvimento do trabalho, realizamos um recorte temporal, que irá permitir uma melhor análise dos fatos que fazem parte do objeto. Dessa forma, será estudada especificamente a segunda fase dos “Anos do Condor” e relacioná-la com a descoberta da Estância La Polaca, localizada em Paso de Los Libres – Argentina, fronteira com Uruguaiana – Brasil. Para tanto, a metodologia é baseada na seleção das fontes documentais em Arquivos Históricos na Argentina e no Brasil, assim como na leitura de bibliografias que contenham discussões acerca das questões que envolvam as ditaduras implantadas nos países da América do Sul, efetuando-se sempre a crítica interna e externa das mesmas.
RESULTADOS:
As evidências de tortura na estância La Polaca, somadas as ações da segunda fase da Operação Condor, nos indicam que realmente esta serviu de “base” para prender, torturar e desaparecer com ativistas, subversivos, enfim, com os alvos das ditaduras militares que tanto temiam que tomassem o poder. Essa visão do governo ditatorial pode-se, inclusive, considerar exagerada já que os grupos opositores e civis revoltados com a situação, não dispunham de material bélico, e estavam mais preocupados com ideologias do que com revoluções e tomada de poder através das armas. O golpe militar na Argentina ocorreu em março de 1976, coincidentemente, é a partir daí que as ações da Operação Condor, já em sua segunda fase, sofre uma variação, atingindo seu apogeu. O número de desaparecidos políticos neste período no Chile, Brasil e Argentina tem uma variação quantitativa bastante significativa: no Chile, foram em média cinco mil desaparecidos em 17 anos de ditadura; no Brasil, em 21 anos ditatoriais tem-se uma média de trezentos desaparecidos, enquanto que os desaparecidos na Argentina, em 7 anos, passam de trinta mil.
CONCLUSÕES:

Concluímos que este número elevado de desaparecidos deve-se a dois fatores principais: o primeiro se refere ao número elevado de ativistas que a Argentina recebeu até a implantação do regime militar em seu país. Como as repressões aumentavam gradativamente na América Latina, e a Argentina ainda não estava sob o governo militar, esta serviu como um refúgio para os “subversivos” latinos. O segundo fator é decorrente da implantação da ditadura e da fase dois da Operação Condor simultaneamente. O que ocorre a partir disto é uma “caçada” a todos os refugiados e argentinos que pudessem representar “perigo” à dominação ditatorial, não só na Argentina, mas na América Latina em geral, de 1976 à 1983. Nesse período, a Argentina seguiu a coreografia norte-americana já executada pelos outros países latinos que aderiram a governos ditatoriais. Um fato a ser levado em consideração e, que vai nos aproximar da Estância La Polaca, foi a realização da Copa do Mundo de Futebol em 1978, na Argentina. Como poderia um país com tantos guerrilheiros receber delegações de todas as partes do mundo? O caso é que, mesmo com vários grupos de guerrilha se comprometendo a não fazer qualquer tipo de manifestação durante o período da Copa do Mundo, o governo pediu apoio para a Operação Condor que, então, começou a procurar lugares para deter os elementos subversivos. Logo, o aluguel de estâncias longe da capital federal, Buenos Aires, de preferência nas fronteiras, era o mais adequado.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: La Polaca; Ditadura Militar; Argentina.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006